14/11/2014 16:21
O capital humano
A educação terá papel ainda mais crucial nesta nova fase da indústria de enfrentamento de seus embaraços. Os trabalhadores deverão estar muito melhor preparados para lidar com as novas tecnologias de produção e de organização da produção que determinam a competitividade das empresas e a prosperidade das nações, condicionando a eficiência com que se produz, a capacidade criativa das pessoas e a agregação de valor aos produtos e serviços. Por isso, as empresas e os países precisarão cada vez mais de pessoas talentosas e bem treinadas para promover e sustentar o crescimento de longo prazo. Essa premissa é válida tanto para países desenvolvidos quanto em desenvolvimento. A educação eleva a produtividade. Por isso, o maior desafio do sistema educacional formal e profissional brasileiro é o de preparar os jovens e adultos para um mercado de trabalho em profunda mutação tecnológica e organizacional. Porém, a baixa escolaridade da população brasileira e a baixa qualidade da educação são fatores que interferem na capacidade dos trabalhadores de interagir com as novas tecnologias e métodos de produção, com efeitos negativos para a produtividade e a competitividade e, consequentemente, para o crescimento econômico sustentado. O Brasil reduziu a desigualdade de renda e índices da pobreza. Embora novas oportunidades de trabalho continuem surgindo, a educação continua sendo requisito importante para a determinação da renda do trabalho e para a promoção da queda da pobreza e da desigualdade. Por isso, o aumento das oportunidades de acesso à educação ainda é decisivo para elevar a renda do trabalhador, mas o grande salto que ainda precisa ser feito, e que beneficiará a todos – trabalhadores e suas famílias, empresas e o país –, é o da qualidade da educação, condição para o aumento da competitividade e para o crescimento sustentado.
Promoção humana e produtividade
Os serviços já respondem por 70% do PIB e por quase 74% do emprego formal no Brasil. A produtividade do trabalho no setor, porém, é muito baixa e tem crescido muito pouco ao longo do tempo, o que ajuda a explicar os preços elevados e a baixa qualidade dos serviços em geral. O problema é que essas deficiências não são neutras. Isto porque os serviços são determinantes para a competitividade da indústria e de outros setores que os utilizam como insumos. Em 2011, os serviços correspondiam a nada menos que 64,5% do valor adicionado da indústria de transformação a 39,6% do valor adicionado da indústria extrativa. A educação é fundamental para que o país esteja pronto para enfrentar os efeitos da rápida transformação demográfica. O grupo etário de crianças e jovens está diminuindo; já o de 60 anos ou mais está aumentando e em breve superará o segmento de crianças e jovens. A queda absoluta e relativa da população de crianças e jovens facilitará a tarefa de melhorar a qualidade da educação. Se mantidos os percentuais de investimento do PIB em educação, juntas, a economia e a demografia farão os investimentos públicos em educação por aluno saltarem de 20% para 25% do PIB per capita, taxa elevada para os padrões internacionais. De qualquer forma, contudo, a realidade demográfica brasileira é muito diversa em nível regional e precisa estar contemplada nas políticas de educação. A nova geografia da produção e da inovação está transformando a economia mundial através das novas tecnologias de produção e de organização da produção e da integração dos mercados. O Brasil precisa contar com uma população trabalhadora bem educada para que possa fazer frente aos novos desafios, mas também, se beneficiar das muitas oportunidades da globalização. A educação não é panaceia. Mas a história econômica do último século mostra que ela ajuda a determinar os destinos das nações. E, ao que tudo indica, a sua importância aumentará ainda mais na era do conhecimento e da mundialização dos mercados que já se descortinam.
Algumas Recomendações
A lista de sugestões e orientações da CNI é extensa e multidisciplinar. Eis algumas delas: 1. O aprimoramento das condições para que as escolas possam entregar melhores resultados. Embora necessárias, políticas convencionais de melhoria da educação não serão suficientes nem estão preparadas para dar conta dos novos desafios educacionais e tecnológicos que nos confrontam. Mais importante que mais recursos e melhores salários é a necessidade de se criar condições para que os professores e as escolas possam entregar aos alunos uma educação de qualidade. É preciso focar mais na qualidade da educação básica, adequar os currículos aos novos requerimentos do mercado de trabalho, monitorar professores, distribuir e alocar recursos com base em resultados e em meritocracia, melhorar a gestão dos recursos, introduzir as melhores práticas de gestão, governança e transparência nas unidades de ensino, imputar responsabilidades aos professores, diretores e profissionais de ensino e criar condições adequadas de trabalho para se atrair e reter os melhores e mais talentosos profissionais da área da educação. 2. Capacitar as crianças e jovens para participarem da era do conhecimento. Para isso, os currículos devem incorporar atividades e conteúdos que os capacitem a participar ativamente do mundo e do mercado de trabalho que os aguarda. Essas atividades deverão ir muito além de acesso à internet, jogos e outros recursos. Elas deverão privilegiar o desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento de capacidades para se encontrar soluções de problemas complexos. A elevação da carga de ensino de português, matemática e de outras ciências será particularmente útil para esse fim. Essas capacidades serão fundamentais para preparar os jovens para ambientes de trabalho cada vez mais tecnológicos e de atividades interativas e menos de atividades manuais e repetitivas. 3. Reduzir a disparidade de educação. É preciso desenvolver e implementar políticas que reduzam as enormes disparidades de capital humano entre pessoas e entre empresas em razão de seus efeitos negativos sobre o desempenho coletivo. É necessário definir metas mínimas de conhecimento para os estudantes e para as escolas; distribuir os recursos financeiros e humanos (professores, coordenadores etc.) de forma que as escolas e estudantes com pior desempenho tenham mais e melhores recursos; estabelecer currículo em nível nacional, incluindo a definição de material didático básico; criar forças-tarefas para apoiar estados e municípios a alcançarem as metas; desenvolver políticas de educação profissional de maneira que as empresas com maiores deficiências de acesso a capital humano recebam mais atenção; e desenvolver programas de educação profissional adequados à realidade daquelas empresas e setores.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 14.11.2014