08/11/2023 09:56
“Bioeconomia é a palavra-chave do mercado brasileiro quando se trata de desenvolvimento sustentável. Isso coloca o Brasil numa posição privilegiada no mercado global de biotecnologia, que cresce anualmente 15,85% e até 2028 deverá movimentar cerca de US$ 2,44 trilhões, de acordo com a Grand View Research”
Por Alfredo Lopes e Carlos Koury
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Amazônia, enraizada na rica biodiversidade desta região vital, apresenta uma fonte quase inexplorada de potencial econômico e sustentabilidade. A transição do Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA) para uma gestão mais integrada com a Fundação Universitas de Estudos Amazônicos, representa um passo significativo na direção de uma economia que respeita e utiliza de forma responsável os recursos naturais da Amazônia.
Temos a experiência histórica com o ciclo da borracha, que destaca uma lição valiosa sobre a necessidade de um desenvolvimento sustentável e estratégico dos recursos naturais. Enquanto a riqueza temporária foi extraída, as oportunidades de estabelecer um setor sustentável e evolutivo foram perdidas. No entanto, essa lição não foi ignorada indefinidamente, como evidenciado pelos esforços da Embrapa Amazônia Ocidental e instituições como o IAC e a ESALQ no desenvolvimento de mudas de seringueira resistentes a doenças, que agora são exploradas pela Embrapa Instrumentação de São Carlos-SP, para avanços em nanobiotecnologia.
A capacidade de cultivar a Hevea brasiliensis sem o impacto devastador do fungo é um exemplo de como a bioindústria pode revolucionar não só a economia local, mas também ter um alcance global em setores como a automotiva e a saúde, fornecendo materiais sustentáveis e de alto desempenho. Isso demonstra o imenso potencial da bioeconomia na Amazônia, não apenas em termos de produtos tradicionais, mas também através de inovações tecnológicas que podem surgir do estudo e manipulação da biodiversidade local.
A bioindústria na Amazônia, se bem orientada e com a infraestrutura adequada, tem o potencial de criar uma nova economia que é ao mesmo tempo economicamente viável e ecologicamente correta. A chave para esse sucesso envolve pesquisa e desenvolvimento contínuos, investimentos em biotecnologia e uma colaboração estreita entre a comunidade científica, a indústria e os governos locais.
Ao abraçar a bioeconomia, a Amazônia pode liderar pelo exemplo, mostrando como os recursos naturais podem ser utilizados de maneira responsável, garantindo não apenas o crescimento econômico, mas também a preservação da biodiversidade para as futuras gerações. Este novo paradigma de desenvolvimento poderia não só posicionar o Brasil na vanguarda da inovação biotecnológica, mas também estabelecer um modelo para o mundo sobre como harmonizar os objetivos econômicos com a sustentabilidade ambiental.
A bioeconomia amazônica, ao se basear no aproveitamento sustentável da biodiversidade, traz benefícios abrangentes para a economia do Brasil. A geração de emprego e renda, no desenvolvimento de cadeias produtivas baseadas na múltiplas formas de vida amazônica, é a premissa mais relevante no propósito socioambiental de quem empreende na Amazônia. Iniciativas como a indústria de alimentos integrais, dermocosméticos e fitoterápicos, criam oportunidades de emprego em diversas áreas, desde a coleta de insumos até a comercialização dos produtos beneficiados na ponta da cadeia produtiva. Proteger segue sinônimo de atribuição de um valor econômico e sustentável ao bem natural.
E, naturalmente, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos inovadores a partir da flora amazônica impulsionam a criação de tecnologias e processos produtivos que podem levar a avanços significativos em diversos setores. A indicação da disposição correta de resíduos daí decorrentes é outro ganho esperado nessa matriz de recursos e oportunidades. Ao interiorizar a atividade econômica, a bioeconomia fomenta o desenvolvimento local e regional, ajudando a fixar a população em suas regiões de origem, reduzindo o êxodo rural e fortalecendo as economias locais.
