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Companhias buscam novo perfil para atuar com logística

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10/03/2023

Por Jacilio Saraiva — Para o Valor, de São Paulo

09/03/2023 05h01 Atualizado há um dia

A escassez de mão de obra é um dos maiores desafios das empresas de logística, principalmente quando a intenção é atrair currículos especializados em novas tecnologias. Ao mesmo tempo, as companhias, que brigam por um mercado global de US$ 8,6 trilhões, precisam correr para melhorar a visão dos executivos sobre essa indústria. Apenas 26% dos trabalhadores acreditam que a área está entre as melhores para atuar - a percepção é que o setor exige dedicação acima da média e não valoriza qualificações profissionais.

A análise aparece em pesquisa mundial da Gi Group Holding, de recrutamento e seleção de executivos, que ouviu 850 profissionais, inclusive gestores de logística, em seis países (China, Alemanha, Itália, Polônia, Reino Unido e Brasil). “Inovações como big data, inteligência artificial e internet das coisas, aceleradas pela digitalização ocorrida na pandemia, terão um forte impacto na cadeia de suprimentos e no equilíbrio de poder entre os atores do setor nos próximos anos”, avalia Carlos Henrique Martins Tonnus, presidente na Gi Group Holding do Brasil. Esse cenário gera oportunidades de emprego, mas exigirá novas competências para os profissionais, diz. “As empresas deverão ser capazes tanto de atrair talentos com conhecimentos do ‘digital’, como de desenvolver pessoas ‘dentro de casa’.”

Nessa linha, o estudo revela que 69% dos trabalhadores de logística em todo o mundo consideram o treinamento e o aprendizado contínuo como necessários para “performar” bem - no Brasil esse percentual sobe para 79%.

Na visão de Tonnus, para “segurar” as equipes treinadas e receber novas levas de currículos, as chefias precisam oferecer condições de trabalho acolhedoras, com sistemas de recompensa - o que inclui remuneração variável, benefícios e políticas de bem-estar. O levantamento indica que o Brasil tem 4,8 milhões de empregados no setor, abaixo apenas da China (17,8 milhões), entre os países pesquisados. “É essencial que os líderes apoiem os funcionários na aquisição de habilidades técnicas e comportamentais, e que os motivem a aderir a capacitações permanentes.”

É o que está fazendo a gigante de bebidas Ambev que, nos últimos anos, passou por grandes transformações na área de entregas, segundo o vice-presidente de logística Paulo Zagman, no posto desde 2018. Com 30 mil funcionários, pelo menos 3,4 mil (11,3%) são dedicados à logística. “Criamos uma torre de controle de processos de logística em Jaguariúna

Zagman explica que seleciona a maioria dos gestores pelo site da companhia ou via headhunters internos. Foram sete contratações para cadeiras gerenciais, em 2021 e 2022. “O mercado de logística aquecido, com mais oportunidades para quem atua na área, torna a atração [de currículos] desafiadora”, diz.

Em média, o tempo para encontrar um candidato ideal leva 40 dias, desde a localização do currículo desejado até o momento da admissão, destaca. Para reter o profissional, diz Zagman, vale apostar em remuneração e treinamentos. “Como lidamos com funções que exigem um nível de conhecimento que não é fácil criar do dia para a noite, investimos na investimos na formação e em promoções”, diz. “Temos um plano de desenvolvimento de competências para a liderança e cursos feitos em parceria com universidades, exclusivos para o departamento de logística”. O foco, segundo o executivo, é reforçar habilidades (soft e hard skills) e adaptar as capacitações de acordo com o “momento” das chefias.

A quantidade de admissões para 2023 ainda não foi definida, mas as operações do Zé Delivery e do BEES, ambos da Ambev, seguem em expansão, o que pode gerar abertura de vagas, adianta o executivo. O aplicativo de venda direta Zé Delivery alcançou recorde de pedidos na Copa do Catar em 2022, com 55 mil encomendas por hora. Já o BEES, plataforma de plataforma de vendas e serviços financeiros, atende mais de um milhão de comerciantes. Zagman acrescenta que estarão no radar candidatos dotados de “mindset ágil” e com visão de CX e UX (“customer” e “user experience” ou experiência do consumidor e do usuário, do inglês).

Paulo Afonso Gouveia de Freitas, diretor de RH da Tmov, logtech (startup de logística) que atua como um marketplace de cargas para caminhoneiros e transportadoras, diz que a dificuldade de contratar gestores depende da posição em aberto e da localização do candidato, no caso das funções presenciais. A companhia sediada em Londrina (PR) tem 400 funcionários e filiais em 14 estados e no Distrito Federal.

Para as colocações que exigem experiência, como comercial, produto e gerenciamento de risco, o entrave para admitir é maior, por conta da escassez de currículos qualificados, explica. “Também competimos com outros setores, como as fintechs e firmas de tecnologia em geral, que contam com um maior apelo para a geração que entra no mercado agora”, diz. “Tentamos minimizar isso fomentando uma imersão nas operações [para os novatos] logo no primeiro mês de trabalho.”

No ano passado, a diversificação de canais de contato com possíveis candidatos também ajudou no preenchimento de vagas. Das 21 contratações de executivos, 50% foram feitas por meio de consultorias de RH, 30% com indicações da equipe e 20% com a busca ativa da equipe de seleção. Não estão previstas admissões este ano. Segundo Freitas, o prazo médio para identificar e contratar um gestor é de 24 dias, período que cai para 14 no esquema de indicações. “Mas, para as bancadas de tecnologia, independentemente do modelo de contato, o prazo pode se estender por até 35 dias.”

Para reter os times, um dos caminhos que a Tmov encontrou foi um plano de “stock options”, que oferece ao empregado o direito de comprar ações da companhia. A novidade começou em 2019, elegível para diretores, e em 2021 foi ampliada para heads e gerentes com boas avaliações de desempenho. Vinte e cinco funcionários estão cadastrados e a intenção é estender a vantagem para todo o quadro. “Nosso índice de rotatividade por demissão voluntária é de 2,6% ao mês, número saudável comparado com o que observo nas conversas com outros diretores de RH, que falam de taxas entre 1,5% e 5% mensais”, diz.

Fonte: Valor Econômico

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