04/07/2025 15:08
Evento no Cieam analisa perspectivas para a seca de 2005, para antecipar ações preventivas no Amazonas
Por Marco Dassori
Ainda não é possível afirmar se 2025 será de estiagem extrema, mas o PIM segue dependendo de soluções caras da iniciativa privada. Há indicativos de que as águas não voltarão a descer nos níveis dos dois anos anteriores, embora a ciência só possa responder essa pergunta com precisão ao final de agosto. Dados da PROA (Praticagem dos Rios Ocidentais da Amazônia) informam que, nos últimos cinco dias de junho, o nível do rio Negro subiu 4 centímetros em Manaus, enquanto o Amazonas baixava 1 centímetro em Itacoatiara. Mas ambos estão mais de 22 centímetros acima da marca de um ano atrás.
Por via das dúvidas, os grupos Chibatão e SuperTerminais já anunciaram reforço nos investimentos para a eventual necessidade de portos provisórios. Pairam dúvidas sobre a capacidade de reação do poder público. O Dnit ainda não sabe qual equipamento será usado na dragagem emergencial, embora o serviço já tenha sido licitado para os próximos cinco anos. Já o imbróglio gerado pela interrupção dos trabalhos na região do Tabocal, em virtude da descoberta de um cabo submerso de fibra ótica, ainda não foi resolvido. Passado quase um ano, depende de uma conversa com a Anatel que ainda não ocorreu.
Essas questões foram debatidas na 12ª reunião da Comissão Cieam de Logística, nesta terça (1º). Apreensivo, o PIM só tem a certeza de que voltará a ter custos adicionais, embora ainda não saiba quanto. Estudo do Centro da Indústria do Estado do Amazonas aponta que a crise hídrica de 2023 gerou R$ 1,40 bilhão em dispêndios alfandegários e de transporte, em um contexto de casos pontuais de desabastecimento. No ano seguinte, o fluxo de cargas se manteve, mas as soluções ficaram ainda mais caras (R$ 1,50 bilhão).
“Alívio” x “transbordo”
O Grupo Chibatão trabalha com um cenário mais otimista. Segundo o diretor executivo geral da empresa, Jhony Fidelis, a proposta é disponibilizar um píer flutuante de 277 metros por 24 metros, em Itacoatiara, entre setembro e dezembro, para aliviar a carga dos navios. Dessa forma, as embarcações ficarão com calado para prosseguir a Manaus, já que a previsão da PROA é que o local fique com 15 metros de profundidade durante a seca. “O que está planejado é a operação de alívio de carga. Não haverá necessidade de tantas balsas quanto as usadas em 2024”, frisou.
Fidelis informou que o porto provisório de Itacoatiara, usado em 2024, registrou a chegada de 35 navios e a movimentação de 58.944 contêineres. Diante da constatação de que o mercado cresceu 22% já naquele ano, a empresa continua investindo na ampliação da área de armazenamento e em outros equipamentos. “Trabalhamos para acomodar o crescimento da indústria e do comércio. Adquirimos 100 novos caminhões em 2024, e já são 60 novos caminhões neste ano, sendo que 21 já foram entregues”, afirmou
O Porto SuperTerminais tem proposta diferente. O diretor geral, Marcello Di Gregorio, destacou que a empresa está investindo R$ 400 milhões até o final de 2026. Metade desse valor será aplicado em infraestrutura, incluindo uma extensão de 120 metros no píer flutuante e 17.400 metros quadrados de expansão alfandegária. Estão planejadas também duas ampliações retroportuárias pavimentadas, de 100 mil metros quadrados cada. A outra metade dos recursos será usada na aquisição de 10 “terminal tractors”, um novo scanner de cargas, 26 cavalos mecânicos, 10 empilhadeiras de 45 toneladas e 3 novos guindastes kokranes.
