24/06/2025 08:28
Por Augusto César Barreto Rocha
A infraestrutura para o interior do Amazonas está congelada no tempo. Já passou da hora de transformar esta realidade. Tratamos a conexão dos municípios do Amazonas com a capital como com os demais estados do país como se estivéssemos congelados no tempo. Há até a desfazatez de chamar uma área de “Manaus Moderna” para o principal ponto de interconexão da capital com o interior do Estado.
Como não temos estradas, seria muito importante que rotas de balsas integrassem os municípios para o transporte de veículos com fácil embarque e desembarque. Tanto os municípios entre si, quanto da capital para todos os municípios. A frequência nem precisaria ser diária, onde não houver grande demanda.
Todavia, seria fundamental um calendário claro e uma frequência de embarcações com preços regulados para este tipo de transporte alternativo. Isso será transformador para a estrutura de custos do comércio no interior do Amazonas.
As pessoas terão a oportunidade de interagir entre si e movimentar o comércio do interior, pois caminhões poderão transitar com cargas, tanto para ir, quanto para voltar do interior. Este fluxo pode alterar a maneira de perceber o transporte no Amazonas. Embarcações ou projetos mais modernos que atendam às características locais devem ser priorizados ao invés de pensar o ro-ro como um modelo nível de primeiro mundo.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 20% do território nacional não está computado no PIB porque a carga é de 1,5%, ou seja, 3% se fosse computado o comércio do interior do Amazonas transformaríamos o índice.
É fundamental pensarmos na infraestrutura do interior como parte estratégica do desenvolvimento regional e nacional.
É necessário que o Estado tenha um plano e orçamento claro e com metas, para evitar uma ação muito ligada ao ideário e práticas do mercantilismo (1500-1750), onde as conexões de infraestrutura viabilizaram as transformações econômicas.
Trazer isso para o paradigma contemporâneo de Missões de Desenvolvimento, em uma Economia Regenerativa poderia ser transformador, pois temos um misto de estado que não consegue entregar o bem-estar social, que não tem o que privatizar, pois mal ocupou o território.
Ademais, ainda vivemos sob o grande risco de desmatamento, mas necessitamos modernizar e clarificar uma visão para além da preservação pela preservação.
Sem infraestrutura não há atividade econômica sustentável ou regenerativa. Precisamos sair diretamente do século XVI para o século XXI e há informações abundantes para não cometermos os mesmos erros do passado.
Outro aspecto a ser considerado é a necessidade de encontrar mecanismos para manter as pessoas no interior do Amazonas. Precisamos criar oportunidades para geração de riqueza no interior para além da destruição, mantendo e ampliando as culturas locais. Cada cidade deve ter um retroporto compatível com a produção local, que podem ser, por exemplo, armazéns frigoríficos que viabilizem uma indústria de pescado que tenha capacidade de atender aos mercados vizinhos, viabilizando trocas comerciais sustentáveis, ou seja, ambientalmente corretas, socialmente justas e economicamente viáveis. Sem isso, o interior não chegará ao século XXI.
Coluna da Indústria publicada no Jornal Acrítica em 24/06/2025