26/05/2021
Fonte: Jornal do Commercio
Marco Dassori
O Dia da Indústria traz a reflexão de que o setor encontra-se em uma encruzilhada. Por um lado, há a certeza de que a indústria amazonense conseguiu atravessar um período de crise sem precedentes durante a primeira e a segunda ondas da pandemia, mantendo produção e empregos, a despeito das oscilações, e com potencial de aproveitamento de demanda reprimida. Por outro, ainda pesam as incertezas inerentes não apenas aos impactos da crise sanitária e o risco de uma terceira onda, como também à Reforma Tributária que se costura em Brasília.
Segundo dados fornecidos pela Fieam, o setor representa mais de um terço do PIB do estadual e mais de 32% do PIB Industrial de toda a região Norte. Com 2.787 estabelecimentos registrados, a atividade responde por 51,2% do total de ICMS do Amazonas. Também obteve a melhor performance de arrecadação do tributo, em abril (R$ 475,88 milhões), com elevações de 45% sobre o mesmo mês de 2020 e de 26% no acumulado do ano (R$ 1,74 bilhão).
A indústria é responsável também por 20,2% dos postos de trabalho com carteira assinada no Estado, e por 30,4% do emprego industrial da região Norte. Das 121.530 vagas cridas pelo setor, pelo menos 95 mil estão concentradas no PIM, entre mão de obra efetiva, temporária e terceirizada. O salário médio no Estado (R$ 2.946) supera a média nacional (R$ 2.792). O dado mais recente do Caged mostra que a indústria (+1.806) representou 70,68% dos empregos formais criados no Amazonas (2.555), no primeiro trimestre de 2021, com aumento de 1,70% sobre o estoque anterior.
De 2020 para cá, por outro lado, a indústria local enfrenta seu pior desafio na pandemia. Durante a primeira onda, mais da metade das empresas do PIM chegou a suspender as atividades em períodos e níveis variados, para manter a segurança de seus funcionários e para evitar superestocagem, já que a maior parte das cidades estava com seus comércios fechados. O parque industrial de Manaus teve de se reinventar para se adaptar à nova realidade e conseguiu manter produção e empregos nos mesmos patamares dos anos anteriores.
A média mensal nas fábricas do Distrito Industrial, ao longo do ano, ficou em 94 mil postos de trabalho, a melhor dos últimos cinco anos, conforme números da Suframa. A mesma base de dados aponta que o faturamento do PIM avançou 14,26% em reais (R$ 119.68 bilhões) e caiu 13,74% em dólares (US$ 22.82 bilhões). Apesar da segunda onda e das restrições, o setor esboçou recuperação nas vendas no primeiro bimestre, com queda de 0,82% (US$ 3.92 bilhões) e alta de 23,90% (R$ 21.43 bilhões), respectivamente. Mas, o recrudescimento da pandemia no restante do país, e seus efeitos no consumo, preocupam os dirigentes.
Reforma e importância
A despeito de sua pujança, e de estar assegurada pela constituição, a indústria da ZFM segue assentada em bases que podem ser modificadas para pior em uma Reforma Tributária mal conduzida. O tema, a propósito, reuniu o ministro da Economia, Paulo Guedes, e os presidentes da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), nesta segunda (24). Após o encontro, Pacheco ressaltou à Agência Senado que há um consenso entre os três de que a reforma é “fundamental” e “urgente” e que o sistema de arrecadação deve ser simplificado, sem gerar aumento de carga tributária.
Na avaliação do presidente da Fieam, Antonio Silva, a versão fatiada apresentada pelo Ministério da Economia ao Congresso ainda não motiva preocupações. A proposta de unificar PIS e Cofins seria vantajosa à indústria, ao possibilitar o desconto de gastos com insumos ao longo do processo produtivo. Além disso, a proposta mantém os regimes diferenciados, como a Zona Franca de Manaus, e assegura o direito às simplificações das normas e procedimentos que forem aprovados.
“Vamos aguardar a segunda parte da proposta que, provavelmente, apresentará modificações no IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados]. Deveremos ter o máximo de atenção a fim de que sejam minimizadas quaisquer repercussões negativas na atividade econômica da ZFM (…) Nessa questão, estamos todos coesos: os setores produtivos, a classe política e a classe trabalhadora para que os impactos negativos na economia local sejam eliminados ou minimizados”, afiançou.
O presidente da Fieam destaca o peso e a importância da indústria para o Amazonas e lembra que o PIM melhorou o nível de emprego no Estado, além de expandir a escolaridade na região e promover o crescimento da renda per capita local acima da média nacional e elevar a arrecadação de tributos. “Basta ver a diferença entre os R$ 21 bilhões que o governo federal arrecadou em 2020, com impostos cobrados no Amazonas, e os R$ 9,5 bilhões que repassou ao Estado”, argumentou.
De acordo com o dirigente, essa dinâmica contribuiu para elevar Manaus à sexta posição entre os municípios com maior participação no PIB nacional, e o Amazonas à sétima colocação no ranking das unidades federativas brasileiras com maior participação na arrecadação federal em relação ao PIB estadual. Antonio Silva acrescenta ainda que a ZFM ajudou a reduzir os índices de desmatamento. “Esse já é um bom motivo para comemorarmos o dia da indústria e o dia do meio ambiente, junto com os resultados do PIM”, afiançou.
“Grande desafio”
Sem entrar em detalhes, por considerar que a melhora da economia depende mais de um conjunto de fatores do que da soma das partes, o presidente da Aficam (Associação dos Fabricantes de Insumos e Componentes do Amazonas), Roberto Moreno, assinalou que a indústria amazonense tem muito a comemorar na data, a despeito dos obstáculos que ainda surgem no caminho – sendo que o fator pandemia se destaca.
“Entendo que o balanço da indústria é positivo. Há bastantes desafios que a pandemia ainda nos trás, mas estamos confiantes que conseguiremos passar por mais este período de provação, e também alicerçados na disponibilidade mundial de vacinas, para todos nós. Esse é o grande desafio. Vamos acreditar que ainda serão tempos difíceis, mas a indústria amazonense tem uma forte estrutura produtiva, uma cadeia de fornecedores que não mede esforços em atender seus clientes. E os números nos mostram que conseguiremos avançar”, encerrou.
Data homenageia patriarca da indústria brasileira
O dia 25 de maio foi escolhido como dia da indústria para homenagear o patrono da indústria nacional, Roberto Cochrane Simonsen (1889-1948), que faleceu nesse dia, aos 58 anos. Simonsen foi engenheiro industrial, administrador, professor, historiador e político. Foi também presidente da CNI e membro da Academia Brasileira de Letras. No Amazonas, Roberto Simonsen dá nome ao estádio de futebol mantido pelo Sistema Fieam, no Sesi Clube do Trabalhador, na zona Leste de Manaus.