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ZFM: o erro em vitimar-se

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07/05/2019

Augusto Barreto Rocha

Sempre me impressiono quando percebo pessoas se colocarem na condição de vítimas quando não o são. Pergunto-me: quais seriam as condições psicológicas que levam a isso? Tempos atrás, tive um aluno que me procurou para relatar o quanto era vítima por ter faltado a uma semana de aula. Como assim? Dei causa ao problema dele? Por ser vítima ele deveria ser beneficiado. A construção de seu raciocínio me fez ir atrás da etimologia da palavra aluno, que vem do latim ‘alumnus’, que significa afilhado, discípulo, derivado de ‘alere’, que tem significado de nutrir ou alimentar.

Continuava ele, que deveria ser beneficiado, pois afinal ele teve que trabalhar e eu não poderia obrigá-lo a perder o emprego e, além do mais, não poderia oprimi-lo, pois eu era a autoridade. Na construção feita por aquele cérebro em pânico, talvez por sua fome de presenças (faltas reprovam), eu era um opressor que queria demiti-lo. Foi um acontecimento exótico. Universidades também são fantásticas por nos depararmos com a diversidade humana. Não tinham nem dois minutos que eu o conhecera e eu já recebera umas três agressões, com o eventual propósito de provocar a minha pena ou despertar-me um medo profundo, de tal forma que causasse um benefício, que de fato seria contrário ao propósito daquele sistema de ensino.

Como não sou autoritário, nem possuo nenhum interesse inato de reprovar alunos, aguentei mais uma agressão verbal e me vali dela: ele encerrou a ‘discussão’. Foi meio trágico, meio hilário. Daí, surgiu-me uma pergunta: até que ponto agimos de forma semelhante na ZFM? Aquele debate inútil poderia ser produtivo em algo. A eterna busca empreendedora: oportunidades em todos os lugares.

Grande parte de nossa alegação para defender a Zona Franca de Manaus tem sido nos colocando como vítimas. Não somos vítimas. Somos abençoados por Deus por possuirmos uma enorme riqueza da biodiversidade que precisa ser preservada, pelo bem do planeta. Além disso, é um ativo nacional, pela sua magnitude. Todavia, não é só pela proteção que devemos trilhar nossas vidas, mas sim pela produção e geração de riqueza (para os que gostam da Bíblia e acreditam que a floresta é um presente divino, é só atentar para a parábola dos talentos).

Se aquele aluno me procurasse para se colocar ao dispor para produzir algo, para compensar a ausência ou a sua lacuna de conhecimentos seria uma proposta muito mais interessante. Ou, fazendo um paralelo, o que poderemos produzir no Amazonas sem prejudicar o meio ambiente de maneira expressiva? Quais os nossos caminhos para a produção e geração de riqueza para o país, que não dependem de incentivos fiscais? Por que insistimos tanto em olhar apenas para saídas que não geram impostos?

A verdadeira questão para alunos é: como aprender o conteúdo da aula mesmo estando ausente? Ao invés de como ser aprovado por ser vítima de uma conspiração global para que ele perca o emprego? Como poderemos contribuir para a arrecadação tributária do país ainda mais do que já contribuímos? Afinal, já contribuímos muito, mas como contribuir mais? Somos um dos poucos Estados que geram mais impostos do que recebem. Também temos expressivo potencial de geração de riqueza que precisa ser transformado em realidade.

No caso do aluno, se ele já sabe o conteúdo, por qual razão entrou no curso? No caso de Manaus, se nós não somos ricos e prósperos, como poderemos nos tornar um Amazonas próspero e contribuinte para o país no curto, médio e longo prazos? Os demais Estados do Brasil não são nossos opressores, pois eles estão vivendo a vida deles em grande dificuldade. Naquela noite, eu estava com o corpo faminto, após um dia corrido, e todo animado pela chance de lecionar. No Brasil, os demais Estados estão famintos, com grandes déficits fiscais e o Amazonas vive se gabando que é próspero sem sê-lo. Precisamos deixar de nos portar como vítimas de uma conspiração de São Paulo, do Sudeste ou de Brasília, mas como um Estado que contribui enormemente para o fisco nacional, e que quer e precisa contribuir mais para a arrecadação tributária do país, com uma construção progressiva de desenvolvimento responsável, objetivando a prosperidade ampla, mas ainda não pode, por deficiências históricas, restrições desnecessárias e uma “pitada” de incompetência. O Amazonas, tal qual alunos relapsos, precisa deixar de ser vítima e passar a agir. Será melhor para cada um de nós, para o país e para a humanidade.


*Augusto Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, Coordenador da Comissão de Logística do CIEAM.

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