12/05/2023
Apesar da surpresa positiva no desempenho de março, com reação de bens de capital e bens duráveis, a produção física industrial brasileira deve continuar sob forte impacto da política monetária apertada e da desaceleração global, apontam economistas. Ficam mantidas, dizem, as projeções de desempenho fraco do PIB do total da indústria no primeiro trimestre e também no ano.
Após recuo nos dois primeiros meses do ano, a produção industrial cresceu 1,1% em março ante fevereiro, segundo a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desempenho de março ficou levemente acima da mediana das estimativas de 32 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, de alta de 1%. As projeções iam de alta de 0,3% a 3,3%.
Com a pesquisa de março, aponta o IBGE, a indústria ficou estável no primeiro trimestre ante o último do ano passado, No quarto trimestre, a produção industrial havia registrado alta de 0,2% ante o terceiro.
Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, apesar de um número mais positivo que o esperado em março, o desempenho da produção industrial no primeiro trimestre indica que a indústria deve ter desempenho fraco dentro do Produto Interno Bruto (PIB). O banco mantém a estimativa de queda de 0,5% do PIB da indústria para 2023 contra o ano passado, em razão dos efeitos persistentes dos juros mais altos sobre o setor, que devem manter impacto até o fim do ano, mesmo com início de redução da Selic no segundo semestre. A fraca demanda global, também afetada por juros altos, contribui para o quadro, diz.
Rodolfo Margato, economista da XP, destaca que a pesquisa reforça estimativa da corretora de que o PIB da indústria total recuou no primeiro trimestre deste ano, com queda de 0,9% em relação aos três meses anteriores e alta de 0,5% na comparação com janeiro a março de 2022. O economista ressalta ainda que a herança estatística para a produção industrial no segundo trimestre indica alta de 0,7% frente ao trimestre anterior, mas a estimativa preliminar da corretora para abril sugere queda de 0,8% em relação a março.
Três das quatro grandes categorias do setor industrial pesquisadas tiveram alta na atividade em março, frente a fevereiro. Entre os destaques, os bens de capital tiveram alta de 6,3% enquanto os bens duráveis subiram 2,5%. Entre os segmentos que ajudaram a indústria a registrar esse crescimento em março estão a indústria automobilística, os derivados de petróleo e biocombustíveis, as máquinas e equipamentos, equipamentos de informática e produtos eletrônicos e setor farmacêutico. O crescimento da indústria em março, ante fevereiro, foi o maior para a série mensal com ajuste sazonal desde outubro de 2022 (1,3%).
Produção industrial está ainda 1,3% abaixo do nível pré-pandemia
Um dos setores que André Macedo, gerente da PIM, destacou em março foi o automobilístico. “O conjunto da atividade de veículos só avança 0,2%. Mas dentro da leitura de atividade há diferentes efeitos. Há comportamentos positivos de caminhões e automóveis. No limite, automóveis e caminhões têm crescimento e justificam a alta de 6,3% de bens de capital, no caso de caminhões, e de 2,5% de bens duráveis.”
A despeito do resultado mais positivo para a indústria automobilística em março, Macedo sinaliza que as paralisações e férias coletivas permanecem como uma característica desse setor em 2023. Diante do comportamento mais positivo da indústria em março, destaca ele, a grande questão é saber se este crescimento será sustentado ou não.
“Fato é que os fatores conjunturais que estão postos explicam o fato de o setor industrial ainda se encontrar abaixo do pré-pandemia, de fevereiro de 2020. Fatores que vieram ao longo do tempo como inflação de alimentos, o mercado de trabalho com dificuldade de superação, todos esses fatores combinados justificam o fato de o setor industrial se encontrar num patamar inferior ao pré-pandemia, mesmo com o mês de março com crescimento importante”, diz Macedo.
om o resultado de março, aponta o IBGE, o setor industrial está ainda 1,3% abaixo do patamar pré-pandemia de covid-19, em fevereiro de 2020. Dos 25 segmentos de atividades acompanhados pelo IBGE, 17 se encontram com nível de produção ainda abaixo do pré-pandemia e os outros oito superaram o marco de fevereiro de 2020.
Apesar de um quadro mais positivo em março, com melhora de desempenho disseminada entre os diversos segmentos, a indústria está longe de recuperar perdas do passado recente, avalia o economista Stéfano Pacini, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Para o cenário à frente, Pacini lembra que as sondagens com empresários mostram que apesar de a oferta de insumos ser agora alvo de atenção mais pontual, há grande preocupação mais generalizada em relação aos efeitos da política monetária mais apertada, que restringe crédito e assim afeta tanto investimentos como consumo de bens.
Fonte: Valor Econômico