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01/02/2021
Fonte: Jornal do Commercio
A pandemia pressionou com mais força os custos dos insumos industriais, no ano passado, com reflexos na formação de preços. O setor fechou 2020 com alta média de 19,40% em seus preços, conforme a pesquisa mensal do IPP (índice de Preços ao Produtor), divulgada nestas sexta (29) pelo IBGE. Foi o maior valor desde 2014 e 3,6 vezes superior à média anual (5,36%) do intervalo que vai de 2014 a 2019.
Em dezembro, 17 das 24 atividades sondadas elevaram o indicador em 0,41% em relação a novembro, sendo o 17° aumento consecutivo, embora inferior ao de novembro (+1,38%).
Uma indicação de como se deu o processo inflacionário na manufatura pode ser visto no Indicador de Custos Industriais, divulgado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), nesta semana. O estudo aponta que o terceiro trimestre do ano passado já apresentava uma subida de 8,6% em relação ao trimestre anterior. O aumento acendeu um sinal amarelo no setor, dado o acréscimo crescente dos custos de bens intermediários, nacionais e importados -que avançaram 5,3%, após um reajuste de 6,2% no trimestre anterior.
No índice do IBGE -que não leva em conta impostos e frete -, a indústria de transformação, que é majoritária do PIM, aparece com aceleração acima da média, entre novembro e dezembro (+0,51%), embora tenha ficado com um acumulado menor (+18,18%). Atividades que carreiam o Polo, como equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos (+19,95%), máquinas, equipamentos e materiais elétricos (+19,26%) e outros equipamentos de transporte (+18%), sustentaram algumas das maiores altas anuais. Bens de consumo subiram 0,58%, em dezembro, e 13,18%, no ano.
As quatro maiores expansões de preços do IPP de dezembro, contudo, vieram de refino de petróleo e produtos de álcool (+5,41%) e borracha e plástico (+2,75%). Em termos de influência no resultado geral, sobressaíram os segmentos industriais de refino de petróleo e produtos de álcool (0,43 p.p.), alimentos (-0,31 p.p.), metalurgia (0,11 p.p.) e borracha e plástico (0,10 p.p.).
Bens intermediários
Conforme a CNI, o custo com bens intermediários nacionais foi subindo com mais força ao longo dos três primeiros trimestres de 2020 (+2,6%, +4,1% e +6,6%, na ordem). O custo de tributário - que não é levado em conta na sondagem do IBGE -subiu 34% no trimestre, graças ao pagamento de tributos federais anteriormente adiados em razão da pandemia. O custo com pessoal subiu 4%, após o recuo anterior (-6%). Já o custo com capital, medido pela taxa de juros para esse fim (-11,7%) atingiu o menor nível da série histórica -iniciada em 2016 - e acumulou retração de 23% de janeiro a setembro de 2020.
"O aumento do preço de insumos e matérias-primas começou devido às circunstâncias da pandemia. Nossa preocupação é com o caráter persistente desses aumentos", declarou o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, no texto sobre o estudo trimestral de Custos Industriais, divulga- do pela assessoria de imprensa da entidade.
“Cobertor curto”
O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, observa que os custos já vinham subindo no primeiro trimestre de 2020, quando a pandemia ainda estava começando seus registros no Brasil. "Cresceram 2,4%, em razão do aumento de 6,8% nos insumos importados e de 7,9% no óleo combustível. No segundo trimestre, em razão da crise da pandemia, caíram 1,5%, muito embora tenham registrado aumento de 6,3%nos insumos, que foi compensado pela queda nos custos de energia, capital de giro, tributário e pessoal", ponderou.
O dirigente ressalta que a situação se inverteu, no terceiro trimestre do ano passado, quando a indústria já ensaiava um aquecimento pós-primeira onda. "Estourou um aumento dos custos industriais de 8,6%, demonstrando que houve um encarecimento nos custos de produção, tributário, de energia, com pessoal e, principalmente, com os insumos, partes, peças e componentes intermediários em geral", lembrou, reforçando que a escassez de matéria prima em virtude da desarticulação das cadeias produtivas foi uma das principais influências.
Indagado sobre as eventuais tendências dos custos industriais e possíveis repasses ao consumidor, em meio a um panorama de segunda onda de casos de covid-19 em diversas partes do país, medidas de isolamento social ampliadas, e ausência de políticas federais para combater os impactos econômicos da pandemia, o presidente da Fieam assinala que o cenário ainda se mostra como uma incógnita.
"O mercado consumidor também está fragilizado, com o crescimento do desemprego. Portanto, não há muito espaço para aumentar preços ao consumidor. Por outro lado, a escassez de componentes, por causa da pandemia, faz com que a lei da oferta e procura atue, havendo tendência de elevação de custos. Portanto, é um cobertor curto: se puxar muito para cima, descobre os pés; se descer, descobre a cabeça. Problemas econômicos são complicados. Só nós resta sermos criativos, enfrentando os problemas de frente, com trabalho e planejamento", concluiu.
Câmbio também puxa preços
Em entrevista publicada pela Agência de Notícias IBGE, o gerente da pesquisa pelo IPP, Alexandre Brandão, destacou que a principal influência para o aumento do indicador no acumulado veio da depreciação de 25,2% do real ao longo do ano, impactando os setores exportadores e seus produtos -especialmente soja, carnes bovinas, óleo de soja e arroz. “São produtos que o país exporta bastante e que tiveram problema de oferta, além de aumento de preços no mercado internacional”, completou.
Os demais setores que ajudam a explicar a alta foram outros produtos químicos, metalurgia e indústria extrativa. Mas Brandão destaca que refino de petróleo e produtos de álcool -que é o segundo setor de maior peso na indústria brasileira depois de alimentos -foi o único setor que fechou 2020 com variação negativa. Isso pode ser explicado pelo comportamento do óleo bruto de petróleo no mercado.
Em dezembro, 17 das 24 atividades sondadas elevaram o indicador em 0,41% em relação a novembro