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Veto ao plástico pode turbinar juta e malva

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11/10/2021

GIOVANNA MARINHO

A proibição de sacolas plásticas, uma tendência mundial, tem potencial para alavancar a produção e industrialização de fibras naturais como a juta e a malva O Amazonas é o maior produtor nacional dessas culturas, que tiveram seu apogeu na década de 1970, declinaram em função do uso de polietileno, e atualmente, pela falta de investimentos perde cada vez mais espaço para o mercado asiático.

É justamente dessa região do globo que vem o projeto mais ambicioso desse mercado Devido ao forte apelo da questão ambiental nos países europeus, onde a redução do plástico já é traduzida em lei, a Índia avança para suprir o mercado de sacolas de Juta que pode movimentar até US$ 3 bilhões até 2024, segundo o Research and Markets.

Contemplado pelo mesmo clima quente e úmido da Linha do Equador, o Amazonas, apesar de dominar o mercado nacional, ainda está distante do vislumbre indiano A produção em pequena escala, hoje, é feita por agricultores familiares em áreas que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, variam entre um e quatro hectares.

Cerca de 1,5 mil produtores trabalham com essa atividade, entre cooperativas e indústrias, conforme dados do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas Idam O volume de produção da safra 2020/2021 das fibras juta e malva foi de 4 mil toneladas.

IMPASSES

Membro da Federação das Indústrias do Amazonas Fieam e ex-proprietário da antiga BrasJuta, Sebastião Guerreiro indica que são vários os impasses para a exploração industrial das fibras no Estado, pois a cadeia está desestruturada.

Segundo ele, apesar do apoio recente do governo estadual, o maior entrave é a falta de sementes que atualmente são compradas do Pará. "Na gestão do governador atual houve o pagamento de subvenções atrasadas pelos governos anteriores e também passou a pagar esse benefício ao produtor dentro do mesmo exercício Isso ajudou muito o produtor e, coincidentemente, está semana foi paga a produção da safra 2020/2021. [Com isso] R$ 3 milhões foram injetados no interior", reforçou.

Além disso, de acordo com Guerreiro o mercado interno encabeçado por duas indústrias que beneficiam a fibra de juta e malva, situadas em Manaus e em Castanhal, no Pará, também são dependentes da importação de fibra da Ásia.

O ex-secretário de Produção Rural do Amazonas e professor da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade do Estado do Amazonas Ufam, Eron Bezerra, destaca que além da necessidade de produção de sementes, há um apelo pela industrialização dos processos no setor.

Como destravar os gargalos do setor

  • Produção local de sementes. Hoje as sementes são compradas do Pará
  • Tecnologia para beneficiar a fibra por meio da mecanização da cadeia produtiva
  • Incentivo população mais jovem do campo a empreender no setor
  • Garantir renda mínima ao produtor para evitar que ele busque explorar outros setores econômicos

Frase

Essa possibilidade de substituir tudo por sacolas de juta é possível, não só é possível como é altamente benéfico para a humanidade.

Eron Bezerra - Ex-titular da Sepror

TRABALHO MANUAL

Hoje o trabalho para a extração das fibras de juta e malva é realizada de maneira manual. A primeira etapa é feita nas áreas de várzea com o plantio. Em seguida a colheita e submersão da planta na água, em um processo conhecido como maceração, para que sejam separadas as fibras e, por fim, as peças são secas ao sol para depois serem enviadas indústria.

"É um trabalho bruto e desumano. Muita gente fica com reumatismo, doenças de articulação, fungos e ficam expostos a ataques de jacarés. Como profissional da área e como ambientalista que sou, eu entendo que é preciso verticalizar a produção e agregar valor ao produto primário", acrescenta Eron.

Para fortalecer essa cadeia produtiva no Estado, Bezerra afirma que é necessária uma união de esforços para além das competências estaduais, mas com a colaboração federal e da academia, para o desenvolvimento de novas tecnologias que permitam descorticar as fibras de forma moderna. Essa possibilidade de substituir tudo por sacolas de juta é possível, não só é possível como é altamente benéfico para a humanidade, para a sociedade e principalmente para incrementar uma cadeia produtiva na qual o Amazonas é o maior produtor nacional, reforçou Eron Bezerra.

