21/05/2020
Fonte: Jornal do Commercio
Marco Dassori
A crise da covid-19 derrubou o desempenho
da indústria a um
nível “sem precedentes”, na passagem de março para
abril, segundo a CNI. E os segmentos mais fortes do PIM estiveram entre as maiores baixas.
A Sondagem Industrial do mês,
divulgada pela entidade nesta
quarta (20), aponta que o índice
de evolução da produção não
passou de 26 pontos, em uma
escala que vai de 0 a 100 pontos.
Foi um novo recorde negativo na
série histórica da pesquisa, onde
resultados abaixo de 50 sinalizam
queda.
A utilização da capacidade instalada do setor caiu de 58% para 49%, após a paralisação de linhas de produção e até de fábricas inteiras, em decorrência do recuo da demanda e do fechamento do varejo. Em paralelo, as suspensões de contrato, cortes em jornadas de trabalho e demissões em massa que vieram no rastro da pandemia tombaram o índice, de 48,8 para 38,2 pontos – o menor número da série, iniciada em 2011.
Segmentos de bens de consumo, que carreiam o PIM, estiveram entre os mais impactados.
O subsetor de “outros equipamentos de transporte” (o polo de
duas rodas) usou apenas 17,2%
de sua capacidade, em um mês
em que 70% das fábricas de
motocicletas estavam paradas.
“Equipamentos de informática,
produtos eletrônicos e outros”
trabalhou com 17,6% de sua estrutura. “Máquinas, aparelhos e
materiais elétricos” e “máquinas
e equipamentos” (condicionadores de ar) usaram 22% e 22,3%
das instalações, na ordem.
A evolução da produção de ambos os subsetores também ficou bem abaixo da média –23,4, 22,9, 22 e 26,1 pontos, respectivamente. No caso do índice referente ao crescimento do número de empregados, contudo, o desempenho dos polos de duas rodas (39,1 pontos) e de bens de informática (38,6) seguiu de perto a indústria nacional, embora o mesmo não tenha ocorrido nas linhas de produção de conversores, alarmes, condutores e bate rias (36,6) e de condicionadores de ar (36,5) do polo eletroeletrônico.
Entre os segmentos menos
afetados, estão o de “perfumaria,
sabões, detergentes”, “produtos
de limpeza e de higiene pessoal
(que não registrou queda do número de empregados em abril)
–ambos não presentes no PIM
–e “farmoquímicos e farmacêuticos”, que teve quedas “mais
brandas” que a média. “Alimentos” e “químicos”, que figuravam
entre os destaques positivos em
março, sofreram desempenho
menos negativo que o restante da
indústria, mas as quedas “foram
mais significativas esse mês”
“A maior disseminação da
crise entre as empresas no mês
de abril era esperada. No início
de março, grande parte da indústria ainda não tinha sentido a
queda na demanda. Em abril, as
empresas passaram todo o mês
sob os efeitos das medidas de
distanciamento social”, assinalou
o gerente executivo de Pesquisa e
Competitividade da CNI, Renato
da Fonseca, no texto distribuído
à imprensa pela assessoria da
entidade.
Expectativas em baixa
Em contraste, os índices que
medem as expectativas tiveram
uma ligeira melhora, mais por
efeito de base de comparação
do que outra coisa, dado que o
indicador já vinha com números
baixos nos levantamentos anteriores. Ainda que em menor
intensidade, o pessimismo do
empresário se mantém para os
próximos seis meses.
O índice de expectativa de
demanda registrou crescimento
de 3,2 pontos, para 35,1 pontos, permanecendo na zona de
queda e pessimismo do empresariado. O mesmo se deu
nos indicadores de expectativas
para o número de empregados
–que subiu 2,9 pontos, para 38,1
pontos –e de compras de matérias-primas – que passou de
33,3 para 34,7 pontos.
A intenção da indústria de investir, contudo, seguiu reforçada em viés de baixa. “O índice de intenção reflete os efeitos da pandemia sobre a atividade, a elevada incerteza e o consequente pessimismo dos empresários”, apontou o texto da pesquisa da CNI. O indicador praticamente não se alterou e cravou 36,9 pontos, após a queda do mês anterior –quando havia passado de 58,3 para 36,7 pontos.
Isolamento e crise
Na mesma linha da avaliação da CNI, o presidente do
Cieam (Centro da Indústria do
Estado do Amazonas), Wilson
Périco, lembrou ao Jornal do
Commercio que o setor já esperava que abril registrasse “indicadores para baixo”, diante da
gravidade da crise, e adiantou
que a trajetória de queda deve
se acentuar no levantamento
de maio. No entendimento do
dirigente, isso ocorre mais em
função da estratégia para o combate à covid-19, do que pelos
efeitos da pandemia em si.
“O que afeta a atividade
econômica é o isolamento social. Com o comércio fechado,
a indústria não tem nem para
quem entregar os produtos. As
concessionárias de duas rodas
estão todas fechadas, com estoques e sem poder vender. Pode
ter até uma ou outra venda de
eletroeletrônicos e de produtos de informática pela internet,
mas é muito abaixo do que se
fazia antes. E o mesmo acontece
com outros segmentos da indústria, daqui e do Brasil afora”,
lamentou.
Em sintonia, o vice-presidente da Fieam (Federação das
Indústrias do Estado do Amazonas) e presidente do Sindicato
das Indústrias Metalúrgicas,
Mecânicas e de Material Elétrico
de Manaus, Nelson Azevedo,
diz que também não vê luz no
fim do túnel para o setor, em
face de uma economia “completamente parada” por causa da
pandemia da covid-19.
“O problema é mais sentido na Zona Franca, que produz quase que exclusivamente para o mercado interno. O setor vinha de uma boa recuperação, mas sentiu dificuldades na cadeia de suprimentos e a coisa piorou quando comércio e serviços tiveram suas portas fechadas. A indústria trabalha hoje com jornadas e salários reduzidos e já há empresas que não conseguem nem pagar a indenização de seus funcionários”, concluiu.