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O que se quer da indústria automobilística no Brasil?

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04/12/2017

Artigo publicado pelo Valor Econômico

*Por Antonio Megale

Nas últimas semanas o futuro da indústria automobilística brasileira está em intensa discussão. Na pauta estão estímulos ao desenvolvimento, InovarAuto, Rota 2030 e o conceito de formação de política específica para um ou outro setor. Com todos esses temas em jogo, a pergunta que fica é: qual a indústria automobilística que queremos no Brasil?

Antes de responder diretamente é preciso apresentar alguns fatos. A indústria automobilística é responsável por 4% do PIB total brasileiro e 22% do PIB da indústria de transformação. Emprega direta e indiretamente 1,6 milhão de pessoas e gera aproximadamente R$ 40 bilhões de tributos diretos sobre veículos por ano - vale ressaltar que o veículo é um dos únicos produtos que recolhe impostos durante toda sua vida. São 65 unidades industriais localizadas em 10 Estados e 41 municípios.

É uma das cadeias produtivas mais extensas e com amplo efeito multiplicador na economia ao gerar emprego e renda, que são objetivos básicos de qualquer país. Basta ver o desenvolvimento socioeconômico que a indústria automobilística trouxe onde se instalou, traduzido pela ampliação do comércio local, qualificação da mão de obra, melhor qualidade do ensino com instalação de escolas técnicas e até faculdades, criação e desenvolvimento de sistemas básicos, como habitação e saúde, e evolução da infraestrutura como um todo.

O crescimento contínuo do nosso mercado atraiu as atenções das indústrias do mundo todo. E boa parte delas resolveu exportar para o Brasil. Quando a participação de importados chegou a quase um terço do total de vendas o Brasil reagiu com a criação do Inovar-Auto, uma política que trouxe inúmeros resultados positivos. Mais do que a chegada de novas fábricas, o programa trouxe um verdadeiro salto tecnológico nos veículos aqui produzidos e comercializados. A começar pela melhoria de 15,46% de eficiência energética, que em outras palavras representa economia de combustível para o consumidor.

Os avanços contemplam desde redução do tamanho do motor e do número de cilindros - muitas vezes com aumento de potência - até a adoção de blocos em alumínio, turbocompressores, injeção eletrônica direta de combustível, pneus "verdes", novos materiais na construção da carroçaria, adoção do sistema start-stop em alguns modelos, transmissões que permitem regimes de trabalho mais econômicos, etc. Este salto de qualidade permitiu que aumentássemos nossas exportações, inclusive para países com mercado aberto, que recebem veículos de qualquer lugar do mundo.

De acordo com informações do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, este progresso da eficiência energética representa uma economia de R$ 7 bilhões de gasto com combustível por ano, além de evitar o lançamento de 1 milhão de toneladas de gás carbônico na atmosfera - 7 milhões de árvores seriam necessárias para absorver essa quantidade de CO

Ainda segundo dados do Mdic, as empresas habilitadas ao Inovar-Auto investiram, na média, cerca de 3% de sua receita líquida em inovação, enquanto a indústria de manufatura investiu menos de 1%. Se a tal renúncia fiscal foi na ordem de R$ 1,3 bilhão por ano em razão dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o volume total aportado pelas empresas no período do programa foi de R$ 40 bilhões. Em outra comparação, no ano de 2015, por exemplo, o Inovar-Auto foi responsável por apenas 0,5% do total de R$ 277 bilhões de renúncia fiscal no Brasil.

Mas muito mais além dos números, estamos gerando inovação e conhecimento genuinamente brasileiros, utilizando a competência e criatividade dos nossos engenheiros para usufruir das potencialidades do nosso país, como o etanol. Este biocombustível exemplifica bem a importância de ter uma indústria local com pesquisa, desenvolvimento e inovação. Em meados da década de 70 o Brasil criou o Proálcool, que viabilizou posteriormente a criação do veículo flex. Até hoje a tecnologia é a maior revolução mundial em termos de combustíveis renováveis e representa a plena utilização de uma característica brasileira.

Voltando à pergunta inicial, qual a indústria automobilística que queremos no Brasil? Queremos uma indústria automobilística que contribua para a evolução socioeconômica do país, gere inovação e conhecimento e melhore a vida das pessoas ao oferecer soluções para uma mobilidade urbana sustentável.

Com o Rota 2030 não estamos falando de benefícios ou renúncias fiscais, mas sim de um novo salto tecnológico e na melhoria contínua da competitividade brasileira. É nossa oportunidade de desenvolver a indústria para competirmos no mercado global, com veículos de ponta para o mercado interno e externo. Deixaremos de acompanhar o que é feito lá fora em termos de novas tecnologias, seja de propulsão ou de direção autônoma, para sermos protagonistas na criação. E, quem sabe, utilizando conhecimento brasileiro para termos um dia o híbrido com tecnologia flex e a célula de combustível abastecida com hidrogênio retirado do etanol.

A indústria automobilística não acabará se o Rota 2030 não sair. O potencial do Brasil é muito grande para as empresas - pelo menos a maioria delas - simplesmente saírem do país. Porém sem ele é possível que deixemos de receber investimento estrangeiro no desenvolvimento de produtos. Deixaremos de gerar conhecimento aqui. É isso que queremos? Ser meros importadores de veículos e tecnologias? Reduzir a geração de emprego e renda? Enfraquecer nossa cadeira de fornecedores?

Com certeza não é isso que queremos e nem o que precisamos. O Brasil precisa brigar por uma indústria forte e geradora de inovações, com o objetivo de concorrer no mercado global. Temos que melhorar nossa competitividade antes de partir para uma visão de abertura total de mercado em um acordo entre Mercosul e União Europeia. Essa é a meta do Rota 2030. E é por isso que ele precisar sair. Antonio Megale é presidente da Anfavea.

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