CIEAM | Centro da Indústria do Estado do Amazonas CIEAM | Centro da Indústria do Estado do Amazonas

Coluna do CIEAM

Educação: o pacto e o desafio

  1. Principal
  2. Coluna do CIEAM

11/02/2015 14:27

Há dois anos, às vésperas do 46º aniversário da Zona Franca de Manaus, representantes do Centro da Industria do Estado do Amazonas (Cieam), Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) e outras organizações, que hoje já somam quase duas dezenas, assinaram, no auditório da Suframa, o Pacto pela Educação. A iniciativa, inicialmente modesta, e movida operacionalmente pela boa vontade operacional de alguns dos envolvidos, visava aproximar o setor produtivo das entidades de ensino superior e profissionalizante para promover o alinhamento dos cursos de graduação e profissional, de acordo com a demanda da indústria, comércio e setor agropecuário/extrativista por trabalhadores qualificados. Além da carência de técnicos e engenheiros nas fábricas do PIM, onde 36% dos profissionais de nível técnico, 33% dos engenheiros e 31% dos trabalhadores de nível superior ainda são oriundos de outros estados, estudos e relatos do Pacto, OCDE, PISA... confirmam a tragédia educacional pela qual atravessa o país em geral e o Amazonas muito em particular, onde o ensino fundamental e médio, segundo alguns indicadores, em lugar de formar, estão deformando os jovens, não apenas em Ciências, Matemática e Linguagem, mas também em valores humanos e éticos. Respeito, solidariedade, honestidade, responsabilidade... são algumas das deformações graves que aparecem no cotidiano das empresas. As empresas precisam, além de técnicos qualificados do ponto de vista do conhecimento e do desempenho cotidiano, cidadãos responsáveis no exercício profissional, éticos, proativos, comprometidos com a organização, a sociedade em que vivem e o país em que nasceram. O desafio educacional, portanto, é amplo, interdisciplinar e interinstitucional e exige que a sociedade, os gestores públicos, educacionais e demais entes relacionados à gravidade dessa situação estejam atentos e mobilizados para seu equacionamento.

Voluntariado e profissionalismo


Educação, o único fator real e essencial de transformação da sociedade, é coisa muito séria. Merece aplauso a atitude de todos os envolvidos, graciosamente, nas iniciativas para enfrentamento da questão. Por sua gravidade, urgência e necessidade, entretanto, Educação não se enfrenta com voluntariado, mas com vontade política e prioridade institucional. Os atores do Pacto, incluindo as entidades públicas que gerenciam o modelo ZFM, e as entidades representativas do setor privado, as empresas que sustentam a economia e, a partir dela, toda a base material da vida social, podem, devem e precisam profissionalizar a mobilização dos atores dessa iniciativa. Isso não pode ser tratado como uma ação altruísta das horas de folga de pessoas diferenciadas e comprometidas com o bem-comum. A Confederação Nacional da Indústria – na interface com a sociedade – trata a questão com profissionalismo. Em 2010, num estudo inédito e rigoroso, a entidade traçou o perfil da Educação para o Mundo do Trabalho que se transformou em guia para as suas associadas tratarem do tema com a seriedade que ele merece e a gravidade que representa a manutenção de seu status. A entidade mobiliza periodicamente 25 membros de seus Conselhos Temáticos, onde atuam técnicos qualificados, para discutir educação brasileira, nos vários níveis e modalidades, a partir da visão da indústria e com o objetivo de promover uma formação de qualidade para os jovens, de modo a capacitá-los para os desafios do mercado. O Conselho também identifica e apoia a difusão de boas práticas educacionais, além de recomendar ações que fortaleçam a educação no país e o desenvolvimento do empreendedorismo. Voluntariado é sintoma da situação dramática, mas não a solução eficaz e efetiva para seu equacionamento, que demanda parcerias institucionais e um projeto de ações estratégicas com objetivos, cronogramas e resultados, com as respectivas estruturas e condições de viabilidade. No caso da CNI, a iniciativa é moeda de troca, e fator de autoridade, nas negociações com o poder público.

