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24/02/2021
Fonte: Jornal do Commercio
Anunciada na última
sexta (19) a mudança
de comando na Petrobras dividiu as lideranças classistas ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio. Para
o empresariado, ao largo do nó
político que se formou –e que
contribuiu para queda de bolsa
e alta do dólar, nos últimos dias
–, o foco da questão é econômico
e passa pelo grau de ingerência
possível ou necessária em uma
empresa de capital misto e do
porte da Petrobras.
De um lado, há a postulação em torno da necessidade
de resguardar os interesses dos
acionistas e a credibilidade da
política econômica. Do outro, o
imperativo de romper, ou pelo
menos amenizar, a escalada de
preços de um insumo básico e
de seus efeitos inflacionários em
uma economia já fragilizada pela
segunda onda e estruturalmente
dependente do modal rodoviário.
Para alguns dirigentes, a melhor
solução está na privatização da
Petrobras. Para outros, este não
é o momento e outras medidas
se fazem necessárias.
O presidente em exercício da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, diz que tem acompanhado com preocupação “o problema” da Petrobras. O dirigente considera que o que dá fortaleza a uma empresa, principalmente de economia mista e da importância da Petrobras, é sua saúde financeira e seu equilíbrio como empresa, com correção de investimentos, perspectivas de resultado desses aportes, e controle de custos e gastos –principalmente de pessoal e “agregados”.
“O que penso é que, ao tentar acompanhar o preço internacional, vamos repassar ao consumidor brasileiro uma carga de aumentos muito pesados, e isso é agravado pela desvalorização do real. Fora isso, temos de levar em consideração a excessiva carga tributária sobre o preço da gasolina. É isso que precisa ser revisto, considerado e estudado, e não as ondulações provenientes de especulações de natureza política e comercial. Precisamos focar nos custos, tributários, de pessoal e de algumas mordomias. É isso que vai dar sustentação, credibilidade e vida longa a qualquer empresa”, opinou.
“Novo pensamento”
O presidente da CDL-Manaus (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus), Ralph Assayag, não entra na consideração da forma como a mudança de comando na Petrobras se deu, mas argumenta que a companhia precisa de mudança de gestão e aponta que o ex-presidente Roberto Castello Branco “já tinha dado sua contribuição”. O dirigente acrescenta que a petroleira necessita de “um novo pensamento”, que deve conceder mais gás e vontade de trabalho a todos. “É preciso recriar a Petrobras. Você poderia, por exemplo, por a variação do preço só em relação ao barril e não ao dólar. E mesmo que fosse com o dólar, daria para fazer um fundo de petróleo e, toda vez que o combustível subisse mais do que deve, o fundo garantiria aquele valor por um período. Quando o petróleo baixasse, o preço não baixaria e o fundo receberia de volta esse valor. Teríamos estabilidade e todos poderiam calcular suas despesas. Há outras coisas que também poderiam ser feitas. A empresa tem de ter os cotistas, mas precisa pensar no Brasil, nesse momento de necessidade”, argumentou.
Momento inoportuno
Na mesma linha, o presidente da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Jorge de Souza Lima, diz que a melhor solução para o imbróglio da Petrobras e o cabo de guerra em torno dos combustíveis seria o governo federal vender sua parte à iniciativa privada. Mas, o dirigente considera que isso deve ser feito, só mais adiante. Embora reforce que são justamente as forças do mercado que regulam os preços da commoditie, o dirigente avalia que a situação econômica atual talvez necessite de mais ação do Planalto.
“Está muito complicado. Todas as empresas que foram privatizadas estão dando resultado e a Petrobras melhorou com governança corporativa e redução da corrupção. Mas, o momento não é oportuno. Acho que tem de haver um certo controle do governo, para que os preços não disparem tanto. Há o problema da cotação internacional do petróleo, que impacta no nosso modal rodoviário e na energia gerada na região Norte, que depende de termelétricas. Os governos dos Estados deveriam contribuir também com corte de impostos para não afetar a economia e evitar inflação”, recomendou.
Ingerência inadequada
O presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, considerou que a forma como a troca de gestão na Petrobras se deu pelo governo federal ficou longe de ser a mais adequada e ressaltou que existem outras soluções que não mexeriam com a imagem e o capital da empresa. O dirigente lembra que a interferência do poder do Estado em qualquer atividade sempre gera viés político e concorda que a privatização da petroleira seria uma alternativa para encerrar dilemas como esse.
“Essa ingerência, da mesma maneira como feita agora, a Petrobras sofreu nas gestões anteriores. Isso ocorreu por outros motivos, que foram desvios comprovados. Não é esse o problema que temos agora, mas a forma de administrar isso, e as mensagens passadas ao mercado são questões que mexem com as ações das empresas e com a economia. Logo, isso se acomoda, mas não vejo que essa tenha sido a ação mais correta. Há maneiras melhores de o Executivo, sendo o gestor de uma estatal, fazer mexidas na composição da governança da direção das empresas”, avaliou.
“Mercado aberto”
Já o presidente do Sinduscon- -AM (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Amazonas), Frank Souza, se diz preocupado sobre os impactos do mercado gerados pela troca de guarda na Petrobras. O dirigente lembra que todos os setores são afetados por flutuações de preços de combustíveis por dependerem indistintamente dos transportes e que essa questão se agrava em regiões mais distantes, como o Amazonas. O dirigente lembra que aumentos de combustíveis mexem com toda a cadeia produtiva do Estado e que o setor já vem sofrendo com as altas de insumos. Mas, salienta que o remédio pode ser pior do que a doença.
“Sobre a regulação de preços de combustíveis, sou contra. O preço é o valor do mercado. Se há interferência do presidente, os preços sobem, as bolsas caem e fica um problema sério. É claro que a interferência governamental é prejudicial, mas é o que nós temos. A gente espera conseguir reverter isso e que os mercados consigam equilibrar o preço novamente, assim como o dólar. Além disso, tudo tende a outro fator problemático, que pode ser a taxa de juros. Se aumentar, vai ser tudo o que não o setor não quer”, arrematou.