12/02/2019
Augusto Rocha
Publicado pelo Amazonas Atual
No Parque Nacional de Bouma, nas Ilhas Fiji, o linguista R. M.
W. Dixon, em 1985, pesquisou um dialeto local, onde o termo
“tabu” era usado como algo sagrado ou com restrições
espirituais, envolvendo regras e proibições. A palavra inglesa
“taboo”, adveio de contatos dos ingleses com Tonga, em 1777.
A palavra se espalha por toda aquela região com este
signicado. Por aqui, segundo o Dicionário Houaiss, o
vocábulo possui o mesmo sentido, tendo origem no século XX
e arrisco dizer que o adotamos por inuência inglesa.
Em minha visão, muitos tabus são feitos para amedrontar,
evitando luz sobre uma determinada questão, por diversas
razões. Quanto mais tabus possui uma sociedade, mais
prevalece o medo, a subserviência e a falta de liberdade, em
razão da ignorância, no sentido puro e simples de ignorar
determinados assuntos, sem qualquer senso pejorativo, pois
as vezes é até melhor ignorar do que conhecer. Por exemplo,
Roberto Benigni ganhou fama internacional com o lme “A
vida é bela”, por manter seu lho Giosué ignorando os
horrores da guerra e permitindo a esperança. Ou seja, por
vezes, pode até ser melhor manter a inocência.
Em Manaus também construímos alguns tabus, talvez sem
nos darmos conta. Semana passada escrevi o texto “Buracos
da Competitividade”, a respeito do estado lastimável das vias
do Distrito Industrial (aproveito para reticar a autoria da
música Gentileza, é de Marisa Monte, mas naquele texto
indiquei outra autora, por conta de fonte que validou meu
erro de lembrança musical). Com curiosa repercussão, recebi
respostas, de diferentes formas, explicando o porquê da
demora, mas nenhuma resposta com o prazo para se resolver
ou como evitar que o problema se repita. É como se houvesse
algo intocável ali. Um tabu está estabelecido. Há ali uma
máquina burocrática que atrapalha a solução: tabu instalado
com sucesso.
Outro tabu que vivemos é a falta de capacidade de enfrentar
os pontos fracos da Zona Franca de Manaus (ZFM). Por que
temos tanta diculdade de analisar sem paixões exageradas os
pontos fortes e fracos da ZFM? É um tabu perigoso, que
precisa ser esfacelado. Um estudo realizado recentemente
pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), por patrocínio do
Cieam, Fieam, Abraciclo, Eletros, Bemol, DD&L Associados,
Fogás e Whirlpool, começa a colocar luz sobre estas questões.
Que seja bem-vindo este estudo e obrigado aos
patrocinadores por terem a coragem de colocar alguma razão
sobre este Projeto.
Manaus, o Amazonas e a Amazônia Ocidental podem tirar
muito mais proveito da ZFM se conseguir compreender o que
funciona bem e o que não funciona bem. Entretanto,
precisamos ter a coragem de enfrentar os problemas ao invés
de criticar as pessoas. Será que teremos mais maturidade para
lidar com este assunto neste momento de país, onde a
tendência é que prevaleça o liberalismo? Nosso
comportamento permitirá isso? Espero que o estudo aponte
pontos fortes e pontos fracos da nossa realidade, bem como
ameaças e oportunidades.
Tem sido uma dificuldade, o enfrentamento dos pontos fracos
e o aproveitamento das oportunidades. Estamos cheios de
tabus. Eles nos fazem ignorar a realidade do interior do
Estado ou as necessidades dos demais Estados. Quando
superaremos isso? Será que agora estamos dispostos a ouvir
críticas e responder sem atacar quem critica? Quando haverá
um porto lindo e compatível com a beleza dos Rios do
Amazonas? O que falta para a sua construção? Quando o
Distrito Industrial estará sem buracos? Quando teremos uma
rodovia BR-319 com as necessárias proteções ao meio
ambiente? Quando usaremos responsavelmente a nossa
madeira? Quando produziremos peixes para o mundo?
Quando enfrentaremos as nossas dificuldades, sem colocar tabus, tábuas e fossos no meio das discussões? Fica a torcida que este estudo da FGV comece a quebrar nossos tabus e nos fazer conversar calmamente com paulistas, paraenses e manauaras que fazem perguntas inconvenientes. Anal, perguntas nem sempre são ataques. Elas podem simplesmente ser o convite para romper a inércia ou erros não intencionais.
*Professor da Ufam e empresário