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A cabotagem e a economia regional amazônica

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09/09/2016 13:44

O termo Cabotagem descreve o transporte de cargas realizado entre os portos ou cidades do território nacional, utilizando a via marítima ou vias navegáveis interiores. Se para o Brasil, com aproximadamente 8000 km de extensão litorânea e 4/5 de sua população vivendo a 200 km da costa, este é o modal de transporte mais coerente e sustentável, e para sua parcela amazônica, sem rodo ou ferrovias, e com 20 mil quilômetros de malha hidroviária, um imperativo logístico de sobrevivência, além de ser a alternativa mais competitiva. Os ingleses perceberam essa obviedade desde que, séculos antes, seus viajantes vislumbraram – um irresistível convite à biopirataria – o esplendor das riquezas amazônicas, o Eldorado, verdadeiro e Verde. Com a descoberta dos negócios milionários da borracha, no século XIX, investiram pesado nos estaleiros da Escócia, agregando 60% de valor em sua economia com embarcações ajustadas a região e seus negócios milionários. Eles trataram de comprar a Companhia de Navegação do Amazonas – e respetiva malha de cabotagem fundada pelo Barão de Mauá, em 1853 – e se anteciparam aos americanos que cogitaram invadir a região caso o Império Brasileiro não abrisse os rios da Amazônia para as nações “amigas”. Em 1864, se deu o liberou geral, a despeito do nacionalismo obtuso continuar prejudicando apenas a Nação.

A viagem do dendê

A Amazônia voltou, recentemente, a celebrar o papel da cabotagem na afirmação de sua vocação Logística como fator de viabilidade da economia regional, pelo desembarque simbólico e histórico no Porto de Santos, em operação experimental, de 2.600 toneladas, de óleo de dendê – conhecido no meio acadêmico como boi vegetal, por suas múltiplas utilidades – vindo do terminal da Agropalma, Belém, a maior produtora de óleo de palma do Brasil. Com isso, abre-se um novo horizonte para que todos os produtores do Pará acessem os mercados consumidores de óleo de palma do Sul e Sudeste a um custo logístico cerca de 50% inferior ao rodoviário. A empresa foi obrigada a construir outra refinaria em Limeira-SP, pelas limitações logísticas impostas a Amazônia, onde sua refinaria de óleos vegetais, a primeira do Brasil, atende ao mercado de Norte e Nordeste. Os gargalos logísticos do Brasil traduzem a inoperância de seus gestores, a burocracia da máquina pública e o oportunismo de alguns atores econômicos. Daí nosso atraso. Se o dendê achou um caminho, por que a indústria local não poderia identificar, estudar e equacionar os gargalos de sua Logística de transportes, fazendo um Arco de Alianças, a começar por uma dinamização da Ação Empresarial e de uma Confederação Empresarial Amazônica para tirar do papel o Norte Competitivo, o projeto de infraestrutura pago pelas entidades regionais a serviço exclusivo do agronegócio, onde está consubstanciados o mais recente diagnóstico dos entraves da competitividade ? Fica a dica!

O cumaru, a copaíba e outras ondas

Resíduos do cultivo extensivo de castanha, indústria e agroindústria regional, produtos Made in ZFM, entre outros anseios, tudo está na expectativa competitiva da infraestrutura. Entre as promessas, cabe citar o cumaru, a sensação cosmética e culinária da indústria neste momento. Suas sementes eram aproveitadas pelos índios para a feitura de colares, braceletes e outros enfeites, até que o perfume da sua fava, de tão forte e exótico, foi usado para perfumar cigarros, rapé, chocolates e bebidas, e mais recentemente para sofisticar a gastronomia, sendo um sucedâneo da baunilha e tendo grande emprego na manufatura alimentícia. De sua semente se obtém também um óleo que serve para curar úlceras, como tônico do couro cabeludo, sendo sua principal ocorrência no Amazonas e em Mato Grosso. O óleo de copaíba, outro exemplo que já foi mencionado neste espaço, tem contribuição comprovada em uma dezena de tipos de câncer, segundo a Unicamp, e é exportado clandestinamente para a Ásia, para fabricação dos fitoterápicos indicados nas pesquisas regionais. Os asiáticos leem as pesquisas do Inpa, no Sciefinder, ou na web, e importam abertamente os insumos. No Brasil, a Lei de Acesso à Biodiversidade ainda é literatura. Considerado o antibiótico da mata, o óleo de copaíba é muito utilizado pelos povos tradicionais da Amazônia como anti-inflamatório, tratamento de sífilis, bronquite, caspa, dermopatologias, anticoncepcional, vermífugos, psoríase, úlceras de estômago. Na indústria, esse óleo pode ser usado para fabricação de vernizes, perfumes, farmacêuticos e até para indústria fotográfica. A empresa de cosméticos Technico-flor S/A obteve na França a publicação do registro de patente sobre "novas composições cosméticas ou alimentares incluindo Copaíba". Nos Estados Unidos a Aveda Corp teve publicado o registro da patente sobre "método de colorir cabelo ou pestanas com composições com metal contendo pigmentas e resina de Copaíba". Já o dendê, outro carro-chefe de oportunidades, embora existam espécies nativas na Amazônia, tem seu cultivo baseado em espécies africanas. Trata-se de uma lavoura eficiente com produção de óleo dez vezes maior que a da soja, sendo amplamente utilizada na indústria de alimentos, farmacêutica e energética. Entre as oleaginosas, o dendezeiro é a de maior produtividade, podendo atingir até oito toneladas de óleo por hectare ao ano. O Brasil é responsável, na escala global, por apenas 0,5% da produção de dendê, importando mais da metade do óleo de palma necessário à indústria do país. A região norte brasileira – notadamente a região de Tefé, no Amazonas, apresenta condições climáticas e de vegetação ideais para a adaptação da cultura do dendê, e está inserida no programa de produção sustentável de óleo de palma, criado em 2010 pelo Governo Federal. O Amazonas já teve uma empresa de dendê, a EMADE, financiadas pelo Banco Mundial, e foi transformada em cabide de afilhados políticos. Hoje, o programa de dendê tem nas suas diretrizes, a preservação da vegetação nativa, a produção integrada com os pequenos produtores e o aproveitamento das áreas degradadas da amazônia legal. Por causa da grande produtividade por hectare, a palma de óleo pode ocupar áreas menores e ainda ser plantada para aproveitar áreas alteradas ou degradadas. Outra vantagem é que agricultores familiares podem conciliar esse cultivo com a produção de culturas alimentares, com mandioca, abacaxi, milho, feijão-caupi, banana e amendoim, que promovem segurança alimentar e influenciam positivamente na diminuição dos custos de implantação da palma de óleo. Pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Ocidental, em Manaus, comprovam que culturas intercalares contribuíram também para a melhoria da fertilidade do solo e o desenvolvimento da palmeira.

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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br


Publicada no Jornal do Commercio do dia 09/09/2016

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