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​Bioeconomia na Amazônia e o cenário Covid-19 – Parte II

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14/06/2020 14:08

“Precisamos avançar na formação de capital humano e na redução dos entraves (legais e institucionais) ao empreendedorismo amazônico sustentável.” Denis Minev

No dia 22 de maio último, Dia Internacional da Diversidade Biológica, o economista e empresário, Denis Minev, na qualidade de anfitrião, acolheu um debate, via webinar com o objetivo de responder a seguinte questão “Como destravar a Bioeconomia na Amazônia?”. Publicamos a seguir os principais momentos dessa importante indagação, organizada pelo Idesam com apoio do portal Página 22, divulgada com o título Bioeconomia na Amazônia e o cenário Covid-19

COMO DESTRAVAR A BIOECONOMIA NA AMAZÔNIA?

Na direção de uma nova economia

Como fomentar negócios que, além de gerar emprego e receita, consigam criar soluções permanentes para os problemas sociais e ambientais mais urgentes da Amazônia? Um debate que se arrasta por décadas, desde a concepção do conceito de desenvolvimento sustentável, pode ganhar novo impulso na expectativa das lições aprendidas na pandemia de coronavírus, no sentido de um olhar global mais atento à saúde e ao meio ambiente – apesar das controvérsias em torno da agenda federal brasileira no setor. O Brasil é um dos únicos, senão o único país do mundo que aumentou gases de efeito estufa na retração econômica da pandemia, e isso ocorreu devido ao desmatamento em expansão. A mudança de uso da terra responde por cerca de 70% das emissões brasileiras – e, de acordo com analistas, a tendência pode se agravar. “A crise da mudança climática nos coloca em situação de encruzilhada: como desenvolver a economia e melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem na Amazônia sem promover a degradação que hoje marca basicamente todas as atividades rurais na região?”, questiona Mariano Cenamo, diretor de novos negócios do Idesam.

Programa de aceleração de negócios de impacto

Ele cita movimentos que buscam quebrar esse ciclo, “fazendo a floresta render e não somente custar”, a exemplo da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA). Mantida por empresas e organizações da sociedade civil, a iniciativa abrange o maior programa de aceleração de negócios de impacto da Região Norte, com 30 startups em carteira, 12 beneficiadas por investimentos para decolar no mercado. No entanto, para Denis Minev, CEO do Grupo Bemol, em Manaus, as condições atuais que incentivam o desmatamento ilegal tornam a bioeconomia, “um sonho no curto prazo; uma perspectiva viável no horizonte de pelo menos uma década”. De acordo com o empresário, atuante investidor de negócios de impacto ambiental e social na Amazônia, “a única alternativa é sermos inteligentes o suficiente para construir um sistema próspero sob o ponto de vista econômico e social, sustentável e politicamente equilibrado”.

Minev: “Bioeconomia do conhecimento”

Neto do professor Samuel Benchimol, um visionário do desenvolvimento da região, Minev diz que a bioeconomia que vai enriquecer e transformar a Amazônia não é propriamente a do extrativismo, mas a do conhecimento. Ele aponta quatro vetores essenciais: disponibilidade de insumos naturais, leis e instituições maduras para uso desses recursos, financiamento e capital humano capacitado para a biotecnologia do século XXI. “Precisamos entrar nesse jogo no nível mundial”, reforça. Na sua visão, a atual crise da pandemia colocará essa capacidade à prova. Minev alerta para o colapso dos orçamentos estaduais, com estimativa de queda de 30% a 40% e possível impacto nos investimentos ambientais públicos, embora grande parte dos recursos aplicados pelo governo do Amazonas no setor tenha como origem doações internacionais. “É preciso barrar a destruição, fazendo com que o desmatamento não seja rentável, mas o desafio esbarra na ilegalidade e informalidade reinantes na economia do interior”.

Pandemia e desmatamento

“O enfraquecimento da economia de Manaus pela Covid-19 está empurrando pessoas de volta às comunidades ribeirinhas, e precisamos observar atentamente como isso influenciará o desmatamento”, afirma o empresário. Segundo pesquisadores, o polo industrial estruturado há cinco décadas com incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus concentrou a economia na capital e, assim, mesmo que de forma não intencional e indireta, ajudou a evitar a degradação da floresta por atividades predatórias. O pesquisador Henrique Pereira, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no entanto, diz que “não serão os desempregados da capital que vão desmatar o interior, pois os agentes desse processo são outros”. Em alusão ao processo de grilagem, o coordenador do projeto Atlas ODS Amazonas, voltado a territorializar os indicadores da Agenda 2030 da ONU, aponta: “Ondas de maior intensidade do desmatamento estão diretamente relacionadas ao ambiente macroeconômico, com deslocamento de populações para uma fronteira a ser explorada, na busca por capitalização. O interesse econômico de derrubar está na terra e não na floresta”. Para Pereira, o desafio de dar base econômica à biodiversidade requer maior atenção à aplicação de tecnologias, que nem sempre poupam recursos naturais, e a algumas questões conceituais. “De que estamos falando: de uma bioeconomia que utiliza formas de vida como modelo para desenvolver processos industriais ou de uma economia que usa a floresta como produtora de matéria-prima?”

“Se o Brasil não fizer, outros países o farão”

Felipe Naveca, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazônia, cuja equipe foi responsável pelo sequenciamento do genoma completo do coronavírus na Região Norte, defende soluções baseadas nas realidades da região, com uma abordagem multidisciplinar em conjunto com físicos, engenheiros e outros especialistas, reduzindo a dependência externa de insumos estratégicos. “Se o Brasil não fizer”, alerta o virologista, “outros países o farão”. Há necessidade de maior aproximação com a sociedade: “Para atrair investimentos na bioeconomia, a academia precisa fazer projetos que tenham uma aplicação mais fácil de ser entendida por quem pode financiá-los”. Para o pesquisador, outro desafio é aprender a divulgar esses produtos, de modo que a população reconheça a importância e os valores por trás deles, e assim a ciência chega à ponta final.

Uso sustentável dos recursos

“Defendemos a desregulamentação ambiental em pontos que dificultam o uso sustentável desses recursos”, afirma Alcimar Martins, superintendente adjunto de planejamento e desenvolvimento regional da Suframa. Ele informa que o governo federal iniciará estudo sobre o potencial da bioeconomia amazônica e deverá assinar portaria abrindo espaço a novos investimentos no setor. Dos R$ 700 milhões disponíveis pela Lei de Informática, a nova norma estabelece cerca de R$ 400 milhões por ano para capitalização de startups, organizações sociais com propósitos de inovação e projetos internos de sustentabilidade das empresas que poderão contemplar a biotecnologia, apoiada via PPBio. Caminhos começam a se abrir; falta garantir a existência de floresta para explorá-los.

Texto de Sérgio Adeodato. – Fonte: Página 22

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