11/07/2018
Notícia publicada pelo site Valor Econômico
A paralisação dos caminhoneiros afetou o
ritmo de produção das indústrias em praticamente todo o território
brasileiro. Dos 15 locais pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), 14 apresentaram queda da produção industrial em maio,
na comparação a abril, sendo que em 8 Estados a queda superou os dois
dígitos. Os grandes produtores de alimentos tiveram perdas mais
pronunciadas, mas foi São Paulo o que mais impactou no resultado nacional,
por causa do segmento de veículos. No país, o recuo da produção em maio foi
puxado pela fabricação de veículos (-29,8% ) alimentos (-17,1%).
A greve de 11 dias dos caminhoneiros, iniciada em 21 de maio, afetou o
recebimento de matérias-primas pelas fábricas e o escoamento da produção,
abarrotando os estoques. Desta forma, a produção industrial nacional
apresentou queda de 10,9% naquele mês, conforme dados divulgados pelo
IBGE na semana passada. Nesta manhã, o órgão detalhou esse resultado
pelas diferentes regiões do país.
Conforme a Pesquisa Industrial Mensal -
Regional (PIM Regional), os Estados das
regiões Centro-Oeste e Sul destacaram-se
negativamente na passagem de abril para
maio, pela série com ajuste sazonal. As
perdas foram intensas em Mato Grosso
(-24,1%), Santa Catarina (-15%), Paraná
(-18,4%) e Goiás (-10,9%). Em comum,
são quatro grandes produtores de
alimentos, um dos ramos mais afetados pela greve.
"Por trás da produção de alimentos existe uma série de bens intermediários,
como as rações de animais. Com o desabastecimento de matérias-primas,
isso trava a produção, provoca mortandade de animais, e pode prejudicar a
produção no final da cadeia. São também produtos perecíveis, que acabam
afetados pela paralisação dos caminhoneiros", disse Bernardo Almeida,
analista do IBGE.
São Paulo
O maior impacto sobre o resultado nacional da indústria veio, porém, do
Estado de São Paulo, o maior parque fabril do país e local com maior peso na
pesquisa do IBGE. A indústria paulista registrou queda de 11,4% na produção
em maio, na comparação a abril, também afetadas pela paralisação dos
caminhoneiros.
"O fraco desempenho de São Paulo foi puxado principalmente por veículos,
mas o impacto foi espalhado por várias atividades da indústria paulista. Foi o
local que mais contribuiu para a queda da indústria nacional no mês", disse
Almeida.
Segundo o IBGE, a queda da produção do Estado de São Paulo foi a mais
intensa dentro de um único mês desde dezembro de 2008 (-13,1%), quando
recuou afetada pela crise financeira internacional. O volume de produção que
sai das fábricas locais regrediu aos níveis vistos em setembro de 2003, quase
15 anos atrás.
Quando comparado ao mesmo mês de 2017, a produção de São Paulo
mostrou recuo 4,8%. Essa baixa da produção foi disseminada, com recuou
em 14 das 18 atividades investigadas. Por essa base de comparação, os
destaques negativos foram veículos automotores, reboques e carrocerias
(-1,84%) e produtos alimentícios (-1,55%).
Outras regiões com desempenho negativo na passagem de abril para maio
foram Bahia (-15%), Rio Grande do Sul (-11,0%), Minas Gerais (-10,2%) e a
região Nordeste (-10%), todos com baixas de dois dígitos. Outros locais com
fortes perdas, embora na casa de um dígito, foram Pernambuco (-8,1%), Rio
de Janeiro (-7%), Ceará (-4,9%), Amazonas (-4,1%) e Espírito Santo (-2,3%).
Minério no Pará
A produção de minério de ferro, atividade sem dependência do transporte rodoviários, evitou a queda da produção industrial dos Estados do Pará em maio. Foi o único dos 15 locais pesquisados pelo IBGE com crescimento da produção ante abril.
Pouco diversificada, a indústria do Pará viu sua produção avançar 9,2% na passagem do quarto para o quinto mês de 2018. Frente a maio de 2017, houve alta de 6% na produção. O Estado do Pará reúne grandes operações da mineradora Vale, entre elas a mina S11D, o maior projeto de mineração da história da companhia brasileira.
O minério de ferro é escoado basicamente por minerodutos e pelo modal ferroviário, desde as minas até os portos. Desta forma, foi pouco impactada pela paralisação dos caminhoneiros, que cruzaram os braços e fecharam estradas. A mineração também evitou queda maior da indústria do Espírito Santo, que recuou 2,3% em relação a abril.
Base anual
Na comparação com maio de 2017, a queda da produção alcançou 12 dos 15
locais pesquisados pelo IBGE. Nesse confronto, a indústria mostrou queda de
6,6% em maio na média nacional.
Os destaques negativos ficaram com Goiás (-15,7%), Mato Grosso (-14,7%),
Bahia (-13,7%), Paraná (-12,0%), Rio Grande do Sul (-10,8%) e a região
Nordeste (-10,3%). Em comum, os locais tiveram fortes perdas na produção
de alimentos, uma das atividades mais afetadas pela greve dos
caminhoneiros.
Também houve baixa no Ceará (-9,7%), Santa Catarina (-8,2%) e Minas Gerais (-7,3%), com desempenhos piores do que a média nacional. Outros locais com quedas foram Espírito Santo (-5,4%), São Paulo (-4,8%) e Pernambuco (-3,5%).
Por outro lado, apresentaram expansões frente a maio do ano passado Pará (6%), Amazonas (4,5%) e Rio de Janeiro (0,9%). No caso do Rio de Janeiro, isso teria sido possível graças ao aumento da produção em refinarias fluminenses.