14/04/2025 09:06
“É hora de superar a visão estreita que reduz o PIM a uma renúncia fiscal. Trata-se de uma engrenagem complexa e virtuosa, um modelo de soberania regional, equilíbrio federativo e integração da floresta à economia do século XXI. É, sem dúvida, um ativo estratégico do Brasil diante dos desafios globais da transição energética, do combate às desigualdades e da construção de um novo pacto verde.”
Artigo de André Ricardo Costa e Alfredo Lopes
Em tempos de revisão de modelos e paradigmas, o Polo Industrial de Manaus (PIM) se impõe como um exemplo concreto de como desenvolvimento econômico e compromisso social podem caminhar juntos. Longe de ser apenas um polo fabril incentivado por políticas fiscais, o PIM tem se consolidado como uma verdadeira plataforma de coesão social e territorial, capaz de estruturar políticas públicas, promover estabilidade no emprego e gerar impacto fiscal de envergadura nacional.
Dados da Nota Técnica 38 do CIEAM – Cfr. o conteúdo integral abaixo- revelam que a indústria de transformação do Amazonas paga o quarto maior salário médio do país, superando potências industriais como Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais. Além disso, é o setor que mais retém trabalhadores no emprego e que oferece condições diferenciadas de trabalho, incluindo transporte porta a porta, planos de saúde, creches, lazer e cesta básica — elementos que fortalecem a dignidade do trabalhador.

Mas os diferenciais do modelo vão muito além do holerite. Estão na forma como o ecossistema produtivo se compromete com o tecido social do estado: cerca de R$ 4 bilhões por ano são repassados por essas indústrias a fundos estratégicos, que garantem desde o funcionamento da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) até o fomento de micro e pequenas empresas. Recursos que sustentam o turismo, a interiorização do desenvolvimento e programas de solidariedade.
Essa riqueza gerada localmente não para por aí. O Amazonas responde por 50% da arrecadação federal de toda a Região Norte, colocando o estado entre os oito maiores arrecadadores da União. Trata-se de um modelo que, ao contrário do que muitos dizem, não consome recursos públicos — ele os multiplica e redistribui com inteligência, justiça e impacto.
É hora de superar a visão estreita que reduz o PIM a uma renúncia fiscal. Trata-se de uma engrenagem complexa e virtuosa, um modelo de soberania regional, equilíbrio federativo e integração da floresta à economia do século XXI. É, sem dúvida, um ativo estratégico do Brasil diante dos desafios globais da transição energética, do combate às desigualdades e da construção de um novo pacto verde.
Enquanto muitos falam em ESG, o Polo Industrial de Manaus pratica, todos os dias, uma visão ampliada de responsabilidade social e ambiental. Cabe ao país enxergar nessa experiência não um problema a ser resolvido, mas uma solução a ser promovida.
Nota técnica 38
Salários Médios – Comparação entre os setores econômicos do Amazonas e a indústria de transformação do Amazonas diante do Brasil
– A presente Nota Técnica tem o objetivo de localizar a renda média paga aos trabalhadores da indústria amazonense entre os demais setores da economia amazonense e a renda média paga aos trabalhadores industriais dos demais estados brasileiros;
– Os dados são disponibilizados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, pelas bases RAIS e CAGED. O locus de obtenção dos dados foi a plataforma bi.mte.gov.br/bgcaged/rais.php. Os dados estão atuais até dezembro de 2024, organizados pelos grandes setores econômicos na classificação do IBGE;
– Ainda que o website não disponibilize notas metodológicas, presume-se que a remuneração média é obtida pela divisão entre total de salários pagos e o total de vínculos trabalhistas em 2024. A tabela abaixo apresenta o ranking;
Tabela 01: Ranking grandes setores econômicos de Manaus, conforme o salário médio. Fonte: MTE
Ranking | Setor | Salário médio |
1 | Extrativa mineral | 19.272 |
2 | Administração Pública | 6.063 |
3 | Serviços de utilidade pública | 4.983 |
4 | Indústria de transformação | 3.420 |
5 | Serviços | 2.506 |
6 | Construção Civil | 2.318 |
7 | Comércio | 2.307 |
8 | Agropecuária e extrativismo florestal | 2.086 |
– Da tabela acima se conclui que o PIM paga o quarto maior salário médio entre os oito grandes setores econômicos de Manaus, no valor de R$ 3.445. Os três primeiros, extração mineral, administração pública e utilidade pública, registram elevados salários médios porque não são grandes empregadores. Isso será explicado mais abaixo. Entre os grandes empregadores, a indústria de transformação é, no Amazonas, quem melhor remunera e mais demora a demitir, é o setor em que os trabalhadores ficam mais tempo no emprego. Essas observações são validadas pela tabela abaixo.
