CIEAM | Centro da Indústria do Estado do Amazonas CIEAM | Centro da Indústria do Estado do Amazonas

Notícias

Um ano após greve de caminhoneiros, opção de frota própria não vinga em muitas empresas

  1. Principal
  2. Notícias

22/07/2019

Notícia publicada pelo site O Globo

Henrique Gomes Batista

Em junho de 2018, na ressaca do fim da greve dos caminhoneiros que parou o país, diversas empresas anunciaram a criação ou ampliação de frotas próprias para não ficar mais refém dos transportadores. Mas foram poucas as que tiraram estes planos do papel, ainda que o país tenha passado por algumas transformações logísticas nos últimos 12 meses.

— Sem dúvida há casos de empresas que apostaram em frota própria, mas o movimento mais sentido foi na contratação de empresas de transporte ou no aluguel de caminhões para driblar a questão do frete — afirma Maurício Lima, sócio-diretor da consultoria Ilos, especializada em logística. — O que vemos são busca de alternativas, com o uso de caminhões dedicados que, a longo prazo, podem até prejudicar o fretista autônomo.

Uma das empresas que cumpriu a promessa foi a Predilecta Alimentos. Embora ela já estivesse em processo de compra de caminhões, este se intensificou depois da greve dos caminhoneiros, com a aquisição de 25 caminhões - cerca de 10% de sua frota de 230 veículos. Na operação, investiu R$ 15 milhões.

— Como nossa carga tem baixo valor agregado, ficamos muito sensíveis à variação do frete. Até agora não nos recuperamos totalmente dos efeitos da greve — diz Bruno Trevizaneli, diretor do Grupo Predilecta. — Mas passamos de uma utilização de carga própria de cerca de 50% de nosso volume para um patamar de cerca de 65%.

Entretanto, ele admite que esta não é uma opção para todos. Para o grupo, ter caminhões é possível porque estes estão sempre ocupados e, mesmo quando retornam às fábricas, vêm carregados de insumos, como embalagens. Nas rotas onde essa movimentação em duas vias não ocorre, eles ainda recorrem a terceiros, dando preferência, cada vez mais, a transportadoras em vez de autônomos.

— A frota própria só vale a pena para quem fica com o caminhão rodando direto — diz Trevizaneli.

À espera da tabela

Já a Cargill, gigante que prometeu comprar 300 caminhões, até agora não concretizou esse investimento. A empresa se mantém à espera da nova tabela do frete, publicada pela ANTT na quinta-feira, e do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal das ações contra o tabelamento, previsto para 4 de setembro.

“Dentro de certa razoabilidade dessas duas decisões, acreditamos que não será necessário aumentar ainda mais a frota de caminhões no mercado brasileiro de superpesados, o que, por consequência, aumentaria ainda mais a oferta de transporte”, informou a Cargill em nota.

— A greve dos caminhoneiros levou todo o setor a repensar sua logística. Cada um buscou uma solução, mas em geral houve um aumento do aproveitamento de ferrovias e hidrovias, usando os caminhões para interligar esses modais. E, para esta fase, houve um aumento do uso de transportadoras, no lugar de autônomos — explica Sérgio Mendes, diretor geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).

Neste contexto, o aluguel de caminhões ganha força. Com cerca de 70% deste mercado, a Vamos, empresa do Grupo JSL, vive um momento de grande expansão. Com cerca de 11 mil equipamentos para locar - 80% dos quais caminhões - o crescimento do mercado é forte:

— Não pautamos nossa estratégia pela greve dos caminhoneiros, mas nosso faturamento hoje já é 25% maior do que em igual período do ano passado e estamos ampliando a nossa frota — diz Gustavo Couto, presidente do Grupo Vamos. — Depois da greve, fomos muito mais procurados por empresas que querem alternativas. Com a locação, a empresa detém o controle de toda a frota, usa seus motoristas, é diferente de uma transportadora, porém sem a necessidade de investimentos e com custos mais previsíveis.

Custo mais alto

Para Francisco Beluccio, presidente da NTC Logística, a criação de frotas próprias não tende se tornar uma grande tendência, devido à questão econômica:

— Em alguns casos, ter frota própria significa o triplo do custo de transporte, mesmo com a alta do frete.

Mas parte da recente alta das vendas de caminhões pode ser atribuída a esses movimentos. Segundo dados da Anfavea, de janeiro a maio deste ano foram licenciados 39.093 caminhões, uma alta de 48,5% sobre os 26.322 licenciamentos do mesmo período do ano passado - embora os dados de 2018 tenham sido afetados, em parte, pela própria greve dos caminhoneiros, em maio.

— Prevemos para este ano a venda de 105 mil caminhões, uma alta de 15% sobre 2018. Grande parte disso é decorrente da expectativa de recuperação da economia, embora tenha um pouco de impacto, menor, da verticalização do transporte — afirma Gustavo Bonini, diretor da Anfavea. — O que vemos, de fato, é uma tentativa de otimizar o transporte.

Coluna do CIEAM Ver todos

Estudos Ver todos os estudos

Diálogos Amazônicos Ver todos

CIEAM | Centro da Indústria do Estado do Amazonas © 2023. CIEAM. Todos os direitos reservados.

Opera House