Para quem vive na Amazônia, a premissa sagrada é a valorização de conhecimentos tradicionais. A bioeconomia também pode debruçar-se sobre estes saberes de quem aprendeu a conviver com os desafios da mata, beneficiar-se desses conhecimentos ancestrais dos povos indígenas e comunidades ribeirinhas na utilização de recursos naturais, promovendo o respeito e a proteção desses conhecimentos.
Promoção de oportunidades a partir da biodiversidade, com o uso sustentável de diversas espécies para diferentes fins, essa atividade econômica, obrigatoriamente, remete à preservação desse patrimônio monumental como premissa sustentável de seus benefícios. Essa consciência conservacionista é a base econômica direta na manutenção de ecossistemas saudáveis.
Este preceito se consolida no desenvolvimento de produtos fitoterápicos e medicamentos naturais com mínimos efeitos colaterais. Como não proteger os princípios ativos que contribuem para a promoção da saúde e bem-estar, oferecendo alternativas mais seguras e acessíveis para o tratamento e prevenção de doenças.
Desenham-se, assim, os pilares da sustentabilidade econômica. O desenvolvimento inteligente da Amazônia, a utopia de Samuel Benchimol, o profeta da proteção do bioma que possibilita conservação e atividades socialmente justas, economicamente viáveis, politicamente corretas e ambientalmente sustentáveis. Ou seja, ao desaconselhar a sobre-exploração de recursos naturais, Samuel garante que essas riquezas estejam disponíveis para gerações futuras, apoiando uma economia de longo prazo mais resiliente e diversificada.
O Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) da Suframa, organizado e liderado pelo Idesam, é um ensaio robusto e bem-sucedido de caminhos alternativos, provavelmente mais rápidos da demonstração, para resguardar uma modulação de desenvolvimento econômico capaz de caminhar passo a passo com a sustentabilidade ambiental. Com 20 iniciativas já concluídas e 22 em andamento em 4,5 anos de operação, mais de 60 produtos, processos ou serviços nas cadeias produtivas amazônicas estão mostrando um futuro promissor.
O PPBio busca promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia por meio da exploração econômica da biodiversidade de forma responsável e inclusiva.
O programa apoia projetos de empresas, incubadoras e instituições de ciência, tecnologia e inovação (ICTs) que trabalham com a exploração desse novo cenário econômico. Os projetos selecionados recebem recursos financeiros para o desenvolvimento de produtos, serviços e negócios inovadores.
Saiba mais sobre o programa clicando aqui
Este futuro se embasa nas premissas do Professor Benchimol e olha para a oportunidade que as cadeias produtivas oferecem de serem recheadas de soluções que superem os clássicos problemas em forma de serviços e processos diferenciados, como as soluções para descontaminar a castanha-do-brasil da aflatoxina e livrar um problema que tem distanciado a produção brasileira dos mercados internacionais de alto valor agregado.
Melhores processos garantem a agregação de valor em cada elo da cadeia produtiva amazônica, melhorando a renda desde a floresta, no processo das comunidades e organizações socioprodutivas.
Soluções nas cadeias também permitem um maior número de atores na Amazônia dar a elevada agregação de valor dos ativos produzidos, como o caviar Amazônico, ou um queijo petit suisse (o “Danoninho”) de castanha.
E os exemplos seguem com tecnologia de rastreabilidade e gestão das cadeias produtivas, sistema de produção pesqueira, marca coletiva de produtos florestais, cosméticos com atributos diferenciados e projeções de fármacos vindos da floresta – tudo isso oriundo do conhecimento desenvolvido nos institutos e universidades locais, e potencializado pelos recursos do Programa Prioritário de Bioeconomia.
Ainda há muita ação pela frente até que a economia dos atributos naturais da Amazônia ganhem escala e movimentem com robustez a economia da região, mas os resultados iniciais mostram um caminho promissor.
Alfredo Lopes é filósofo, consultor do CIEAM e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora
Carlos Gabriel Koury é engenheiro florestal formado pela USP, trabalha como Diretor Técnico no Idesam e Coordenada o PPBio
Fonte: BrasilAmazôniaAgora