09/11/2020
Fonte: Acrítica
Giovanna Marinho
A proteção da Amazônia está
entre as promessas de campanha do 46° presidente eleito dos
Estados Unidos, Joe Biden. Apesar do medo por parte da ala
mais conservadora brasileira
de uma intervenção norte-americana no país, o economista e
doutor em desenvolvimento regional, José Alberto Machado,
vê nessa retórica um leque de
possibilidades para economia
local.
Mais de uma vez, durante a
conturbada corrida eleitoral, o
democrata citou a possibilidade
de reunir esforços internacionais para combater a questão do
desmatamento em território
brasileiro. Biden inclusive falou
sobre a possíveis sanções econômicas, caso um plano concreto de desenvolvimento sustentável não seja estabelecido pelo
governo de Jair Bolsonaro.
O economista entrevistado
pelo ACRÍTICA, porém, não vê o
novo presidente norte-americano com um caráter radical de
proteção ao meio ambiente, mas
sim, de defesa à geração de negócios e uma economia mais
moderna e sustentável, alinhada as novas políticas arquitetadas nas grandes agências econômicas, como o Banco Mundial
e o Banco Interamericano deDesenvolvimento (BID), que
abrem as portas para financiamentos de projetos "verdes".
“A equipe do Biden tem a visão econômica do meio ambiente, não de proteção ou de preservação intocável, mas sim, de fazer com que o ambiente seja incluído na equação econômica e
possa gerar negócios e isso é o
que aAmazônia precisa”, enfatiza Machado.
José observa, ainda, que Biden não tem uma postura intervencionista, pois é reconhecido
pelo diálogo e "está pronto para
buscar ajuda internacional para
apoiar o governo brasileiro".
Contudo, uma preocupação do
economista é com o forte discurso ideológico do presidente Jair
Bolsonaro, pois “é uma posição que não se sustenta muito, embora ela possa causar estrago”.
Para ele, o ativismo do presidente brasileiro deve se limitar
à retórica easaída dos ministros do Meio Ambiente, Ricardo
Salles, e das Relações Exteriores, Ernesto Fraga, para ele, é
dada como certa.
MOURÃO À FRENTE
A figura do vice-presidente Hamilton Mourão também deve receber destaque neste momento para interlocução com as embaixadas, devido a sua postura mais sensata e proximidade com a causa da Amazônia. Durante coletiva de imprensa na última quinta-feira (5) em Manaus, Mourão, disse não estar preocupado com a relação entre os EUA e o Brasil, caso a vitória de Biden fosse confirmada.
A afirmação foi proferida antes da conquista de Binden em estados-chaves para definição da eleição norte-americana. Mourão sinalizou que o Brasil precisa fazer "o trabalho de casa" e mostrar para o mundo que está defendendo o patrimônio verde do país e a população que habita a região amazônica. "Cada um tem que buscar seus interesses. Algo que é básico na diplomacia, é a busca do benefício mútuo e nós sempre estaremos buscando o benefício mútuo e eu sei que o Estado Unidos daAmérica também agirá dessa maneira", enfatizou o vice-presidente.
Biotecnologia poderá ser impulsionada
Para o economista José Machado, a política mundial de incentivo ao desenvolvimento sustentável deve favorecer o Amazonas
com um poder de ‘barganha’
maior devido o volume de floresta preservada. Com essa tendência, negócios do ramo da bioeconomia, piscicultura, turismo,
agronegócios alinhados a polícia
ambiental e produtos nativos da
floresta devem ter o acesso a financiamentos facilitado. O Polo
Industrial de Manaus (PIM),
também pode ganhar força, devido a política norte-americana de
incentivo a indústria nos Estados
Unidos para substituir produtos
importados de países como a
China. Entretanto, o Amazonas
precisa de gestores com a visão
estratégica e sustentável, pois o
estado, sai atrás do Pará e Acre na
busca por investimentos devido
aausência de um plano de ação a
longo prazo na economia alinhada a questão ambiental.
Gilson Gil - Análise
“A pressão vai ser grande”
Em termos concretos, o alinhamentounilateralcomTrumpnão chegou a produzir resultados palpáveis. Nenhum acordo comercial relevante foi feito. Não houveosinvestimentosaquique o presidente esperava. Todavia, a pandemia foi um problema, não podemos esquecer. Os democratas sempre se pautam por temas como diversidade e meio ambiente e a Amazônia é um tema central nesse debate eleitoral. O governo de Bolsonaro não conseguiu apresentar planos reais que articulassem a proteção com a exploração sustentável. Creio que, agora, terá de prestar mais atenção a esse binômio e elaborar planos concretos que articulem, de fato, essas duas dimensões preservação e desenvolvimento.
Penso que,
assim como em outras áreas, o
governo brasileiro terá chance
de pensar esse binômio que citei, articulando a proteção como
desenvolvimento em novas bases. Os democratas não vão refrescar nosso país. Vão querer
interferir nesse tema, sem ilusões. Penso que o governo precisa se rearticular e começar a
ter propostas concretas para a
Amazônia e o meio ambiente,
mostrando real disposição de integrar tais temas às articulações
internacionais, mas sem perder
a soberania. Acho que virão muitas cobranças. Até certas imposições, não vejo como um mar
de rosas para nós, amazônicos
no futuro em curto prazo. O governo brasileiro reluta em definir
marcos legais para temas como
garimpo, indígenas, agronegócios, queimadas, etc.