20/10/2015
wilson.perico® techmcolor.com.br (*)
Temos insistido em nossos posicionamentos que a relação do modelo Zona Franca de Manaus com o governo federal deve pautar-se por ações conjuntas e proativas, não por submissão. Neste momento de escuridão da gestão pública, cumpre repassar o desequilíbrio dessa relação à procura de saídas.
E como dizia palavra crise, a hora é de aprender para crescer e recomeçar. E são múltiplas e preciosas as lições de uma crise. Uma delas é a necessidade de rever e alinhar estratégias, redimensionar prioridades, redefinir metas, racionalizar processos, enfim, planejar para o curto, médio e longo prazo.
Temos caminhado às cegas sempre e quando nos recusamos a planejar, em conjunto, as trilhas de um plano integrado, onde setor público e as entidades de classe e demais movimentos organizados e representativos da sociedade possam definir, sem dependência da União federal, o que somos, os instrumentos de que dispomos e o Amazonas que queremos.
As últimas iniciativas de planejamento estratégico, sob o comando da Suframa, como determinam os expedientes legais, foram deixadas pelo caminho, esvaziando ações inteligentes para adensar o polo industrial, diversificar sua produção, interiorizaras oportunidades e assegurar as condições de sua sobrevivência, ou seja, a competitividade.
O governo federal, entretanto, nos últimos anos, fez da ZFM um polo de exportação de recursos. O que se viu, sob o nome pomposo do contingenciamento, foi o confisco das verbas necessárias à execução do que foi planejado.
As reclamações locais foram tímidas, a despeito da relevância dos caminhos desenhados. Foi assim que os parques tecnológicos de inovação, informação e comunicação, o CTPIM, e o de Biotecnologia, CBA, foram abandonados.
Assim também fracassou a modernização portuária, com o Eizof, entre outros entraves, e o ordenamento da indústria da construção dos barcos, o Polo Naval, como fizeram, os ingleses há mais de um século, nos estaleiros da Escócia A logística dos transportes agregou à economia do Reino Unido a riqueza necessária para empinar os negócios da borracha. Essa lição de logística não aprendemos.
Vejamos o caso da recuperação da BR 319, nosso direito de ir e vir por estrada e oportunidade de diversificação logística da ZFM. A estrada foi literalmente bombardeada sob nossa omissão.
O mesmo ocorreu com o engavetamento do polo gás-químico, base do polo de fertilizantes, ideias geniais e desistências irracionais. Nunca geramos tanta riqueza como, também, nunca fomos tão saqueados.
Essa retomada da história recente nada mais é do que uma desculpa para olhar o futuro, que nos cobra duas tarefas cruciais, üma delas é retomar o planejamento estratégico da ZFM, como manda a Lei, e outra é conter a evasão dos recursos necessários à execução do que for definido, como prioridade e necessidade.
Chega de esperar por Brasília para definir e executar o que queremos de melhor para o Amazonas, para a Amazônia Ocidental e toda a região. Temos os recursos, geramos riqueza que por lei deveriam ficar aqui, por isso não precisamos de ajuda e não estamos com "pires na mão". O que queremos e precisamos é de respeito aos nossos direitos constitucionais. Temos demandas e temos projetos. Se aplicarmos o que manda a Lei, os recursos são suficientes para infraestrutura e para os parques tecnológicos, os polos abandonados, os novos que podemos definir em conjunto, num arranjo estratégico e de definição política.
Que seja assegurado o que manda a Lei para os recursos e fundos pagos pela indústria para a infraestrutura de que o modelo padece. Ou seja, para a qualificação ficarão dos recursos humanos, para os gargalos dos portos, a livre concorrência e desabrochar os polos e, por uma questão de decência, a estrada da integração e diversificação logística e cidadã. Em nome do bom senso e da justiça.
Wilson Périco é presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam)
Fonte: Jornal A Crítica