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Três mil famílias atingidas

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09/05/2022

Malu Dacio

Distante 257 km de Manaus, Maués vive um clima cie incertezas. Isso porque o decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 28 deste mês zera a alíquota do Imposto sobre Produtos Importados (IPI) para processos de bebidas não alcoólicas. A medida foi suspensa ontem por liminar (decisão provisória) do ministro Alexandre de Moraes, do STF. No município, ao menos três mil famílias são produtoras de guaraná.

O agricultor José Cristo de Oliveira, 46, é presidente da Associação dos Agricultores de Produtores Orgânicos do Município de Maués e conta que criou raízes na produção do guaraná desde quando me nasceu. “Trabalho com o guaraná desde cedo, aprendi com meus pais. Meu avô trabalhava com a produção, passou pro meu pai que me ensinou. Todos os filhos do meu pai trabalhamos com isso. São 12 irmãos trabalhando com guaraná no Município de Maués. Entre tios, primos e outros, somos em torno de 30 pessoas na mesma família. Meus 3 filhos trabalham com o guaraná e estudam”, lembra.

ASSOCIAÇÃO

Cinquenta produtores trabalham na associação com José Cristo das 7h às 17h. O processo inicia com a colheita do fruto. “Tem que apanhar o guaraná, depois tem que descascar, lavar, depois aquece o forno e depois coloca no forno, deixar 5 horas. Temos comercializado em grão e quem compra transforma em pó. Geralmente é comercializado em torno de R$ 24 a R$ 30 e pode chegar até R$ 42 por kg”, afirmou o produtor.

Sobre o decreto presidencial, Cristo defende que quem comercializa diretamente para empresas multinacionais vão enfrentar dificuldades. “Se essa empresa sair daqui, muitos produtores podem ser prejudicados por faltar esse mercado que eles possuem. Muitos produtores em Maués já falam sobre isso. Escutamos sobre essa dificuldade e sabem que podem sentir esse impacto pela frente. Acredito que os impactos vão ser fortes porque não terão mercado aqui dentro do município”, salientou.

“Como morador, ouço de vários produtores e moradores porque o dinheiro que circula em Maués é o dinheiro do guaraná, da produção, dos produtores, a gente vai sentir no município. Geralmente os maiores produtores de guaraná são os pequenos produtores tradicionais”, disse.

Para Cristo, as associações precisam procurar outras soluções de mercado. “Existem outros mercados para serem explorados. Mas para isso é preciso incentivo aqui, para os produtores. É difícil que as próprias empresas que estão no município paguem valores justos ao produtor. Estamos procurando outros mercados”, disse o produtor.

Cristo conta que além dos concentrados, a associação que preside atua com o uso do guaraná em cosméticos e em outras formas como alimentos e etc. “Descobrimos e avançamos em outros mercados que pagam de maneira justa”.

“As notícias que chegam e mostram essas ações do governo deixam o povo revoltado, precisamos de uma mudança muito forte. Esse presidente que tá fazendo isso, vai atingir milhares de produtores, mexe no pão de cada dia, afeta a mesa das famílias. Principalmente os pequenos produtores”, criticou.

“Para mim, o Bolsonaro é um dos piores presidentes que surgiu. Mexendo na nossa classe, não tem respeito por nós, pelos povos indígenas, prejudica nossa classe, os trabalhadores. Para nós, temos que ter mudança porque quem sofre somos nós”, continuou.

Há 10 anos a principal produção na fazenda de Macilon Ferreira Pena, 40 anos, é do guaraná. “Para nós, produtores, a palavra é incerteza. Não sabemos quais vão ser os impactos para o produtor. Uns dizem que o impacto vai ser grande e outros ainda estão em cima do muro”, disse.

“Para mim, as grandes empresas vão sofrer. De qualquer maneira, acredito que eles vão precisar de matéria prima para produzir. Nós produtores corremos o risco de ser prejudicados por esse decreto na possibilidade do preço cair grandemente por não ter compradores”, afirmou Pena.

INCERTEZAS

Entretanto, o produtor ponderou ao dizer que a realidade do que vai acontecer com produtores, empresários e munícipes, nós é possível definir e que, infelizmente, só será possível descobrir quando acontecer algo, seja positivo ou negativo.

“A cultura do guaraná gera uma grande demanda de mão de obra na época de colheita e de plantio. Durante esse intervalo, o trabalho da mão de obra não é tão grande”, explica.

O prefeito de Maués, Junior Leite falou do impacto do decreto. “Em Maués ao menos três mil famílias são produtoras de guaraná, no período do fabrico esse número sobe para quase vinte mil mauesenses que se envolvem diretamente na colheita, beneficiamento e comercialização do produto, os impactos sociais como o aumento da vulnerabilidade econômica serão graves no nosso município”, diz trecho do texto.

Frase

“Se essa empresa sair daqui, muitos produtores podem ser prejudicados por faltar esse mercado”.

José Cristo de Oliveira Presidente Associação de Produtores de Maués

Fonte: Acrítica

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