29/05/2018
Notícia publicada pelo site Valor Econômico
A impossibilidade de entregar aço já contratado pelos
clientes pode atrasar o faturamento de receitas pelas siderúrgicas,
especialmente fabricantes de aços planos, mas por enquanto não se observa
cancelamentos, dizem fontes consultadas pelo Valor. Há um perigo,
acrescentam, de haver paradas na produção, o que deterioraria ainda mais os
resultados.
Para uma das grandes usinas de aços planos -- tipo de produto consumido
pelos setores automotivo, de máquinas e equipamentos e linha branca, por
exemplo --, não foi possível faturar nenhum lote desde segunda-feira, quando
a greve de caminhoneiros começou. As exportações foram mantidas e a
produção também, mas haverá um problema logístico de entrega mesmo
quando não existir mais nenhum bloqueio.
Uma grande metalúrgica conta, também em condição de anonimato, que em
momentos durante esses últimos oito dias as estradas foram travadas,
impossibilitando a entrega de produtos, mas até mesmo vendas mais
próximas foram prejudicadas pela falta de combustível. Se a principal
matéria-prima da empresa, o cobre, não teve o fornecimento interrompido,
houve problemas com outros insumos, como o cal.
"Se fala muito, a cada momento é um acordo, mas na prática as coisas não
acontecem", comenta uma fonte da metalúrgica. "A impressão que temos,
conversando com gente próxima aos caminhoneiros, é que a greve deve
acabar de fato na quarta-feira. O receio é que se demore demais para
normalizar a situação", acrescenta. A receita trimestral, diz, já está
comprometida.
Para um analista que acompanha o setor siderúrgico, o impacto da parada de
caminhoneiros no resultado do segundo trimestre "será bem ruim". "A
preocupação é grande porque, se faltarem alguns produtos químicos, as
empresas teriam, inclusive, que parar alto-fornos, e a volta demoraria quase
um mês."
Procuradas, as empresas não quiseram comentar os efeitos da paralisação.
Juntas, as três já perderam R$ 8,5 bilhões em valor de mercado desde
segunda-feira, quando a greve começou.
Na distribuição, mais metade das empresas associadas ao Instituto Nacional
dos Distribuidores de Aço (Inda) já não fatura mais com as vendas, no oitavo
dia de greve de caminhoneiros. Além das estradas travadas, a falta de
combustível também impede as empresas de entregar produtos a seus
clientes.
Nos primeiros dias da paralisação, o faturamento diário caiu de 40% a 60%,
um volume que foi se agravando até que, na última quinta-feira, uma
pesquisa do instituto com as filiadas mostrou recuo de 70% a 90%.
O resultado da parada dos caminhoneiros no segmento de distribuição é um
dos grandes fatores de piora da confiança do mercado sobre as siderúrgicas.
Da venda de aços planos no país, cerca de 35% são destinados às
distribuidoras -- parte subsidiárias das próprias usinas, mas também às
associadas do Inda.
Máquinas
No segmento de máquinas, também já é grande o impacto da greve dos
caminhoneiros. O impacto chega a 92,7% das integrantes da Associação
Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), informou a
entidade, que coletou os dados em uma pesquisa realizada nos últimos dias.
Entre os problemas relatados pelas companhias do setor de bens de capital
mecânicos, estão a falta de matérias-primas, componentes, combustíveis e
lubrificantes. Em alguns casos, é observada paralisação parcial da produção,
falta de comida para refeições dos funcionários e dificuldades no embarque
para exportação.
Algumas empresas responderam que já começam a pensar em férias coletivas ou antecipar o feriado de Corpus Christi, do dia 31. Se a greve se estender por mais dias, as associadas responderam que podem trabalhar em regime de urgência e "home office", reduzir a semana, adiar projetos ou até dispensar funcionários.