12/06/2024 08:44
A transformação da Amazônia em um centro de bioeconomia está moldando um futuro em que inovação e conservação caminham juntas, impulsionando o desenvolvimento econômico sem comprometer o meio ambiente.
“Sob o compromisso da inovação e da sustentabilidade, a região pode abrir trilhas e atalhos para uma nova era de prosperidade que seja ambientalmente responsável e economicamente viável“
Por Alfredo Lopes
A Amazônia, reconhecida globalmente por sua biodiversidade sem paralelos, é um gigantesco sumidouro de carbono, crucial para a regulação climática global e a mitigação das mudanças climáticas. Além deste propósito, o maior desafio do Brasil, onde a Amazônia concentra sua maior parcela, é transformar seu imenso potencial biológico em uma economia diversificada e sustentável, tornando-a um paradigma global de desenvolvimento econômico alinhado à conservação ambiental. Além do turismo e serviços ambientais, com efeito, a bioeconomia surge como uma das vocações mais coerentes com este monumental bioma.
Nos debates da reforma tributária, esta vocação foi debatida insistentemente. E, assim como o Vale do Silício demonstrou o impacto de investimentos e políticas públicas bem direcionadas na criação de um ecossistema inovador, a Amazônia tem o potencial para se tornar um centro global e referencial de bioeconomia. Utilizando sua rica biodiversidade como base, a região pode desenvolver novas indústrias e tecnologias que se alinhem com os princípios de desenvolvimento sustentável como exigem os desafios da mudança climática.
Diversas iniciativas já mostram como a biodiversidade amazônica pode ser utilizada de maneira sustentável. Empresas locais e startups estão desenvolvendo produtos inovadores, como novos medicamentos, cosméticos derivados de ingredientes naturais, e materiais sustentáveis que estão redefinindo as práticas industriais tradicionais. Esses casos não apenas promovem a economia local, mas também demonstram o vasto potencial econômico da biodiversidade amazônica. Temos orgulho de mencionar que estas iniciativas têm surgido a partir dos programas prioritários de bioeconomia financiados através da SUFRAMA-IDESAM com verbas de P&D, do Polo Industrial de Manaus (PIM).
A transformação da Amazônia em um hub de bioeconomia, entretanto, enfrenta desafios significativos, como a necessidade de infraestrutura de pesquisa avançada e de um ambiente regulatório facilitador. Soluções incluem o aumento dos investimentos em educação e formação de capital humano, bem como a implementação de políticas que incentivem a colaboração entre o setor público e privado e a política de incentivos fiscais para empresas que investem em tecnologias sustentáveis.
Algumas estratégias de implementação se impõem, como a utilização de matérias-primas sustentáveis, incluindo técnicas de clonagem e de inovação em borracha, bioplásticos, resinas, consolidadas pela Embrapa e demais instituições de pesquisa regional. São exemplos de como a tecnologia pode revitalizar indústrias tradicionais sem causar danos ambientais. A substituição de materiais sintéticos por alternativas biodegradáveis, como a fibra de curauá, representa um passo importante na redução da pegada ecológica da indústria.
Fomento à pesquisa e desenvolvimento, portanto, é crucial. E sugere o fortalecimento e multiplicação de Centros de Bionegócios da Amazônia (CBA), a partir das verbas de P&D na Zona Franca de Manaus, além das verbas estaduais já existentes de fomento de micro e pequenas empresas. Isso poderia catalisar a inovação, atraindo investimentos e parcerias estratégicas nacionais e internacionais, e fortalecendo a posição da Amazônia como líder mundial em bioeconomia.
Já dispomos, desde os primórdios da ZFM, de políticas de sustentabilidade, de qualidade e de proteção florestal como premissas da contrapartida fiscal, inseridas dentro do Processo Produtivo Básico (PPB). Isso pode ser claramente observado nas atividades industriais de setores como, por exemplo, de duas rodas, cada vez mais envolvidos com a preservação ambiental e à implantação de políticas ESG.
Ou seja, certificações ambientais e incentivos governamentais são essenciais para garantir que as práticas industriais na Amazônia sejam cada vez mais sustentáveis, e a diversificação, adensamento e interiorização do desenvolvimento, mais perenes. Estas políticas ajudariam a atrair novos negócios, garantindo que o crescimento econômico da região sempre beneficie e proteja o meio ambiente.
Educação, portanto, aliada ao engajamento da comunidade são diretrizes vitais. Os investimentos em educação e capacitação da força de trabalho local vão garantir que a comunidade se beneficie das novas oportunidades e assuma seu protagonismo na mudança. Campanhas de conscientização podem aumentar mais ainda o apoio público às iniciativas de conservação e disseminação de benefícios às novas gerações. Adicionalmente, um sistema de monitoramento e avaliação ajudaria a assegurar que as atividades industriais na Amazônia sejam conduzidas de forma responsável, minimizando impactos negativos no ambiente.
Por fim, a Amazônia tem uma oportunidade única de liderar o mundo em bioeconomia, mostrando que é possível crescer economicamente de forma sustentável. Sob o compromisso da inovação e da sustentabilidade, a região pode abrir trilhas e atalhos para uma nova era de prosperidade que seja ambientalmente responsável e economicamente viável. Agora é o momento de agir, transformando potencial em realidade.
Alfredo é filósofo, e foi professor por muitos anos na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo (PUC-SP), voltou para sua terra natal e hoje é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), ensaísta e cofundador do portal BrasilAmazôniaAgora.
Fonte: BrasilAmazôniaAgora