CIEAM | Centro da Indústria do Estado do Amazonas CIEAM | Centro da Indústria do Estado do Amazonas

Notícias

Varejo adia pedidos e vendas para o Natal estão abaixo do previsto

  1. Principal
  2. Notícias

03/11/2015

A crise jogou uma pá de cal sobre a sazonalidade positiva do fim do ano para a indústria. Enquanto indicadores mostram que as demissões e a queda da produção se acentuaram justamente nos meses em que começam as encomendas para o Natal, associações industriais ouvidas pelo Valor relatam vendas abaixo do previsto para o período.

Com o horizonte turvo em relação às vendas nos próximos meses e estoques ainda elevados, empresários contam que o varejo tem adiado ao máximo os pedidos, reduzindo cada vez mais a expectativa de alguma reação da atividade nas fábricas nos últimos meses de 2015.

Mesmo sobre a base de comparação fraca de 2014, quando a atividade do setor manufatureiro encolheu 4,1%, a produção caiu 8,8% de janeiro a agosto, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal, do IBGE. Para o dado de setembro, que será divulgado nesta semana, economistas estimam nova queda, de dois dígitos, sobre igual mês do ano passado.

Sem reação da produção, o nível de emprego no setor segue em declínio e as contratações de trabalhadores temporários, comuns no terceiro trimestre, praticamente não aconteceram. Em setembro, a indústria de transformação empregava 7,9 milhões de pessoas, 7,3% menos que no mesmo intervalo de 2014.

A retração da demanda também tem afetado o comércio, que, estocado, reduz os pedidos a fornecedores. Em setembro, 30,2% dos comerciantes ouvidos pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) consideravam seus níveis atuais de mercadorias paradas "acima do adequado", maior patamar da série histórica do índice, iniciada em 2011. Em São Paulo, pela medição da Fecomercio-SP, esse percentual chegou a 37,8%, também recorde da pesquisa que começou há quatro anos.

No polo de Manaus, as empresas têm tentado ajustar os inventários dando licença remunerada aos funcionários ou negociando acordos de redução de jornada, diz Wilson Périco, presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam). "Pela primeira vez em seis ou sete anos estamos empregando menos de 100 mil pessoas". A desaceleração, antes mais restrita às fabricantes de ar-condicionado, micro-ondas e televisores, já chegou às indústrias de tablets e smartphones.

Com estoques em nível incômodo, as empresas de eletroeletrônicos não precisaram elevar a produção neste fim de ano para atender o varejo, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato. A perspectiva, pelo contrário, é de continuidade de dispensas: em setembro, 49% das indústrias pesquisadas pela sondagem da Abinee relataram nível de emprego menor sobre igual período de 2014 e 69% disseram que o ritmo dos negócios no mercado interno ficou abaixo do previsto.

Bom termômetro da produção de bens de consumo, a expedição de papelão ondulado caiu 4,47% em setembro ante igual mês de 2014, queda mais forte que o previsto por Sergio Ribas, diretor da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO). Ao contrário da dinâmica dos anos anteriores - de aquecimento na emissão de embalagens no segundo semestre - a tendência de redução das vendas de papelão se intensificou a partir de julho. O setor de alimentos e bebidas é o único que segue com alguma demanda, diz o diretor, mas outros mais voltados ao consumo têm diminuído as compras, como o de têxteis, vestuário e mobiliário.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Rafael Cervone, conta que o varejo parece estar adiando ao máximo os pedidos para o Natal. "Acho que há estoques e uma dificuldade muito grande de prever o que se deve comprar", diz.

Segundo pesquisa da Abit, 74,3% dos associados acreditam que as vendas de outubro a novembro vão cair em relação a igual período do ano passado, 47% afirmam que devem demitir nesses meses e 56,5% têm estoques acima do nível desejado. O único elemento positivo no cenário é o novo patamar de câmbio, que, nas estimativas da entidade, pode gerar entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão em substituição de importações no mercado interno.

O câmbio mais competitivo tem conduzido empresários do setor de volta às feiras internacionais, conta Ulrich Kuhn, presidente do Sintex, sindicato das empresas têxteis de Blumenau. "Depois de muitos anos estamos vendo muita gente que não ia mais à Heimtextil [na Alemanha] interessada na feira de 2016".

Para a Lupo, que exporta apenas 3% do faturamento, a depreciação cambial deve elevar a competitividade, mas, por outro lado, resulta em maiores custos com insumos. No mercado interno, o diretor industrial da empresa, Carlos Alberto Mazzeu, afirma que o primeiro semestre foi bom, mas na segunda metade do ano "as coisas começaram a ficar um pouco ruins".

Após estabilidade em agosto, a receita líquida da Lupo caiu 7% em setembro sobre igual mês de 2014. No ano, até setembro, a receita cresceu 3,5% e a expectativa é encerrar o ano com alta. Mazzeu, no entanto, diz não ver "o Natal com bons olhos", mesmo com certa melhora das vendas em outubro.

No setor de calçados, a falta de encomendas já causa apreensão nos fabricantes. À medida que o tempo avança, fica mais difícil aceitar pedidos e entregá-los até o Natal, diz Heitor Klein, presidente da Abicalçados. "Já estamos em novembro e o receio é de termos o pior fim de ano dos últimos anos."

Mesmo a indústria de alimentou, que resiste mais ao recuo na renda dos consumidores, tem sentido impacto da recessão. Segundo Denis Ribeiro, economista da Abia, entidade empresarial do setor, a produção em volume cresceu 0,64% nos 12 meses até agosto, menos da metade da alta de 2014.

Menos pessimista do que outros setores da indústria, o presidente da Estrela, Carlos Tilkian, conta com redução da instabilidade econômica e política e uma pequena sobra no orçamento das famílias para ajudar as vendas no Natal. "Nos momentos em que as famílias deixam de fazer grandes investimentos em um carro novo ou em uma TV, sobra renda disponível que acaba indo para presentes em datas especiais", diz. Por isso, Tilkian espera um fim de ano melhor do que o de 2014, embora "bem longe" do nível de anos anteriores.

Fonte: Valor Econômico

Coluna do CIEAM Ver todos

Estudos Ver todos os estudos

Diálogos Amazônicos Ver todos

CIEAM | Centro da Indústria do Estado do Amazonas © 2023. CIEAM. Todos os direitos reservados.

Opera House