09/11/2021
Por Antonio Silva
Presidente da FIEAM
E-mail: presidencia@fieam.org.br
A medida adotada pelo Governo, reduzindo em 10% as tarifas de importação de 87% do universo tarifário, sem abranger as exceções que já existem no Mercosul, com vigência até 31 de dezembro de 2022, agrava a situação delicada da indústria brasileira em relação ao nível de competitividade, tanto no mercado nacional como no mercado externo.
A medida unilateral feita pelo
Brasil no bloco do Mercosul,
anunciada na última sexta-feira
pelo Comitê-Executivo de Gestão
da Câmara de Comércio Exterior
(Camex), foi com base no acordo
de 1980 do Tratado de
Montevidéu, amparado pelo
artigo que permite adoção de
medidas voltadas para a proteção
da vida e da saúde das pessoas.
Na verdade, é uma “forçada de
barra” para fundamentar a
decisão, alegando situação de
urgência em consequência da
pandemia da covid-19. Sabemos
que o Ministério da Economia
(ME) cogitava reduzir as tarifas
do Mercosul em 50%, só havendo
recuo do seu intento face à
resistência oferecida pela
Argentina e da forte reação da
indústria brasileira, por meio da
Confederação Nacional das
Indústrias (CNI).
Para tomar tal medida que
antecipa unilateralmente as
negociações com os seus
parceiros do Mercosul, o Governo
alegou precisar de mecanismos
fortes para conter a aceleração da
inflação. Em princípio seria
redução temporária, mas o ME
tem como objetivo futuro tornar
permanente via entendimentos a
serem pactuados com os
integrantes do Mercosul.
Os resultados apresentados pela
indústria brasileira este ano são
preocupantes em razão da
escassez da oferta de
componentes e de insumos,
grandemente afetada pelas
paralisações das fabricantes
durante o período mais crucial da
pandemia, cuja recuperação
levará mais tempo que o
esperado, por que se dá de forma lenta.
A indústria nacional não
aumenta os preços dos produtos
finais para se aproveitar da
escassez da oferta, mas para
fazer frente à elevação dos custos
de produção, provocada pelo
aumento da energia, dos
combustíveis, dos custos dos
modais de transporte e também
da desvalorização do real frente
ao dólar.
Tudo isso torna a indústria menos
competitiva, fazendo com que
não tenha condições de concorrer
com a produção externa, pois ao
reduzir as alíquotas dos
importados sem nenhuma
reciprocidade, torna
praticamente impossível
competir e manter empresas que
atendam o mercado consumidor,
gerando empregos e investindo em máquinas e equipamentos.
A indústria no Brasil é fundamental para o equilíbrio econômico dos demais segmentos da economia, qualquer descompasso do setor pode acarretar resultados negativos graves para o mercado nacional como um todo, daí a necessidade de proteger nossa indústria. A elevação da tarifa de importação de produtos finais e a redução da tarifa de insumos, com certeza, dariam resultados mais positivos na produtividade industrial e na moderação da alta de preços de mercado, com efeitos positivos de maior intensidade do que o choque de oferta pretendido pelo Governo que causará desindustrialização e redução na geração de empregos.