21/08/2015 14:06
Estabelecimentos produtivos
Outra inspiração se refere à lembrança da professora Bertha Becker, a geógrafa que mergulhou na alma e nas oportunidades coerentes e promissoras da Amazônia, propondo a instalação de estabelecimentos produtivos, na perspectiva de suas vocações econômicas, como melhor estratégia de conservação florestal. Sua figura apareceu numa correspondência com o mestre Marcovitch, para alinhar os atores de alguns eventos que o CIEAM está promovendo em parceria com empresas e instituições de ensino e pesquisa na formação de novas atividades econômicas atreladas ao modelo industrial da ZFM. Um deles é conquistar apoio ao Programa de Mestrado da Economia Sustentável da Amazônia, reunindo USP e UEA, Seplan-cti, e parceiros habituais, para alinhar, nivelar, partilhar saberes e fazeres amazônicos, em projetos coerentes com a biodiversidade, a geodiversidade, a aquicultura, a nutracêutica e a dermocosmética, como sugeria Bertha Becker. Outro tema/problema na mesma inspiração, que deverá ocorrer na última semana do mês de setembro, diz respeito ao debate sobre a potencialidade da indústria de cosméticos e nutracêuticos, a partir da castanha e pupunha, com professores da USP, Silvia Cozzolino à frente, UEA, INPA, EMBRAPA e UFAM. São mais de 100 mil trabalhos já localizados sobre essas duas espécies amazônicas, no portal Scfinder, que faz um relato aos trabalhos científicos e acadêmicos relacionados à Química, e sua presença na biologia e na indústria. Este portal, subvencionado pelo governo americano, é acessível gratuitamente às instituições federais, seus pesquisadores, a um custo milionário por parte do CNPq, o Conselho Nacional de Pesquisa. Quem quiser empreender com profissionalismo precisa acessar esse banco de dados. Obrigatoriamente. Como obrigatório é revisitar Bertha Becker.
Amazônia excluída
Num ensaio geopolítico que busca responder a essa questão, e que pode ajudar a entender a distância do Brasil de si mesmo, a professora Bertha Becker mergulha na metodologia inovadora de Celso Furtado, de aproximar a análise econômica da análise histórica, para que todos possamos entender a razão da inclusão do café e a exclusão da borracha na compreensão do Brasil a partir da Amazônia, no limite, feita pelo próprio Furtado, em sua Formação Econômica do Brasil. São poucas as menções da Amazônia na economia açucareira nos séculos XVI e XVII, apesar da forte presença da Amazônia maranhense neste item. É curiosa a sugestão de complementaridade entre o Nordeste e a Amazônia que, certamente, influiu nas políticas nacionais de desenvolvimento regional, tradicionalmente atrapalhada. Na Geografia do Sudeste, Norte e Nordeste são a mesma coisa, como se a Cabanagem ocorrerá entre as Heroínas de Tejucopapo. Seguem assim permeando indistintamente tucupi com acarajé, e caldeirada de carne de sol.
As ervas do sertão
Com as ervas do sertão amazônico e não nordestino e a economia da borracha e da castanha, o que merece ser explicitado é que a Amazônia teve uma história diferente da brasileira. Dela se tomou posse e a região permaneceu por séculos sob processos ligados diretamente ao contexto internacional e à metrópole, praticamente à parte do Brasil. E isso perdura aos nossos dias. Becker aponta para os desafios históricos das relações da região Norte com os centros de poder, revelando que a problematização da Amazônia envolve a questão nacional. Falávamos sobre isso na Follow-Up de ontem, ao destacar o papel das Forças Armadas na manutenção da presença, zelo e guarda da Amazônia como ideia de Nação. A Amazônia, portanto, constitui um espaço de imensurável valor estratégico para a economia mundial, o que explica a constante interferência de forças externas na região e a dificuldade de integrá-la aos Estados nacionais até hoje. A partir do século XVI, fase em que a ciência moderna começa a estruturar-se, desbravadores percorrem o que é hoje a Amazônia e produzem preciosos relatos para a Europa sobre o mistério amazônico. O empenho em encontrar novas riquezas e terras estimulou a organização de grandes e custosas expedições científicas, desde fins do século XVIII e sobretudo no início do século XIX, que desenvolveram sistematicamente a pesquisa, a informação e o conhecimento sobre a região, com destaque para naturalistas alemães e ingleses. Só o Brasil ainda não atentou para o Brasil amazônico. Voltaremos.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 21.08.2015