21/02/2020
Fonte: Acrítica
Editorial
A discussão sobre os eventuais efeitos da epidemia causada pelo coronavírus nas fábricas da Zona Franca de Manaus (ZFM), revelam uma antiga fragilidade do modelo industrial amazonense: a profunda dependência de seu principal setor aos componentes fornecidos por empresas da Ásia, principalmente da China, de onde vem 37% de tudo que o Estado importa, segundo dados do Ministério da Economia.
A epidemia na China tem causado fechamento temporário de fábricas, o que ameaça comprometer o abastecimento de certos insumos essenciais ao setor de eletroeletrônicos, ainda o de maior vulto na Zona Franca. O assunto dominou os debates na reunião de ontem no Conselho de Desenvolvimento do Estado do Amazonas (Codam) órgão que delibera sobre concessão de incentivos de ICMS às empresas da ZFM, e deve ser retomado na reunião de hoje do Conselho de Administração da Suframa (CAS), que decide sobre incentivos federais.
O que as instituições representativas da indústria e das esferas da administração pública deveriam debater são alternativas para reduzir essa dependência de insumos importados, o que só é possível com a instalação no Amazonas um sólido polo de componentes. Isso já foi tentado anos atrás, no início do século, com a revisão da política industrial do Estado, que criou formas de incentivar tanto a aquisição local de componentes quanto a instalação em Manaus de fabricantes desses produtos.
Desde então, uma série de reviravoltas promovidas, inclusive, pelo governo federal, vem reduzindo a vantagem de produzir componentes no Amazonas e o que se vê há vários anos é o desmonte paulatino desse setor, com as empresas preferindo buscar peças e insumos na Ásia, onde os preços são mais competitivos.
Um dos resultados negativos desse empobrecimento é o desequilíbrio da balança comercial do Amazonas, que já é gigantesco, e vem crescendo ainda mais, dando argumentos para aqueles que torcem o nariz para o modelo. No ano passado, o AM importou mais de US$ 10 bilhões, e exportou US$ 731 milhões, gerando um déficit de US$ 9,4 bilhões. Aqueles que pensam a Zona Franca e almejam a sustentabilidade do modelo industrial pelas décadas de lhe restam, precisam discutir maneiras de ressuscitar o setor local de componentes.
*Foto: Divulgação