12/12/2013 11:47
Tesouro incalculável
O Instituto Nacional do Câncer, nos Estados Unidos, estima que 25% de todas as substâncias usadas para tratamento de tumores no mundo, hoje, venham de florestas tropicais. Aqui, também, adormece na expectativa de investimentos, a cura da Aids, da tuberculose, o retardo e gestão da velhice do organismo humano. Apesar disso, só temos 500 cientistas, quase todos idosos e em vias de aposentar. E somente o campus da USP - Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, tem mais pesquisadores do que todo o estado do Amazonas. Enquanto a unidade de Piracicaba põe no mercado dezenas de itens da floresta amazônica, aqui quase nada acontece, pois a estrutura de gestão academia, pesquisa e mercado na região é simplória. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul tem mais que o dobro do número de pesquisadores do Pará, o estado líder na região em matéria de cientistas qualificados. A Universidade de São Paulo tem o triplo de doutores de toda a Amazônia. A região é cenário de 18% das pesquisas em biodiversidade no Brasil, contra 36% da Mata Atlântica, embora essa última represente 2% da Amazônia. Com seus insumos para cosméticos e fármacos, além da aquicultura, uma indústria de proteína de primeira qualidade e sabor inigualável, a Amazônia está à espera do seu descobrimento, meio milênio depois que os Viajantes Europeus entenderam sua dimensão e valor.
Pesquisadores escassos
A falta de pesquisadores é agravada pela baixa qualidade dos cursos de formação de cientistas. Nenhum curso de mestrado ou doutorado de universidades amazônicas alcança a nota máxima, 7, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), instituição ligada ao Ministério da Educação. A maior parte leva 3, a nota mínima para não fechar as portas. Por isso ainda cabe insistir na definição do prédio erguido em meio às indústrias da Zona Franca de Manaus – ao custo de R$ 120 milhões das verbas da Suframa, ou seja, das taxas recolhidas pelas empresas – serve de símbolo do quadro desolador da pesquisa científica e sua relação com o mercado na região. Eis o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), inaugurado em 2002 e dotado de 25 laboratórios para emplacar um centro de excelência em biotecnologia na Amazônia. Para o comandante militar da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia é como uma colônia do Brasil. "Ela não está integrada ao país e, portanto, não há conhecimento de sua realidade e potencial", diz o general Eduardo Villas Bôas, 61, desde 2011 à frente de 19 mil homens e 9.300 km de fronteiras. Ele citou a ausência estatal na floresta, criticou a política indigenista oficial, alertou sobre a ação de ONGs na região e aprovou, com ressalvas, o programa Mais Médicos.
Vulnerabilidade e isolamento
Para o general, numa entrevista recente à Folha, “As reais necessidades da população da Amazônia chegam ao centro-sul de maneira distorcida. Com isso, monta-se uma base de conhecimento desfocada, com soluções não apropriadas. A população, principalmente no interior, não tem necessidades básicas atingidas. Em grande parte, não há nenhuma presença do governo do Estado. Em algumas áreas as Forças Armadas são essa única presença.” E esse distanciamento se reverte em grande vulnerabilidade que afeta o país como um todo. Estamos no século 21 e o Brasil com sua dimensão continental não tem um satélite. “Não vamos ter autonomia total enquanto não tivermos nossos satélites.” Indagado sobre o papel das ONGs, ele destacou aquelas que, efetivamente, ajudam e aquelas que agem sem controle e focadas em outros interesses. "Veja a dificuldade para asfaltar a BR-319 que liga Manaus e Porto Velho. Em 2009, o braço brasileiro da ONG americana Conservation Strategy Fund divulgou estudo afirmando que a reforma da estrada traria prejuízo. É uma rodovia que já existiu, não gerou desflorestamento, não houve prejuízo ambiental. Mas o governo não consegue fazer... é um absurdo. Manaus está conectada à Venezuela, mas não ao restante do Brasil. É extremamente difícil viabilizar a recuperação dessa rodovia, são forças que realmente têm capacidade de intervir e inibir isso. E muito por causa do fundamentalismo ecológico. Não se faz omelete sem quebrar o ovo, se vou lançar um gasoduto, alguma árvore vou derrubar. É uma visão pragmática.”
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 12.12.2013