Lei antissacolas causou polêmica

Enquanto a discussão sobre a distribuição das sacolas plásticas se propaga pelo mundo, a sociedade amazonense, especialmente em Manaus, começa a dar os primeiros passos no caminho da sustentabilidade, mesmo com legislações feitas em meio a atropelos. Na Assembleia) Legislativa do Estado, o PL 474/2021, de autoria do deputado João Luiz (Republicanos deve receber ajustes na próxima quinta-feira, 15, após uma reunião da Comissão de Defesa do Consumidor CDCALE-AM Já a polêmica Lei Municipal n 4852021, que proíbe a distribuição gratuita de sacolas plásticas por estabelecimentos comerciais, aguarda a sansão deu ma emenda, que dá mais um ano para que consumidores e empresários possam se adequar legislação, após uma enxurrada de críticas atuação dos vereadores que aprovaram o textos em ouvir a sociedade. O prefeito David Almeida Avante, durante entrevista na quinta-feira, não deixou claro se pretende ou não sancionar a emenda, falou sobre a questão ambiental, sobre melhor comunicação com a sociedade e reforçou o poder autônomo do Legislativo. Na primeira aprovação, David não sancionou a medida, deixando a promulgação nas mãos dos vereadores.

Em números

R$ 0,55 centavos de subsídios são pagos aos produtotes de juta e malva amazonenses a cada quilo de fibra comercializado, de acordo com o Idam. O amparo é fomentado pelo Governo do Amazonas por meio de lei de incentivo.

Cerca de 1,5 mil produtores trabalham com essa produção de fibras no Amazonas, entre cooperativas e indústrias, conforme dados do Idam.

DEFASAGEM

O economista Ósiris Monteiro, apesar de reconhecer a importância histórica da cultura de fibras para o Amazonas, que na década de 1960 representar um terço do PIB Produto Interno Bruto estadual, não acredita na possibilidade do mercado local acompanhar a demanda internacional, devido a defasagem nos processos produtivos.

Segundo Osíris, o cultivo de juta e malva, diferente de outros ramos do setor agrícola brasileiro, ficou para trás no quesito tecnológico e devido falta de investimento em pesquisas que pudessem solucionar a falta de mecanização da cadeia produtiva, o Estado perdeu espaço para os asiáticos, exemplo do que ocorreu com a borracha da Amazônia no século XIX. "Similarmente, perdemos a hegemonia de mercado para a Malásia por volta de 191214 desde que as sementes foram transportadas daqui para a Londres e depois ao Sudeste asiático. Não vejo, por conseguinte, devido a essas graves limitações, como o Amazonas possa vir a acompanhar lucrativamente uma eventual onda de consumo de sacolas confeccionadas em fibras de juta e malva", opinou o economista.

Para fomentar a produção das fibras, o Idam está implantando Unidades de Observação UOs de produção de sementes nos municípios de Manaus, Manacapuru e Parintins Em Manaus, a UO foi instalada na Fazenda Experimental da Universidade Federal do Amazonas Ufam para colheita de sementes.

Angelus Figueira - DEPUTADOE EX-PREFEITO

Manacapuru é o que mais produz juta e malva no Brasil

Líder na produção agrícola no Amazonas, segundo o IBGE, o Município de Manacapuru também domina a produção de juta e malva no Brasil. Em 2020, foram mais de 2,8 mil toneladas dessa cultura, ficando frente de outras localidades do Médio Solimões, onde as condições climáticas são favoráveis como Coari 450, Anori 450, Codajás 350 de malva e Caapiranga 29 e Beruri 22 de juta. Quem conhece essa realidade é o deputado estadual Angelus Figueira (DC), que foi prefeito do município. Ele ressalta a necessidade de discussão com a sociedade sobre o consumoconsciente. Isso é o futuro. O Município de Manacapuru é o maior produtor do Brasi lde Juta e Malva. "Ele caiu muito, mas tem a vocação nesse sentido. Isso vai ser um grande avanço, porque quando você vê a Índia sendo um dos países mais poluidores do mundo tomando esse caminho é o que o mundo vai seguir. Você vê 40% da população mundial com escassez de água e isso precisa ser debatido pelos amazonenses.

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