23/06/2020
Fonte: Acrítica
Jakeline Xavier
A indústria de produtos não
essenciais sofreu duros golpes com o fechamento do comércio como medida para
conter a pandemia do novo coronavírus. O setor de eletroeletrônica, com forte representatividade no Polo Industrial
de Manaus (PIM), recuou
30,3% no mês de abril em relação ao mês anterior, com ajuste sazonal, conforme dados divulgados pelo IBGE agregados
pela Associação Brasileira da
Indústria Elétrica e Eletrônica
(Abinee). Essa foi a maior queda verificada na série histórica iniciada no início de 2002.
“O setor de eletroeletrônico
vê com muita apreensão o momento grave em que estamos
vivendo”, informou o José Jorge do Nascimento Junior, presidente executivo da Associação Nacional dos Fabricantes
de Produtos Eletroeletrônicos
(Eletros).
No primeiro trimestre, o setor registrou um tímido crescimento que reflete um pouco a expectativa que havia no início do ano, de um 2020 marcado pela retomada no consumo. “Esperávamos obter um crescimento de 5% a 10% na produção de eletroeletrônicos”, conta o presidente da Eletros.
Entretanto, com o agravamento da crise a partir da segunda quinzena de março,
houve uma drástica revisão
nos números. O presidente
executivo da Abinee, Humberto Barbato acredita que este
ano haverá uma queda de
15%.
CONSUMIDOR
Humberto explica que a recuperação do setor está completamente ligada à recuperação
de confiança do consumidor.
As indústrias vão fabricar a
medida que os estoques das
lojas forem precisando de reposição. Isso só acontece se o
consumidor recuperar a confiança em comprar. A taxa de
desemprego também deve ser
um fator determinante neste cenário.
“Eu espero sinceramente
que por volta de setembro e outubro, a gente recupere o nível
de vendas “, afirmou o presidente da Abinee.
Para ele, talvez não seja possível voltar à normalidade neste
segundo semestre. A indústria
foi afetada desde o início da
pandemia na China. Em fevereiro as fábricas no Amazonas já
sentiam a falta de componentes.
“Registramos níveis recordes de estoque em abril, por volta de 25%. Ainda não temos os
dados de maio, mas estimamos
que devem ser ainda maiores,
ultrapassando os 40%. Esse cenário indica que, mesmo com
uma retomada imediata, ainda
teremos que desfazer dos estoques atuais para fortalecermos
a produção e buscarmos resultados que aliviem as perdas
que tivemos”, acrescenta o presidente da Eletros.
LOJAS
A indústria de eletroeletrônicos
sofreu bastante com o fechamento das lojas, tendo em vista
que o varejo físico é a principal
plataforma de comercialização
para estes produtos, sobretudo,
os de grande porte como a linha
branca, que inclui geladeiras,
fogões e refrigeradores.
O mesmo se percebe na linha marrom, composta por aparelhos eletrônicos de uso doméstico, para informação e entretenimento, como TVs e equipamentos de áudio e vídeo.
“O consumidor sente a necessidade de ver o produto que
está levando e a grande maioria
prefere realizar sua compra de
forma física. O setor como um todo já sofreu uma retração de
mais de 60% desde o começo
da crise”, afirmou o presidente da Eletros, José Jorge do
Nascimento Junior.
Os números são confirmados pelo presidente da Abinee. “Tivemos uma queda de
70% na produção de eletrodomésticos, foi uma queda muito considerável”, afirmou.
Empregos
no setor
Uma sondagem realizada pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), entre os dias 26 e 29 de maio, sobre o impacto da pandemia de coronavírus na produção do setor eletroeletrônico, mostra que 70% das empresas afirmaram que não houve redução em seus quadros de empregados no mês de maio, mesmo percentual verificado na pesquisa de abril.
Conforme sondagem realizada
no início de maio, 95% das entrevistadas indicaram a realização de
ações com o objetivo de evitar ou
reduzir demissões, tais como: teletrabalho (home office); antecipação de férias individuais; acordos
de redução de jornada de trabalho e salários; uso do banco de horas;
utilização de linha de crédito para
folha de pagamentos; entre outras.
“Preservando empregos, preservamos o setor”, disse o presidente executivo da Abinee, Humberto Barbato.
A última pesquisa da Abinee
também revela que 87% das entrevistadas estão adotando as medidas emergenciais anunciadas pelos governos municipal, estadual e
federal), a fim de amenizar os impactos econômicos da Covid-19.
Exceção para o lar
Pesquisas de mercado da Eletros indicam aumento pontual na venda de produtos para o lar e de uso pessoal, tais como aspiradores de pó, secadores de cabelo, utensílios para cozinha entre outros eletroportáteis que acabam tornando a permanência forçada em isolamento mais agradável. Uma curiosidade é o aumento pontual nas vendas de máquinas de costura. José Jorge do Nascimento Juniorressalta dois pontos.
Em primeiro lugar, trata-se de aumentos pontuais nas vendas de linhas de produtos que não possuem grande representatividade no volume de produção da indústria de eletroeletrônicos, ou seja, o impacto para as indústrias é pequeno.
O outro aspecto é que os produtos vendidos neste período, via comércio eletrônico, são produtos que já estavam, muito provavelmente, nos estoques do varejo, não saíram dos estoques da indústria. Barbato, da Abinee, destaca a venda de outro produto: computadores. “Nem todo mundo estava preparado para o home office. Com a família toda trabalhando e estudando em casa, houve uma demanda maior por estes equipamentos”, afirmou.