31/07/2019
Alfredo Lopes
Há entre nós uma celebração antecipada que festeja o m dos incentivos da Suframa e da
própria sobrevivência da economia do Amazonas. É a mesma postura que ironiza a tragicidade
das mudanças climáticas, ao defender a exploração predatória dos recursos naturais da
Amazônia a qualquer custo. Todos esses estandartes de mau agouro seriam premissas da visão
liberal que dene o próprio ideário da governança econômica do Brasil, hoje. Na semana que
passou, em Manaus, o superministro da Economia, Paulo Guedes, formado em Chicago, foi
empossado como alto mandatário do Conselho de Administração da Suframa, o CAS, agora com
nova roupagem, essencialmente chapa branca. E, ironicamente, esta região foi bafejada em
acalorados discursos como, potencialmente,
“marco econômico do nosso Brasil”
, ou
Referência Mundial de Bioeconomia e outros anúncios mirabolantes. Ora, o poder público não
tem qualificação para gerar riquezas. Sua inclinação perdulária é gastar riqueza.
Há uma contradição entre os prenúncios sombrios para o atual modelo e os anúncios de
mudança. A visão liberal, no ideário filosófico, não confere ao poder público nem direciona o
mercado para x ou y alternativa de negócios. O que se depreende dessa prosopopéia é o
desconhecimento de processos e fuga de responsabilidades, regada a um inaceitável
desrespeito aos acertos deste programa de desenvolvimento chamado Zona Franca de Manaus.
Um exemplo clássico disso é a redução drástica de cientistas e o considerável incremento de
outros segmentos. Uma maneira equivocada de substituir um erro por outro. O desafio de levar
ao mercado, por exemplo, as coleções e os acervos de descobertas e oportunidades do INPA,
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, encurralou historicamente os cientistas. Eles não
foram qualificados para empreender, assim como não se pode cobrar dos empreendedores e
conhecer sistemas, protocolos e condições de temperatura e pressão dos experimentos. Um
grupo não substitui o outro, é claro. Diz o adágio popular, cada macaco no seu galho,
entretanto, eles devem permutar e partilhar seu malabarismo e outras habilidades para a
construção de resultados em mutirão.
A promessa do ministro Paulo Guedes, de que “…podemos criar no Amazonas o centro mundial
de biodiversidade e ao mesmo tempo criando riquezas com uma visão de um futuro diferente,
pois não pode haver futuro se dependermos apenas de sub-exploração”. Dá a impressão que
todos querem fazer seu mergulho vestibular na Amazônia, basta para isso fazer um intensivão
num cursinho de resultados. Mas não é assim que funciona. O economista Jaime Benchimol,
integrante de uma respeitável saga de empreendedores na região, estima em 10 anos a
maturação de mudanças em paradigmas de produção na Amazônia. Com um detalhe, nesta
programação não cabe o concurso do poder público cuja melhor função é não atrapalhar.
Sobretudo, com essa modelagem de governança de resultados num estreito formato gerencial
que deve caber em 4 anos.
Na versão liberal da Suframa, vejam só, uma autarquia especializada em gestão de incentivos,
se mudar o foco para imersão em gestão de negócios, ou bionegócios, está, no mínimo,
equivocada, pois suas atribuições, demandas e prioridades trafegam na paralela
empreendedora. No máximo, compete-lhe incentivar diversicação, adensamento e
regionalização das abundantes riquezas que a Natureza nos deu, um desao que lhe foi
proposto desde a primeira hora de sua constituição. Ou não?
*Alfredo Lopes é escritor amazonense, com 11 títulos sobre a Amazônia, formado em Filosoa com pós-graduação em Administração e Psicologia da Educação. Professor na PUC SP, de 1977 a 1996, UFAM, Metodista, Universidade de Salerno, Itália, atualmente docente colaborador na USP para assuntos amazônicos. Consultor do BID, Grupo Simões e CIEAM e diretor da FIEAM. Escreve no ATUAL desde a fundação do site, em novembro de 2013.