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A Marinha, o Juruá e o dever de integrar a Amazônia

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22/05/2025 08:53

No silêncio das águas do rio Juruá, um navio branco corta a floresta e leva com ele algo que ainda falta em muitos cantos da Amazônia: o Estado brasileiro. A operação da Marinha do Brasil, encerrada esta semana, merece mais do que um registro técnico – é um exemplo concreto de cuidado com o povo amazônida e de integração nacional.

A Operação Acre 2025 não é apenas uma missão humanitária. É símbolo da presença do Estado onde ela ainda é escassa. Em quatro meses, o Navio de Assistência Hospitalar Doutor Montenegro atendeu quase 8.500 pessoas, realizou mais de mil mamografias — recorde histórico — e alcançou comunidades que jamais haviam tido acesso a exames médicos básicos. É a confirmação de que o isolamento geográfico ainda é uma das maiores barreiras para a cidadania na região.

Essa ação da Marinha revela duas verdades: milhares de brasileiros seguem excluídos da atenção pública, e essa exclusão pode ser enfrentada com estratégia, cooperação e vontade política.

Levar médicos, dentistas, exames e medicamentos pelos rios amazônicos é mais do que prestar serviço: é reconhecer a dignidade do povo da floresta. Isso é integração regional na prática.

As imagens das mulheres Ashaninka recebendo mamografias em sua terra, sem enfrentar 18 horas de viagem até a capital, falam por si. Assim como o atendimento à comunidade Apwiuxa, uma das mais isoladas do país, só foi possível com apoio de quatro embarcações e equipes técnicas. Tudo isso num contexto de seca extrema.

A Amazônia é vasta, diversa e desafiadora. E as soluções para seus problemas exigem ações adaptadas, ousadas e respeitosas com a realidade local. A cada ano, a vazante dos rios reforça o quanto ainda estamos distantes de um modelo de presença constante do Estado. E a cada seca, a urgência de agir se torna maior.

A operação da Marinha — em parceria com o Ministério da Saúde, governo do Acre e organizações como a ONG Américas Amigas — prova que é possível fazer diferente. Cortar distâncias, oferecer diagnóstico precoce, salvar vidas e reconstruir a confiança das comunidades no Estado.

A ação hospitalar fluvial deve ser fortalecida e replicada como política de Estado. Integrar o Brasil passa por cuidar do seu coração amazônico.

Se há uma bandeira que emociona ao tremular na floresta, é a que chega junto com saúde, dignidade e esperança. E nisso, o “navio da esperança” da Marinha tem cumprido sua missão com louvor.

Texto publicado no editorial do Jornal do Commercio em 22/05/2025

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