04/06/2021
Fonte: Valor Econômico
Luciane Carneiro
Os setores da indústria brasileira mais ligados ao comportamento da economia mundial, como a extrativa e os segmentos influenciados pelo agronegócio, como bens de capital, conseguem mostrar mais dinamismo e escapar do comportamento mais negativo daqueles ligados ao mercado doméstico. A avaliação é do economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rafael Cagnin.
“A indústria tem, hoje, dois eixos. O de bens de consumo, que está com o freio de mão puxado e que é mais ligado ao mercado doméstico, e o de bens de capital, com maior dinamismo. A recuperação da economia mundial ajuda o agronegócio e a indústria extrativa. E o agro mobiliza os bens de capital”, explica ele.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgou na quarta-feira (2) que a produção industrial caiu 1,3% em abril, frente a março, a terceira taxa negativa seguida na série frente ao mês anterior (com ajuste sazonal), período no qual acumulou queda de 4,4%. A retração foi disseminada: ocorreu em 18 dos 26 ramos pesquisados e em duas das quatro grandes categorias econômicas.
Com um comportamento diferente, a indústria extrativa mineral avançou 1,6% em abril, após alta de 5,7%, e foi a principal influência positiva no resultado, considerando as diferentes atividades. Na divisão das categorias econômicas, destaca-se a produção de bens de capital, que avançou 2,9% na passagem entre março e abril. No resultado acumulado de janeiro a abril, a alta é de 36,4%, bem acima dos 10,5% da indústria geral.
Dentro de bens de capital, os que mais se destacam são aqueles para agricultura (com alta de 60,4% em 2021, até abril), para transporte (aumento de 50%) e para construção (crescimento de 51,5%).
“O agro mobiliza os bens de capital, não só aqueles voltados para agricultura como também para transporte. É um ritmo muito diferente da indústria que depende do mercado doméstico. Além disso, tem também a construção, que não parou ao longo da pandemia”, afirma Cagnin.
Para além desses dois eixos com comportamentos distantes, o economista aponta o fraco desempenho da indústria de bens intermediários, que responde por 55% do setor. Ela vem enfrentando as dificuldades ligadas ao mercado doméstico, além das restrições em função dos baixos estoques.
“O núcleo-duro da indústria, que são os bens intermediários, está parado, com crescimento muito baixo. A situação ainda é agravada pela dificuldade na obtenção de insumos, que se retroalimenta”, aponta ele.
Diante das incertezas que continuam a rondar a economia, diz Cagnin, o processo de recomposição de estoques ainda é lento, após a queima ocorrida ao longo de 2020. “O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) mostrou uma recomposição de estoques, mas este processo ainda está em curso em muitos setores. O problema só vai se resolver com um aumento mais forte de produção”, afirma.