17/08/2020
Gina Moraes*
Quem conhece se sente envaidecido pelo CBA, Centro de Biotecnologia da
Amazônia, uma iniciativa, até aqui frustrada de termos um Polo de Bioindústria
na oresta? As nações civilizadas manifestam naturalmente seu orgulho por
suas Instituições de Ensino e Pesquisa desde sempre. Os franceses se
envaidecem da Sorbonne, escola humanística, que já produziu importantes
lósofos e cientistas sociais. A Inglaterra bate nos peitos por Oxford, Museu
Botânico de Kew Garden e os Estados Unidos por Stanford, Yale e por aí vão os
devotos do conhecimento e seu sucedâneo gerador de riquezas e civilidade. Aqui
na Amazônia, o Museu Emílio Goeldi e o INPA saem na frente, mas o CBA, para
quem o conhece, tem sido motivo de desencanto e frustração. Essa expectativa
para seu funcionamento atinge pesquisadores e bioempreendedores e
transformou-se em indignação e constrangimento. Qual seria o motivo de, 21 anos depois, lançada a pedra fundamental, essa Instituição sequer existisse
juridicamente? Mesmo com 20 laboratórios de ponta, ora sucateados em grande
parte, o CBA não existia, embora esteja renascendo.
O CNPJ está a caminho
A personalidade jurídica da instituição está na fase dos trâmites nais. O
Governo Federal, a par da Suframa e da prórpia direção do CBA, tem trabalhado
arduamente para dener seu modelo de gestão. Em sua primeira visita a
Manaus, depois de eleito, o presidente Jair Bolsonaro mencionou iniciativas de
transformar Manaus na capital mundial da biodiversidade e antecipou
expectativas e intenções, posteriormente reforçadas por seu vice, Hamilton
Mourão, e pelo próprio Ministro da Economia, Paulo Guedes, de se implantar o
Polo Industrial de Bioeconomia com base na ZFM, e comprometeu-se,
indiretamente, ao considerar que “… enquanto houver Zona Franca, o Brasil
terá certeza de sua soberania sobre a Amazônia”. Essa hora chegou!
Convite explícito
Isso é mais do que um CNPJ. É um convite explícito para a tribo assumir o papel
de protagonista, discutir, enfrentar e fazer acontecer, exigie realocação de
recursos e consultor referências ligadas à pesquisa e ao empreendodorismo
sobre quais são as sugestões de prioridade e das empresas, suas expectativas.
Anal, já temos mapeadas e testadas bras vegetais, tipo curauá, que podem
substituir bras de vidro dos celulares e das motocicletas. Inovação
nanobiomolecular para pneus do Setor de Duas Rodas, o plástico verde das
embalagens, que pode ser até comestível, a ração inovadora da piscicultura, a
genética dos tecidos, para propagar espécies de alto valor agregado e cultivar
em áreas degradadas e, assim, reorestar o espaço. A lista é innita e inclui
itens do Polo de Saúde, Fitoterápicos e Dermocosméticos. A bola está conosco e
o gol à nossa frente!
Programas prioritários
É necessário abandonar a zona de estagnação e fazer a mobilização rme para exigir o aproveitamento sustentável de nossas riquezas! Não devemos mais esperar que a solução venha dos gabinetes de Brasília! Depende de nós a execução das promessas, a começar por “menos Brasília e mais Brasil” , no nosso caso “mais Amazônia para o Brasil”. Quantos milhões as empresas têm recolhido em verbas de pesquisa, desenvolvimento e inovação? Quinhentos milhões, aproximadamente a cada ano, diz o Portal da Transparência, o suciente para fazer uma revolução biotecnológica em qualquer lugar do mundo. Tudo isso, porém, padece de comprometimento e ação da sociedade organizada, de mim, de você, de nós!
Mutirão de cientistas e investidores
O cidadão precisa saber que os impostos pagos para pesquisa e
desenvolvimento precisam ser, efetivamente, aplicados em pesquisa e
desenvolvimento. Há uma legislação muito clara a respeito e, para tanto, que
sejam convidados cientistas reconhecidamente competentes e eticamente
respeitados, investidores e empreendedores comprometidos. As empresas
instaladas em Manaus, por sua vez, precisam ser mobilizadas para identicar
itens de pesquisa e desenvolvimento de que precisam e que o CBA pode oferecer.
E assim, repassar os respectivos recursos, determinados pela Lei, para os
Programas Prioritários de Bioeconomia, por exemplo. Só assim, acreditamos,
vamos derrotar o monstro da burocracia e assumir nosso papel na construção
deste novo horizonte do nosso crescimento econômico.
*Gina Moraes é advogada, formada em Direito pela Universidade Nilton Lins.