11/08/2020
Fonte: Jornal do Commercio
Marco Dassori
Uma semana após a Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) comemorar seis décadas de serviços em favor do crescimento do setor e do desenvolvimento estadual, foi a vez do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas) celebrar 41 anos, nesta segunda (10), na mesma luta e prestando os mesmos serviços. As datas vêm em um momento ímpar para Zona Franca de Manaus.
A ZFM encontra-se em mais uma encruzilhada política e econômica: de um lado, os impactos econômicos e incertezas advindas pela pandemia; do outro, os riscos inerentes à Reforma Tributária e medidas extemporâneas, como a do PPB de TVs. No entendimento das lideranças do PIM, a conjunção pode ser fatal, caso as entidades, juntamente com as forças políticas e empresariais do Estado, e sociedade civil organizada não voltem a juntar forças em favor da sobrevivência do modelo – e até de sua reinvenção.
Em que pesem as garantias constitucionais que amparam a vigência da Zona Franca até 2073, mudanças ao alcance do Executivo, ou ao sabor de lobbies no Congresso podem dilapidar ainda mais as vantagens comparativas do modelo, comprometendo a permanência de investimentos e empregos. Se propostas como a unificação do PIS/Cofins não sinalizam maiores abalos ao PIM, há dúvidas sobre como virá a proposta do governo federal a respeito do IPI. E é consenso que as PECs no Senado e na Câmara não são favoráveis à ZFM.
A crise da covid-19, por outro lado, agravou um quadro que já se mostrava difícil para a indústria incentivada de Manaus, lastreada por bens de consumo dependentes de maior acesso ao crédito e do otimismo do consumidor, assim como mais vulnerável às oscilações cambiais. As perspectivas de uma recuperação lenta e incerta – suscetível a abalos e retrocessos – impõem obstáculos e buracos a mais nessa estrada que se abre para a ZFM e as entidades que a defendem, exigindo eventuais correções de rota para adaptar a indústria a mercuriais mudanças de mercado.
“Situação imponderável”
O presidente do Cieam, Wilson Périco, ressalta ao Jornal do Commercio que, embora os ataques à Zona Franca de Manaus tenham recrudescido nos últimos dez anos, resistências a sua perenidade sempre existiram, ao longo das mais de cinco décadas de existência do modelo de desenvolvimento econômico do Amazonas. O dirigente concorda, contudo, que o momento é bem desfavorável à indústria incentivada.
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“É verdade. Hoje, passamos por uma situação do imponderável, que é essa questão da pandemia, ao mesmo tempo em que passamos por um desafio, que vem da iminente discussão e aprovação de uma Reforma Tributária, da qual precisamos participar efetivamente para garantir os direitos da Zona Franca. Nesse sentido, tanto o Cieam, quanto a Fieam, vêm promovendo ações e não têm medido esforços para encontrar subsídios para municiar nossa bancada e o governo do Estado para que façam a defesa do modelo ZFM. Tudo isso para assegurar os empregos assegurados por esses investimentos”, declarou.
Nesse sentido, Wilson Perico salienta que estar à frente do Cieam “já há algum tempo” é um orgulho e um privilégio, além de continuar sendo um grande desafio. “Só tenho a agradecer a confiança e desejar a todos que compõem a, tanto a Federação, da qual sou o segundo vice-presidente, quanto o Centro, pela mesma garra determinação e brilho nos olhos para defender nosso modelo e direitos de nosso Estado”, afiançou.
Biotecnologia e bioindústria
Em artigo publicado nesta segunda (10), no site Brasil Amazônia, Agora, o presidente da Fieam, Antonio Silva, sinaliza também que a ZFM vem enfrentando desafios desde sempre e que os pioneiros da Zona Franca e da fundação da entidade tiveram de enfrentar um panorama que também não foi fácil, quando o Estado ainda passava por um período de reconstrução, com a economia ainda na fase de Porto de Lenha.
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“Se hoje enfrentamos uma fatídica pandemia nos destroços da economia, há 60 anos vivíamos mais um processo de estagnação sem eira nem beira de apelação com a queda do 2º Ciclo da Borracha”, lembrou. Hoje, como na ocasião, o setor privado se descobriu forte a partir da somatória de seus esforços dentro das entidades de classes. (…) A Fieam segue na luta pelo Amazonas, por seu crescimento integral e conexão nacional, fazendo parte do Comitê Indústria ZFM Covid-19, e da CNI, transformando propósitos coletivos em saídas efetivas e operacionais, a favor da economia regional”, asseverou.
Nesse sentido, o dirigente avalia que o futuro converge para o passado, incluindo um olhar diferenciado para o potencial da floresta, no sentido de munir a bioeconomia e a bioindústria no Amazonas. Antonio Silva defende que os recursos gerados pelos polos de duas rodas, de eletroeletrônicos, informática, concentrados, entre outros, poderiam suprir esse projeto, e cita dados da Academia Americana de Ciências, para ressaltar que 20% dos medicamentos e cosméticos da indústria internacional usam insumos da Amazônia. Por isso, propõe que o Estado “vire o jogo”.
“Temos que ser mais protagonistas e fazer valer o papel do setor produtivo nacional. Tínhamos liderança entre nossos fundadores e hoje temos que ampliar esta saga, construindo um projeto para a Amazônia. Temos dificuldades de acessar a biodiversidade em vista à biotecnologia por uma Lei proibicionista que favorece biopiratas. Para quem quer empreender tem que se munir de paciência e recursos para enfrentar a burocracia”, concluiu.