14/12/2023 08:35
“A COP 28, realizada em Dubai, destacou um conjunto de urgências das ações econômicas, sociais e ambientais para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. A condenação dos combustíveis fósseis emergiu como uma prioridade, sobretudo dos países do chamado Sul Global. E como solução imediata se impôs a necessidade urgente de recuperar as florestas com novos ciclos e ciclovias em nome da vida”.
Por Alfredo Lopes - BrasilAmazoniaAgora – Coluna Follow-up (*)
A crescente frequência de fenômenos extremos, desde aquecimento até inundações, exige a redução drástica das emissões de combustíveis responsáveis pelo aquecimento global. Essas medidas têm implicações diretas na vida de populações que já enfrentam deslocamentos em debandada de suas terras de origem devido ao aumento do nível do mar.
Uma das soluções práticas é a transição para veículos com emissão zero, como motocicletas movidas a biocombustíveis ou eletricidade, e as bicicletas, impulsionadas pela energia humana. Além de contribuírem para a redução de emissões, essas opções promovem benefícios à saúde, fortalecendo capacidades cardíacas e respiratórias, para começo de conversa.
Por sua vez, em tempos de ondas de calor, na recomendação de recomposição florestal, o papel das árvores é fundamental. Além de serem aparelhos naturais de ar-condicionado, equilibrando o clima e a umidade natural, elas desempenham um papel crucial na retenção de umidade da chuva e na revitalização do solo e do ar. O reflorestamento, portanto, é essencial e terapêutico para promover uma convivência sustentável entre as pessoas e a natureza.
Os debates foram intensos e os interesses nem sempre convergentes. Mas ganhou aplausos a iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que se uniu a 16 bancos públicos de fomento dos países da bacia amazônica, em parceria com Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial e Corporação Andina de Fomento (CAF). O movimento deve mobilizar entre US$ 10 e US$ 20 bilhões para negócios e iniciativas na região até 2030. Pioneira na promoção do reflorestamento e desenvolvimento sustentável na Amazônia, a aliança internacional terá seu Comitê Diretor presidido pelo BNDES. O anúncio ocorreu no início da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 (COP28), em Dubai.
Foram múltiplas as sugestões, dramáticos os depoimentos o que sugere emergência de soluções. No day after, porém, e para compor a paisagem, temos algumas medidas já em curso. Uma delas, em atendimento à redução das emissões, é a mobilidade urbana pelo mundo afora. Daí o papel da produção de veículos de duas rodas, referência histórica da sustentabilidade, representada pelo Polo de Duas Rodas na Zona Franca de Manaus. Concomitante ao investimento no reflorestamento, este polo traduz passos significativos na transformação dos paradigmas predatórios que os veículos movidos a combustão sinalizam. Mesmo as motocicletas, com baixíssimo teor de emissões, seus fabricantes cuidam destes resíduos há décadas com alta tecnologia de filtragem. E a transição para a eletrificação já caminha a passos largos. Isso aponta para uma coexistência urbana e humana mais saudável e equilibrada. Essa combinação promissora de inovação tecnológica e respeito ambiental pode moldar um futuro climático equilibrado para as gerações vindouras.
No contexto brasileiro, porém, ainda enfrentamos um desafio significativo no cenário ambiental. De acordo com dados do Global Forest Watch (GFW), o Brasil liderava a perda de floresta primária até 2021, registrando a alarmante cifra de 1,5 milhão de hectares. Os esforços até aqui são de recomposição emergencial. Essas áreas, essencialmente intocadas pelo homem, estão em declínio, impondo a urgência de ações para reverter esse quadro. A situação se agravou ainda mais com um estudo publicado na revista Nature, apontando que a Floresta Amazônica está perdendo resiliência e transformando parcelas florestais significativas em savana. Por isso, a iniciativa do BNDES chega na melhor hora.
O aumento do desmatamento, as mudanças climáticas e os incêndios recentes contribuem para essa transformação. A cultura predatória vai além da perda de biodiversidade; envolve a alteração dos padrões de precipitação, afetando diretamente a produção agrícola, peça fundamental na economia brasileira. Ao considerar medidas de reflorestamento, é essencial compreender que não se restringe apenas às áreas primárias. Conservar áreas verdes dentro das zonas urbanas é uma estratégia vital, especialmente com o rápido crescimento populacional nesses territórios.
A preservação de espaços verdes em ambientes urbanos oferece uma série de benefícios substanciais. A melhoria na qualidade do ar é um desses pontos positivos, conforme evidenciado por pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS). O dado alarmante de que 92% da população mundial vive em locais com qualidade do ar abaixo das recomendações da OMS destaca a gravidade dos problemas de saúde pública relacionados à má qualidade do ar, causando aproximadamente 3 milhões de mortes anuais por problemas respiratórios. Assim, a urgência de reverter a perda de florestas primárias no Brasil se entrelaça com a necessidade de promover áreas verdes urbanas.
Essas ações não apenas resguardam a biodiversidade, mas também ressignificam a relação entre homem e natureza, contribuindo para uma coexistência mais sustentável e saudável. A mudança de paradigmas em direção à descarbonização, portanto, traz consigo benefícios abrangentes, impactando positivamente a mobilidade urbana, a saúde das pessoas, o combate ao sedentarismo e suas consequentes doenças, além de vantagens para a economia, o clima e as novas gerações.
Veículos com zero emissões ou tecnologias de combustíveis limpos contribuem significativamente para a melhoria da qualidade do ar nas áreas urbanas, reduzindo a poluição atmosférica e seus impactos na saúde pública. Menos poluição do ar resultante da descarbonização está diretamente ligada à diminuição de doenças respiratórias, melhorando a qualidade de vida das comunidades urbanas.
A promoção de meios de transporte ativos, como caminhadas, bicicletas e outros modos não motorizados, estimula a atividade física regular, beneficiando a saúde cardiovascular, muscular e mental da população. Ou seja, a preferência por meios de transporte não motorizados reduz a dependência de veículos particulares, combatendo o sedentarismo associado ao estilo de vida moderno.
Investir em tecnologias de energia limpa e modos de transporte sustentáveis impulsiona a inovação, criando oportunidades para novos setores econômicos e aumentando a competitividade global.
De quebra, a redução das emissões de carbono provenientes do setor de transporte contribui diretamente para a mitigação das mudanças climáticas, preservando ecossistemas e reduzindo eventos climáticos extremos.
Meios de transporte mais sustentáveis podem melhorar a acessibilidade, promovendo inclusão social ao oferecer opções de mobilidade mais acessíveis para diferentes grupos populacionais. Em suma, a cultura do carbono neutro precisa ser assimilada desde a mais tenra idade. E isso remete à transição para uma mobilidade descarbonizada que protege recursos naturais, garantindo que as gerações futuras possam desfrutar de um ambiente limpo, agradável e sustentável.
(*) Alfredo é cofundador do portal BrasilAmazoniaAgora, uma trincheira de defesa da Amazônia e da economia sustentável do Polo Industrial de Manaus.
Fonte: BrasilAmazôniaAgora