27/03/2020
Fonte: Valor Econômico
Bryce Baschuk, Bloomberg
O choque mais repentino e de maior impacto para a economia global em ao menos
uma geração é sentido em portos e outros centros de comércio internacional em
meio à batalha da Europa e Estados Unidos para conter a pandemia de coronavírus.
Nem crises modernas como a Grande Recessão, os ataques de 11 de setembro e a
crise do petróleo de 1973 limitaram os fluxos comerciais com a rapidez e a força da
covid-19.
E nem mesmo a Segunda Guerra Mundial provocou o nocaute econômico que
paralisa as cadeias de suprimentos globais e quase silencia as cidades mais
movimentadas do mundo desenvolvido, onde consumidores estão em casa e
empresas fechadas.
“Isso pode ser visto como um cenário de guerra sem a destruição de ativos físicos”,
disse o economista-chefe da Organização Mundial do Comércio, Robert Koopman,
em entrevista à Bloomberg por telefone.
Os dados de alguns dos portos mais movimentados do mundo, que já mostravam
tráfego de cargas reduzido com a economia da China fechada nos últimos dois
meses, mostram a imagem preocupante de um colapso que muitos economistas
acreditam irá persistir ao longo do primeiro semestre.
Os volumes de importação e exportação dos EUA desaceleraram nas semanas
anteriores aos bloqueios de cidades do país, de acordo com dados da IHS Markit
compilados pela Bloomberg. As exportações dos EUA foram particularmente
afetadas, e esses números devem ser acompanhados de perto nos próximos dias
para dimensionar a gravidade da crise.
O Porto de Xangai, o maior do mundo, registrou queda de 20% da movimentação de
contêineres em fevereiro na comparação anual, de acordo com o Departamento
Municipal de Estatísticas de Xangai. No mês passado, o volume de cargas no Porto
de Long Beach caiu 9,8% em relação ao mesmo período do ano passado, e
movimentação total de contêineres no Porto de Hong Kong mostrou baixa de 11%
na taxa acumulada.
Parada repentina
“Vemos um declínio muito acentuado e sem precedentes do comércio,
principalmente por causa da velocidade com que está acontecendo”, disse Phil Levy,
ex-economista da Casa Branca, em entrevista por telefone.
“Se já começamos a nos equiparar aos números da Grande Recessão, isso significa
que estamos a caminho de números excepcionais", disse Levy, agora economistachefe da empresa de logística de frete Flexport.
Poucas economias foram poupadas do impacto do vírus, especialmente as da
Europa, atualmente o epicentro da pandemia.
O maior porto marítimo da Europa, em Roterdã, registrou queda “significativa” dos
volumes de movimentação de todos os fluxos de carga nos últimos três meses,
disse Leon Willems, porta-voz do Porto de Roterdã.
“A pandemia tem interrompido as cadeias de produção e logística em nível global”,
disse Willems por e-mail. “Há uma probabilidade realista de que o volume de
movimentação para 2020 seja significativamente menor do que nos últimos dois
anos.”
Até a China, que se recupera lentamente depois dos primeiros casos de coronavírus
surgidos em dezembro, ainda enfrenta problemas para reiniciar as cadeias de
suprimentos paralisadas.
(Colaboraram Enda Curran, Jen Skerritt, Zoe Schneeweiss, Michael Sasso e Christian Wienberg)