"Essa é uma das soluções que a gente conseguiu para aliviar bastante o nosso terminal. Em 2024, chegamos a ter 95% de ocupação, mas já estamos com 48%. Em relação às balsas, no ano passado a gente tinha capacidade para aproximadamente 1.200 contêineres. A gente já conseguiu mais barcos e mais capacidade, para conseguir operar 1.600 contêineres, se for necessário novamente. Mas, se a empresa for trabalhar em Itacoatiara, vai para operar 100% de transbordo de carga. A gente não vai trabalhar com alívio. Isso já está alinhado com os armadores”, asseverou.
“Limitação orçamentária”
Por teleconferência, o diretor de Infraestrutura Aquaviária do Dnit, Edme Tavares, destacou que a gestão do modal hidroviário apresenta desafios significativos, como a “sazonalidade extrema dos rios”, ausência de infraestrutura de apoio, carência de dados batimétricos atualizados e “complexidade de licenciamento ambiental em áreas sensíveis”. Segundo o representante do governo federal, os trechos licitados no Amazonas respondem por 27 dos 85 contratos vigentes na sua pasta, ou R$ 850 milhões de um total de R$ 2,80 bilhões.
Ao ser cobrado, Tavares mencionou, entre outros entraves, que sua pasta conta com apenas 13 servidores para atender uma demanda nacional, além de carecer de estudos para balizar as ações. Mas disse que o órgão “está de portas abertas” para sugestões que contribuam para um “planejamento mais eficiente”. “Tenho uma carteira de R$ 5 bilhões, mas não tenho isso tudo. Para lançar o Porto da Manaus Moderna, tinha R$ 8 milhões para uma obra de R$ 1 bilhão orçados. A limitação, além da técnica e de recursos humanos, também é orçamentária. Mas, a gente consegue, juntando forças”, amenizou.
O técnico em Regulação da Antaq, Wilson Teodoro, avaliou que o cenário atual indica que a vazante de 2025 será mais amena. “Há um ano, em Tabatinga, o rio estava com profundidade de 7,50 metros, mas agora está em 11,30 metros. O reflexo da estiagem vem de lá. E o rio Branco, que alimenta o rio Negro, também está cheio”, comentou, acrescentando que o Estado deve pensar no longo prazo e implementar soluções estruturais para a região, principalmente levando em conta as mudanças climáticas.
“Vontade política”
Segundo o presidente-executivo do Cieam, Lúcio Flavio Morais de Oliveira, o PIM está mais preparado após as secas de 2023 e 2024, embora tenha pagado caro e ainda aguarde providências de Brasília. “A gente sabe que existe a questão da vontade política, que é fundamental. Foi ela que manteve as vantagens comparativas da ZFM”, asseverou.
Em entrevista à reportagem, o dirigente disse que o setor espera que o trabalho de dragagem, “que é obrigação do governo”, seja efetivamente cumprido pelo Dnit. “O que tranquiliza a indústria é a posição dos portos privados, que demonstram estar prontos para a mesma operação de 2024”, avaliou, acrescentando que a situação ideal seria a região dispor de uma hidrovia “com sinalização, batimetria e navegável 365 dias por ano”.
O coordenador da Comissão Cieam de Logística, Augusto César Barreto Rocha, sente falta de ações mais planejadas do Dnit. “Não há estudos e as obras seguem sendo reativas. Há vários órgãos federais que poderiam ser envolvidos, mas não são. Por outro lado, a gente vê boa vontade de quem está na função, mas não tem estrutura de apoio”, ponderou, elogiando a “postura crítica” da Antaq em favor de uma “infraestrutura mais responsável”.
Rocha considera que o cenário hidrológico da região ainda é incerto, em uma conjuntura escassa de decisões executivas e visão estratégica. “Há uma inquietação, porque ninguém sabe se haverá necessidade ou não de dragagens. Pela fala do Dnit, dá a impressão que ele não vai aprofundar calado. Então, depende da chuva. Houve uma reunião nesta segunda (30), com os órgãos de clima, e nem entre eles eu percebi unanimidade. A gente segue com a Amazônia ignorada e sem previsão”, finalizou.
Matéria publicada no Jornal do Commercio em 04/07/2025