26/03/2020
Fonte: O Amazonês
Cynthia Blink
O presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, concedeu
uma entrevista via Instagram ao OAM e revelou que há um caso suspeito do novo coronavírus no
Polo Industrial de Manaus (PIM), também explicou como a indústria segue as recomendações da
Organização Mundial de Saúde (OMS) e acrescentou que há inovações na produção do PIM em
prol do combate ao Covid-19.
O primeiro impacto do coronavírus no PIM chegou antes mesmo da doença adentrar ao país.
Isso devido a falta de insumos, já que a indústria é dependente da matéria prima que vem do
exterior. Depois, houve uma mudança no design das fábricas para respeitar a distância de dois
metros, sugeridos pela OMS.
Inovações
Outra mudança significativa foi a união das empresas do PIM para a produção de itens que não
estão nos seus portfólios, mas são demandados pela sociedade brasileira em meio a pandemia.
O primeiro exemplo que o presidente conta é referente a produção de álcool em gel para os
profissionais da Saúde, “o pessoal do posto Atem se prontificou a produzir álcool em gel, mas
não tinham embalagens. Um dos conselheiros da Cieam é o dono da Magistral fabricou esse item fundamental para a disponibilização do produto".
Périco disse também que os pesquisadores da Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira
Dourado, situado na Av. Pedro Teixeira, s/n, no Dom Pedro, Zona Centro-Oeste, estão trabalhando
no desenvolvimento de um remédio que solucione os sintomas ocasionados pela Covid-19 e, em
um determinado momento, eles precisaram de computadores para prosseguir com o estudo foi
quando a Positivo forneceu as máquinas.
Outro exemplo vem da academia, os estudantes da UEA criaram o protótipo de uma máscara e
um avental também voltados para os trabalhadores da Saúde que ficam em contato direto com
pessoas infectadas pelo novo coronavírus e até mesmo outras enfermidades. “[Nós da Cieam]
falamos com os responsáveis pelo segmento do plástico, a Tutiplast e também a empresa Bicho
da seda, e esses aventais e as máscaras estão sendo fabricados para atender os médicos,
enfermeiros, técnicos de enfermagem e demais profissionais da Saúde”, informou.
Suspeito
Além de deixar as pessoas do grupo de risco em casa, Périco afirma houve uma revisão do
layout das fábricas para aumentar a distância entre os funcionários na linha de produção, assim
como o aumento dos turnos das refeições para que menos pessoas fiquem no mesmo ambiente.
Foi realizada também medidas comuns a todos, como a disponibilização de álcool em gel em
vários pontos das empresas.
“Tivemos o primeiro caso [suspeito], ontem, 23, em uma empresa do PIM, uma pessoa da área
administrativa foi diagnosticada, possivelmente, com o vírus e a empresa decidiu paralisar as
atividades por sete dias porque essa pessoa estava em um local com muitas outras pessoas, a
empresa achou por bem tomar essa decisão. Mas nós estamos trabalhando”, afirma o
presidente do Cieam.
Demissões
Sobre as possíveis demissões como resultado da pandemia global, Périco não revelou números,
afirmou que medidas estão sendo tomadas para a crise não afetar o número de funcionários e
disse que “ninguém gosta de demitir”.
Ele também ressaltou o papel social que o PIM cumpre. “Muitas das pessoas das pessoas que
fazem as suas três refeições nas fábricas não teriam condição de fazer refeições de mesma
qualidade nas suas residências”, disse e lembrou do suporte ambulatorial disponível aos
colaboradores. “Isso evita que busquem um pronto socorro, onde existe aglomeração e o maior
risco de se contaminar”, acrescentou o presidente.
Autocrítica
O PIM funciona por meio de renúncia fiscal, ou seja, as empresas se instalam em Manaus e após
começar as suas vendas não pagam certos tributos, o que significa R$ 24 bilhões que deixam de
pagar para o governo do Brasil. Por conta desse valor, de tempos em tempos, a indústria do
Norte fica por fio à mercê da decisão dos parlamentares do Congresso Nacional para saber se
vai continuar existindo. Para Périco, uma culpa que os profissionais do PIM carregam, incluindo
ele mesmo, é a falta de divulgação das contrapartidas do PIM que vão além da produção.
Para os funcionários, o benefício abrange da alimentação ao investimento nos estudos. “Os
colaboradores têm convênio de saúde, uns têm convênio oftalmológico, além da refeição e o
transporte, as empresas oferecem também bolsa de estudo”, explica Périco. Quanto à educação,
em um cenário macro, é a indústria que paga os custos da Universidade Estadual do Amazonas
(UEA). “São, em média, R$ 380 milhões por ano que as empresas repassam para a UEA, que
desenvolve suas atividades não só na capital, mas nos outros 61 municípios”.
Há ainda o repasse de R$ 80 milhões para o Fundo de Fomento ao Turismo, Infraestrutura,
Serviços e Interiorização do Desenvolvimento do Amazonas (FTI) e R$ 200 milhões para Fundo
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Amazonas (FMPS). “O FTI, que deveria ser utilizado
para desenvolver atividades nos demais municípios do nosso estado e, por meio do FMPS se
realiza o fomento de atividades para micro e pequenas empresas”, disse o presidente.
Wilson Périco entende que é devido ao PIM que o Amazonas está entre os oito únicos estados
do Brasil que estão superavitários. “O que quer dizer que apenas essa minoria devolve à União
em arrecadação de tributos federais valores acima dos repasses que os estados recebem e o
Amazonas é um deles, são três estados do Sul, quatro do Sudeste e o nosso do Norte”.
Para exemplificar, ele relembra os valores do ano passado. “Em 2019, recebemos R$ 3,8 milhões
de repasse e arrecadamos R$ 13,9 milhões, ou seja, devolvemos, líquidos, para a União mais de
R$ 10 milhões de reais e isso aconteceu nos anos anteriores também”, afirma.
Sugestão
No recém criado perfil do Instagram, Périco (@perico_wilson) opinou sobre o uso do fundo
partidário e o fundo eleitoral serem utilizados no combate à pandemia do Coronavírus. Para ele,
essa é a oportunidade de efetivar essa transferência de, praticamente, R$ 3 bilhões, e de
repensar o período das eleições no Brasil. Segundo ele, seria melhor estender por mais dois anos
os cargos municipais e fazer em um único pleito de todas as esferas.
“Temos visto que esses recursos são usados de diversas formas e na maioria indevidas, para
viagem particular, para passeios, para despesa em restaurante e estou falando de coisa que a
gente enxerga, sem contar aquilo que a gente não enxerga”, falou ao OAM. “Uma eleição a cada
quatro anos, só isso já traria uma redução grande nas despesas do orçamento e esse dinheiro
poderia ser utilizado nas ações que, certamente, serão demandas ano que vem”, justificou o
presidente.
Durante toda a entrevista, Périco ressaltou que não se tem resultados diferentes com as mesmas ações.