Educação: os países estão trabalhando

Em janeiro último, em amplo caderno da BBC Brasil, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicou um estudo em que estão assinalados: o que os países ricos estão fazendo para melhorar a educação? O Estudo inédito analisou 450 iniciativas de 34 países para melhorar educação, preocupados em aperfeiçoar seus sistemas de ensino. A mudança mais popular no grupo, que reúne majoritariamente países ricos e não inclui o Brasil, diz respeito à preparação dos estudantes para o mercado de trabalho, voltado principalmente para o ensino profissional e técnico. Este tipo de mudança tem forte impacto, segundo especialistas, na produtividade dos trabalhadores - o que colabora para fortalecer a economia dos países. A segunda reforma mais popular envolveu melhorias no ambiente escolar, com foco principalmente na preparação de professores. A OCDE analisou iniciativas adotadas nos últimos sete anos. Segundo a organização, ainda é preciso analisar os resultados da maior parte destas políticas. Embora os pesquisadores ressaltem que as soluções dizem respeito a cada país e não podem ser simplesmente copiadas para outras realidades, algumas ideias podem fornecer material para o debate geral de como melhorar a educação. Um dos grandes acertos relaciona mercado de trabalho ou continuidade dos estudos. Quase um terço (29%) das reformas implementadas tiveram como objetivo preparar os estudantes tanto para o mercado de trabalho como para continuar seus estudos. O foco principal foram reformas nos sistemas nacionais de ensino profissional ou técnico. Portugal, por exemplo, criou uma estratégia com o objetivo de aumentar o número de jovens matriculados no ensino profissional. Os cursos oferecidos são compatíveis com a demanda do mercado de trabalho. Outra inovação: estão em teste programas de ensino profissional que começam mais cedo, a partir dos 13 anos. Já a Dinamarca reformou seu sistema de ensino profissional com foco na redução da desistência.

Melhorias no ambiente das escolas


Reduzir o número dos alunos por turma, implementar reformas curriculares e, principalmente, capacitar professores foram o objetivo de 24% das reformas analisadas. A Austrália criou um instituto dedicado apenas ao aprendizado de professores, e a Holanda desenvolveu um programa que visa a atrair os melhores estudantes para faculdades de educação. Já a França reformulou o conteúdo e a estrutura de seus programas de treinamento de educadores, criando escolas que aliam treinamento prático ao teórico. Isso significa garantir qualidade e equidade na educação. As reformas implementadas pelos países da OCDE também tiveram como objetivo implementar políticas para garantir que todos os cidadãos tenham acesso a um nível mínimo de educação, independentemente de circunstâncias pessoais ou sociais. Ações deste tipo foram 16% das implementadas. O Chile, por exemplo, introduziu um sistema que proíbe que a seleção para escolas de ensino fundamental tenha como critério renda ou performance. A regra também limita a possibilidade de as escolas expulsarem alunos com resultados ruins. Na Nova Zelândia, foram implementadas estratégias para melhorar a educação dos maoris, população nativa que representa cerca de um quarto dos habitantes do país. Entre as iniciativas está um programa para engajar adolescentes com idades entre 14 e 18 anos na área de educação. Na Inglaterra, um programa concede fundos adicionais às escolas para que elas consigam manter nas classes crianças em risco social. A ideia teve um impacto positivo. Adicionalmente, os Sistemas de avaliação são considerados importantes pela OCDE porque apontam áreas em que é preciso melhorar. Implementar essas políticas, que visam a medir os resultados tanto dos alunos quantos das escolas, responderam por 14% das reformas. No México, um instituto nacional de avaliação ganhou, em 2013, autonomia para desenvolver uma estratégia de acompanhamento válida para todo o país. Padronizar as avaliações facilita a comparação de resultados. Na Itália, um projeto piloto acabou sendo expandido devido a seu sucesso. O projeto permite que as escolas decidam se serão avaliadas ou não. O processo envolve uma auto-avaliação da escola e uma avaliação externa, que é usada para estabelecer metas. Essas informações são divulgadas publicamente.

Financiamento e Governança


Conseguir melhorar as formas de financiar os sistemas de educação é um dos grandes desafios das escolas. Incrementar o financiamento foi o objetivo principal de 12% das medidas avaliadas. Nos EUA, teve início em 2009 o programa Race to the Top, que atrela o financiamento das escolas à implementação de reformas e inovações na área de educação. Os Estados recebem fundos com base em seus planos para o futuro e também na qualidade dos professores, alunos e escolas. Eles precisam também ter competência para processar dados e informações estatísticas de educação. Na Alemanha, dentro de um projeto criado para estimular a atividade econômica durante a crise financeira, o governo federal deu apoio a investimentos de Estados e comunidades em educação. Foram destinados 8,7 bilhões de euros (cerca de R$ 26,5 bilhões) a áreas como educação infantil, estrutura escolar e universitária e pesquisa. E, por fim, o tema da Governança. A organização do sistema educacional e a definição de uma política nacional de educação foram foco das ações de 9% das reformas. Ter uma estratégia nacional é importante, de acordo com estudiosos, porque proporciona parâmetros que devem ser seguidos nacionalmente. Na Dinamarca, uma reforma nas escolas públicas, possibilitada por um acordo que envolveu todos os partidos políticos, foi feita para elevar expectativas, simplificar objetivos curriculares e abrir escolas para as comunidades. Já a Estônia estabeleceu cinco metas para a educação no país. Entre elas está o uso de tecnologia digital no processo de aprendizado e uma maior correspondência entre o que é ensinado e as necessidades do mercado de trabalho. (fonte: BBC).
===================================================================================
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 11.02.2015

Coluna do CIEAM Ver todos

Estudos Ver todos os estudos

Diálogos Amazônicos Ver todos

CIEAM | Centro da Indústria do Estado do Amazonas © 2023. CIEAM. Todos os direitos reservados.

Opera House