20/06/2024 09:07
“Bioeconomia para quem?” é um convite ao debate e à ação. Uma coletânea de estudos a ser disseminada e debatida em ambiente escolar e comunitário na busca de transformar o conhecimento científico em políticas públicas e ações práticas que beneficiem a população amazônica, proteja a biodiversidade, promovendo as pessoas e removendo a violência”.
Anotações de Alfredo Lopes Coluna Follow-up 20.06.24
A obra “Bioeconomia para quem?”, um manancial de estudos, proposições compartilhadas que ilustram o tamanho do desafio que a Amazônia nos impõe, é uma coletânea de abordagens e estratégias para colocar a riqueza da biodiversidade da Amazônia a serviço dos 30 milhões de habitantes que nela vivem. Organizada por Jacques Marcovitch e Adalberto Luis Val, a coletânea revela a necessidade urgente de transformar as oportunidades do patrimônio natural da região em benefícios sociais e econômicos, visando salvar este acervo da depredação e remover os deploráveis índices de desenvolvimento humano que caracterizam a população amazônica.
Os textos presentes na coletânea sugerem uma mobilização institucional governamental e da sociedade civil organizada para promover a gestão deste cenário de contradições e paradoxos, onde a exclusão da absoluta maioria está imersa num universo de alternativas de toda a ordem, com respostas para a segurança alimentar, medicinal e dermocosméticas. A civilização já se deu conta deste Eldorado esverdeado, mas o poder público, até aqui, demonstrou inabilidade para o necessário gerenciamento. Nas páginas de cada capítulo e no conjunto dos pontos abordados pelos cientistas, destacam-se a necessidade de políticas públicas voltadas para a segurança e a promoção de uma economia sustentável que respeite a biodiversidade e os direitos das populações locais. Este é o desafio e o enigma e estas são as narrativas que inspiram e sugerem mobilização.
A violência na Amazônia brasileira, que também ocorre em sua extensão continental, é um dos grandes desafios mencionados. A região enfrenta uma ocupação por grupos criminosos e facções que atuam em 178 municípios, ampliando os conflitos e dificultando a implementação de iniciativas ambientais e de desenvolvimento sustentável. Estudos como o “Cartografias da Violência na Amazônia” publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em 2023, apoiado por ONGs, fundações e empresas, trazem um panorama detalhado sobre a criminalidade, apontando que 23% do território da Amazônia Legal está sob influência do crime organizado, afetando diretamente as populações locais e desafiando as autoridades.
A coletânea também aborda o impacto ambiental e social do desmatamento e da contaminação dos rios por mercúrio, utilizado ilegalmente na mineração de ouro. A publicação do FBSP e a Nota Técnica da Fiocruz revelam que milhões de habitantes ribeirinhos consomem alimentos contaminados, principalmente peixes, o que resulta em graves problemas de saúde pública. Estudos indicam que a contaminação por mercúrio provoca doenças neurológicas e psicológicas em adultos e crianças, perpetuando o ciclo de pobreza e desigualdade na região.
Entre as propostas para um futuro sustentável, destacam-se a substituição do mercúrio por bioextratos obtidos de árvores nativas da Amazônia, como o pau-de-balsa, e a aplicação de tecnologias limpas para a mineração de ouro. Instituições como a Embrapa, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e outras estão desenvolvendo alternativas que podem ser adotadas em larga escala, minimizando os danos ambientais, contribuindo para organizar o uso sustentável de seus ativos.
Nesta semana, durante a realização da Iniciativa Bioeconomia, dos países ligados ao G20, ora sob a liderança do Brasil, Rodrigo Rollemberg, secretário de Economia Verde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil, fez um apelo para que os países desenvolvidos cumpram seus compromissos financeiros para a preservação das florestas tropicais. “Se a floresta queimada ou derrubada traz um prejuízo, a floresta preservada traz um benefício global”. A cooperação internacional é vista como essencial para enfrentar os desafios da Amazônia. A Declaração dos Chefes de Estado da Cúpula de Belém, em 2023, por sua vez, enfatiza a necessidade de ações conjuntas para combater a mineração ilegal, o tráfico ilícito e outros crimes relacionados, além de promover a vigilância da qualidade da água e a saúde das populações expostas a substâncias tóxicas.
“Bioeconomia para quem?” também destaca outro grave problema e alerta para a importância de uma política de segurança pública específica para a Amazônia, que considere suas peculiaridades geográficas, econômicas, sociais e culturais. A proteção da floresta está diretamente ligada à proteção das pessoas que nela vivem especialmente povos indígenas e comunidades tradicionais, cujos direitos territoriais e culturais são frequentemente violados.
“Bioeconomia para quem?” é um convite ao debate e à ação. Uma coletânea de estudos a ser disseminada e debatida em ambiente escolar e comunitário na busca de transformar o conhecimento científico em políticas públicas e ações práticas que beneficiem a população amazônica, proteja a biodiversidade, promovendo as pessoas e removendo a violência. A obra reforça a importância de uma concertação entre governo e sociedade civil para a implementação de medidas inadiáveis que garantam a proteção dos recursos naturais e a melhoria das condições de vida na Amazônia.
A bioeconomia, pois, é uma ferramenta poderosa para promover a vida e combater a violência, integrando esforços de diversas áreas do conhecimento e promovendo uma nova era de desenvolvimento sustentável para a Amazônia.
(*) Coluna Follow-up é publicada as quartas, quintas e sextas-feiras no Jornal do Commercio do Amazonas, sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes, editor do portal BrasilAmazoniaAgora
*esta Coluna é publicada as quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Fonte: BrasilAmazôniaAgora