Tabela 02: Dados gerais de empregos do AM. Fonte: MTE
Setor | Estoque de empregos | Tempo de emprego (meses) |
Serviços | 256.083 | 16,5 |
Indústria | 140.756 | 26,9 |
Comércio | 126.919 | 19,6 |
Construção | 29.979 | 14,3 |
Agropecuária | 4.4643 | 16,3 |
– Para retornar a alguns números da Tabela 01, principalmente os elevados valores de remuneração das indústrias extrativas, é necessário destacar alguns detalhes embutidos da Tabela 02 para apontar os números de empregos totais das indústrias extrativas, de utilidade pública e serviços da administração pública. Esses números são destacados na Tabela abaixo:
Tabela 03: Dados gerais de empregos do AM, destaque a setores específicos. Fonte: MTE
Setor | Estoque de empregos | Tempo de emprego (meses) |
Serviços | 256.083 | 16,5 |
– Administração pública | 49.223 | 30,1 |
Indústria | 140.756 | 26,9 |
– Transformação | 124.029 | 26,7 |
– Saneamento | 4.783 | 21,3 |
– Eletricidade e Gás | 2.805 | 68,4 |
– Extrativas | 409 | 14,4 |
Construção | 29.979 | 14,3 |
Comércio | 126.919 | 19,6 |
Agropecuária | 44.643 | 16,3 |
– Da tabela acima é possível destacar, dentre o setor de serviços, aqueles relacionados à Administração Pública. São quase 50 mil servidores públicos no Amazonas, estatutários ou não, com um tempo médio de pouco mais de 30 meses no emprego. Dentre esses 50 mil é que se obtém a remuneração média de R$ 6.063. E os demais empregados do setor de Serviços, cerca de 213 mil, recebem em média R$ 2.506, como também aponta a tabela 01;
– A indústria extrativa e os serviços de utilidade pública ao mesmo tempo têm reduzidos montantes a serem base de divisão para compor a média e ainda guardam, em suas naturezas, reminiscências dos tempos em que eram operados por empresas estatais, sendo que em certas atividades ainda o são.
– Os serviços de saneamento está em forte expansão, e sua reminiscência ao tempo da Cosama é mais distante. Daí o tempo médio de 21 meses no emprego. Contudo, os serviços de utilidade recebem, da parte de geração e distribuição de eletricidade, forte reminiscência dos salários e tempo de serviço das estatais, pelo que não conseguiram expandir a mesmo ritmo que saneamento, e preservam elevados salários, sobretudo ao acrescentar o papel da Cigás, pela distribuição de gás, por isso a remuneração de R$ 4.983 observada na tabela 01.
– A indústria extrativista é onde o empreendedorismo estatal ainda é a regra, com a extração de petróleo e gás pela Petrobrás em Urucu, seus funcionários diretos somam aos funcionários diretos da Eneva em Silves e aos funcionários diretos na mina do Pitinga e perfazem o estoquede 409 empregados na indústria extrativista, explicando a remuneração média de R$ 19.272 da Tabela 01.

– Tem-se demonstrado o modo como a indústria de transformação é no Amazonas, quem melhor remunera o trabalho entre os grandes setores empregadores do Amazonas. Falta localizar os salários pagos na indústria do Amazonas entre a indústria de outras capitais brasileiras.- Ainda com dados do MTE, a Tabela 04, abaixo, apresenta o ranking completo da remuneração média da indústria de transformação entre as capitais brasileiras. Surpreendentemente, a indústria de transformação amazonense é a que paga o quarto maior salário médio do Brasil.
– Surpreende que a indústria de transformação amazonense supere a de Santa Catarina, onde há a sede da WEG, entre as marcas industriais de maior sucesso no Brasil dos últimos anos. E do Paraná, sede de marcas industriais como Positivo e Multilaser.
– Entre os estados com tradição industrial, é natural que São Paulo e Rio Grande do Sul tenham remunerações superiores. Merece explicação que o estado do Rio de Janeiro seja em primeiro lugar. É uma explicação semelhante à apresentada para a indústria extrativista do Amazonas. Com poucos empregos e estabelecimentos industriais, no Rio de Janeiro há uma das maiores refinarias do Brasil, Duque de Caxias, de propriedade e operação direta pela Petrobrás, que direciona os elevados salários. Há também o papel da indústria naval.
Tabela 04: Ranking de remuneração média da indústria de transformação. Fonte: MTE
Ranking | UF | Salário Médio, em R$ |
1 | Rio de Janeiro | 4.381 |
2 | São Paulo | 4.361 |
3 | Rio Grande do Sul | 3.457 |
4 | Amazonas | 3.420 |
5 | Santa Catarina | 3.233 |
6 | Paraná | 3.223 |
7 | Mato Grosso do Sul | 3.145 |
8 | Minas Gerais | 3.041 |
9 | Espírito Santo | 3.002 |
10 | Mato Grosso | 2.989 |
11 | Goiás | 2.968 |
12 | Bahia | 2.702 |
13 | Pará | 2.643 |
14 | Maranhão | 2.616 |
15 | Distrito Federal | 2.560 |
16 | Pernambuco | 2.551 |
17 | Tocantins | 2.518 |
18 | Rondônia | 2.332 |
19 | Alagoas | 2.276 |
20 | Ceará | 2.128 |
21 | Paraíba | 2.045 |
22 | Sergipe | 2.038 |
23 | Rio Grande do Norte | 2.014 |
24 | Amapá | 1.962 |
25 | Acre | 1.935 |
26 | Piauí | 1.864 |
27 | Roraima | 1.800 |
Coluna follow-up – sob a responsabilidade do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, e coordenação editorial de Alfredo Lopes, é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras no Jornal do Comércio do Amazonas e no portal BrasilAmazôniaAgora.com.br
Fonte: BrasilAmazoniaAgora