22/03/2021
Fonte: EM TEMPO
Manaus - Em entrevista, o empresário e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Nelson Azevedo, comenta o difícil momento enfrentado pela Zona Franca de Manaus (ZFM), após os últimos ataques do Ministério da Economia. Também aborda a diversificação da economia em benefício do Amazonas, "quinto pagador de impostos do Brasil".
EM TEMPO - Parece que a agonia do Polo Industrial de Manaus (PIM) não acaba nem fica pouco. A que você atribui este acirramento das relações entre a contrapartida fiscal do Amazonas e o Ministério da Economia?
Nelson Azevedo - Gostaria de acreditar que nossa comunicação tem sido falha, embora tenhamos, de nossa parte, insistido historicamente em mostrar a necessidade dessa contrapartida e seus benefícios regionais, especialmente para o Brasil. Fica complicado, porém, quando as pessoas se recusam a ouvir e avaliar a importância daquilo que fazemos. Geramos muita riqueza, 75% da qual o poder público recolhe, nem sempre devolvendo os serviços que a região e a população precisa. Se não houver esse reconhecimento, a ZFM seguirá servindo de bode expiatório para os desastres da política fiscal do país.
EM TEMPO - E qual saída você recomenda para nos afastar deste labirinto de incompreensão?
Nelson Azevedo - Temos insistido em duas frentes de atuação: construir uma aliança da Amazônia com atores envolvidos com a economia e política do desenvolvimento regional e seguir lutando por segurança jurídica. Essa aliança pela unidade é essencial, por isso devemos falar a mesma linguagem e unificar os argumentos através dos indicadores robustos que construímos nestes 54 anos.
Em relação à Segurança Jurídica, sem exorbitar nas ações de inconstitucionalidade, vale lembrar que a Suprema Corte tem sido uma aliada constante para o Brasil ao entender que se trata de uma política de Estado, portanto não há renúncia e sim compensação tributária por sermos uma região remota. Precisamos de infraestrutura e da diversificação da economia, pois a mobilização de nossos desafetos pode acabar em liquidação dos empreendimentos e empregos numa canetada.
EM TEMPO - Mas sabemos que há dificuldade para a diversificação da economia.
Nelson Azevedo - Hoje a economia do Amazonas depende em 80% do PIM. Menos mal. Mas é preciso diversificar e trabalhar em sintonia com nossa bancada parlamentar estadual e, através dela, promover a integração da bancada do Norte, para assegurar a aplicação na região da riqueza gerada pelo PIM - que hoje assiste ao Amazonas transformado no 5º maior pagador de impostos do Brasil.
Com isso, em vez de reduzir as desigualdades entre o Norte e o Sul do Brasil, estamos agravando as sequelas dessa diferenciação socioeconômica. Com esses recursos poderíamos providenciar a qualificação de nossos jovens e prover uma infraestrutura competitiva para explorar de modo sustentável nosso imenso patrimônio natural. É importante anotar o papel da Suframa e dos governos estaduais nesse mutirão em favor da Amazônia.
EM TEMPO - Os cientistas e planejadores de políticas de desenvolvimento regional têm afirmado que uma matriz econômica baseada em bioeconomia poderia, em 10 anos, dobrar a participação da Amazônia num ajuste da balança fiscal em 100% do desempenho atual do Agronegócio. Você concorda com essa afirmação?
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Uma economia não exclui a outra. Seria necessário, apenas, que houvesse maior intercâmbio de experiências"
Nelson Azevedo, vice-presidente da Fieam
Nelson Azevedo - Uma economia não exclui a outra. Seria necessário, apenas, que houvesse maior intercâmbio de experiências e uma interlocução sadia, mais construtiva. Infelizmente, a falta desses requisitos tem jogado setores da economia em lados opostos. Recentemente, apontamos os equívocos da direção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que propunha acabar com a indústria existente no Brasil, redirecionando os investimentos para a agroindústria. Não é por aí. Temos uma planta industrial consolidada nos critérios de sustentabilidade e proteção floresta. Como diz o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI): “transformar o Brasil num grande roçado, não!”.
EM TEMPO - Mas o governo acaba de lançar seu programa de bioeconomia. Isso não conta?
Nelson Azevedo - Na verdade, o próprio Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação havia criado a Rede Brasil de Bioeconomia em 2018. Esta nação é engraçada, pra não dizer vaidosa. Entra governo e sai governo e ninguém vê a continuação de boas práticas do antecessor. Ninguém é tão corrupto que não tenha capacidade de gerar boas ideias.
Curioso é observar que a nova estrutura, para o mesmo assunto, trabalha numa direção alternativa, voltada predominantemente para o agronegócio. A portaria 4.488, de 24/2/21, que recria a Rede Brasil de Bioeconomia, não menciona qualquer instituição da Amazônia, muito menos cita o Norte do país. Pode ser mais uma distração federal. Vamos torcer para que sim.