10/01/2020
Fonte: Jornal Acrítica
EDITORIAL
Não tem vida fácil para a Zona Franca de Manaus. Com a decisão do governo federal de manter a redução no incentivo de IPI na produção de concentrados para bebidas não-alcoólica, retorna a tensão entre a indústria amazonense e o Ministério da Economia. Desde o início do novo governo, lideranças locais se queixavam das constantes declarações depreciativas do ministro Paulo Guedes a respeito dos méritos do modelo industrial amazonense, baseado em incentivos fiscais. As falas de Guedes se materializaram quando deu aval para a manutenção dos incentivos reduzidos.
A iniciativa de baixar a alíquota de IPI para os
concentrados foi do ex-presidente Michel Temer, ainda
em 2018, quando a alíquota despencou de 20% para
apenas 4%. Diante do grita geral da bancada
amazonense, o governo resolveu voltar atrás tentando
agradar gregos e troianos: fixou o imposto em 10%, mas
com validade até 31 de dezembro de 2019. A expectativa
da bancada amazonense no Congresso Nacional era de
convencer o governo a elevar a competitividade da Zona
Franca de Manaus, usando argumentos como o
reconhecimento das virtudes do modelo até mesmo por
parte da Organização Mundial do Comércio.
Não adiantou. O governo federal aproveitou o recesso
parlamentar, quando deputados e senadores estão
ausentes de Brasília, para decidir pela manutenção da
alíquota de IPI nos 4% definidos pela gestão Temer.
Como não poderia deixar de ser, membros da bancada
do Amazonas esperneiam com a pressão do
empresariado local e iniciam articulações para tentar
reverter a situação o mais rapidamente possível. Seria
um desastre para a Zona Franca se uma gigante como a
Ambev, por exemplo, resolvesse sair de Manaus por
falta de competitividade. Seria a decretação do fim de
mais um segmento na indústria local. É muito difícil que
os deputados e senadores consigam sensibilizar o
governo, já que nem o lobby intenso da Coca-Cola e da
Ambev tiveram sucesso.
Se o cenário não mudar, provavelmente, o assunto será o principal tema a ser discutido na próxima reunião do Conselho de Administração da Suframa (CAS) em 20 de fevereiro, o primeiro encontro do colegiado no ano. Há poucos dias, o superintendente da Suframa destacava o fato de que os ataques verbais à ZFM tinham cessado. Parece que eles deram lugar a agressões mais práticas.