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'Sou um vendedor da ZFM', afirma gestor da Suframa prestes a deixar cargo

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21/01/2019

Entrevista publicada pelo Jornal Acrítica

Após seis meses a frente da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Appio Tolentino está prestes a deixar o cargo. O coronel Alfredo Menezes foi anunciado no início do mês como novo nome a gerir uma das pastas mais cobiçadas do Estado. Mesmo com pouco tempo no cargo e cercado de críticas, Toletino garante ter feito uma gestão transparente e voltada a facilitar a vida das empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM).

Ao A CRÍTICA, o superintendente listou as conquistas de sua administração, como a personalidade jurídica do Centro de Biotecnologia do Amazonas (CBA), a informatização dos sistemas e a proximidade com o interior por meio do Suframa nos municípios, e opinou sobre os rumos do modelo econômico.

No seu primeiro discurso, o senhor falou que a meta era mudar a mentalidade da Suframa. Acha que conseguiu?

Tivemos muito trabalho em conscientizar nossos parceiros de que a cereja do bolo eram as empresas, e não a Suframa. Toda sexta-feira nós fazíamos uma reunião de governantes, e na segunda-feira conversávamos individualmente, e sempre ressaltava que estamos aqui para facilitar e não para atrapalhar. Sou um vendedor da ZFM. Eu comparo a Suframa com aqueles caminhões que limpam a neve, que vai limpando para a empresa poder caminhar com tranquilidade. Acho que nesse sentido nós evoluímos muito.

O que pode citar como crescimento na sua gestão?

Nós encerramos 2018 com um total de 146 projetos industriais e de serviços aprovados, o que representa mais de R$ 1 bilhão em investimentos e previsão de 4.700 empregos diretos ao longo dos próximos três anos. Eu sempre fiz uma gestão fora da caixa, levantando, indo atrás, então fui muito a Brasília com minha equipe para discutir com a equipe de Brasília a questão dos Processos Produtivos Básicos (PPBs), porque uma coisa é deixar as duas equipes trabalhando, outra é o superintendente estar lá, estar a frente do processo e as coisas andarem mais rápido.

Conseguimos 48 aprovações de PPBs, implantamos sistema de mercadoria nacional e internacional e o cadastro da Suframa para dar segurança jurídica no processo, e agora conseguimos controlar esse processo. Temos exemplos de empresas que vendiam horrores para a Zona Franca e tinham no seu quadro societário pessoas beneficiárias do Bolsa Família. Ou seja, indícios fortes de condutas não-republicanas. A personalidade jurídica do CBA que eu cobrava em todas as reuniões porque a importância da pesquisa e a transparência que foi dada em todos os processos.

O senhor falou da transparência, mas muitos parlamentares o acusaram de aparelhar a Suframa. Como responde a essas acusações?

Isso é política. A Suframa toda sabe como foi minha gestão. É muito difícil fazer a gestão de um órgão compartimental, e eu não consegui indicar nenhum superintendente adjunto. A maioria das pessoas da minha equipe do gabinete já estava aqui quando eu cheguei. Então, eu aparelhei o quê se não tinha poder de indicar ninguém?

Eu peguei o pessoal que estava aqui e nós conversávamos e discutíamos, porque eu não mando, eu converso, eu demonstro, eu cedo quando estou errado e tento conscientizar as pessoas a cederem quando há uma ideia melhor que a dela. Isso é fazer liderança, fazer gestão. Foi assim que eu vim administrando a Suframa e conseguimos fazer todos esses ganhos sem gritos, sem tapa na mesa, sem arrogância. Essa história de aparelhamento é tolice!

Parlamentares e empresários se reuniram para discutir uma união com o Sudeste em prol da Zona Franca. O senhor acha que é uma maneira eficaz de manter o modelo?

A Zona Franca de Manaus gera desenvolvimento em toda a Amazônia Ocidental e no Sudeste na questão dos créditos, então não é Zona Franca de Manaus, isso aqui é Zona Franca do Brasil. E não é Zona Franca, acho que é uma área de desenvolvimento regional, muito amplo, muito mais abrangente.

Qual seriam seus planos se tivesse mais tempo para gerir?

Em primeiro lugar, seria atrair novos empreendimentos para a Zona Franca, criar modelos alternativos para somar com o modelo do PIM para que a Amazônia não ficasse sujeita a um único modelo.

Nós precisamos ter uma agroindústria, precisamos explorar racionalmente nossos recursos minerais, precisamos fazer parceria com outros estados que têm produção mineral para criar outra indústria num segmento onde tenhamos oferta de matéria-prima e não fiquemos à mercê da Zona Franca. Temos um grande desperdício de abacaxi em Lindóia porque não tem pra onde escoar, por exemplo. Estava nos meus planos desde o princípio, mas não deu tempo.

O polo de concentrados perdeu incentivos devido a um decreto do ex-presidente Temer e perdemos uma grande empresa. O senhor acredita que ainda há chance de retomar esses incentivos e reerguê-lo ou caminhamos para o fim desse polo?

Eu fico desconfortável em falar coisas de um governo para o qual trabalhei, mas me preocupa muito a segurança jurídica da Zona Franca. Eu sou advogado, tenho que pensar nisso. Você investiria seu dinheiro em um local onde as regras pudessem mudar no meio do jogo? Eu não investiria o meu.

Mexer hoje no polo de concentrados pode ser mexer amanhã com polo de duas rodas e olha o caos instalado. Esse modelo é nosso cristal, e cristal trincando não se cola. Recebi alguns deputados aqui e falamos sobre isso. Nossa bancada em Brasília tem uma missão árdua e gigante de ficar de olho nessas movimentações de hoje.

E como o senhor avalia a vinculação da Suframa e Receita Federal no mesmo Ministério?

Eu tenho certeza que o governo não é irresponsável, ele tem uma equipe técnica maravilhosa, mas eu temo quando você joga um órgão que concede beneficio fiscal para equilibrar a competitividade com um órgão arrecadador de imposto, que cobra tributo para equilibrar as contas. Se você cria um leão e uma vaca juntos, na hora que faltar comida pro leão e ele sentir fome, ele não quer saber se os dois são criados por você, ele vai comer sua vaca. Acho que é o pensamento de todo mundo que estuda a Zona Franca.

O senhor acha que o novo modelo da Sudam condicionado à arrecadação de impostos é prejudicial ao modelo?

Teve uma coisa boa e outra que não me deixou tão à vontade. A coisa boa é a renovação por cinco anos, embora eu ache pouco, mas é melhor que nada. Mas quando você vincula o aumento da arrecadação, atrapalha até os que já tinham processo iniciado para vir. A gente não pode brincar com capital. A regra tem que ser clara porque as empresas se programam e não pode colocar limitações. Reafirmo que o Paulo Guedes é muito competente, não é irresponsável, bem como o presidente.

O senhor acha que o nome indicado para a Suframa é um bom nome?

Eu não conheço o coronel Menezes, mas pelo que li, é uma pessoa que estuda. A Suframa é para entrar, fazer o trabalho e sair. Eu já fiz minha parte. O que eu desejo é que ele consiga fazer um trabalho melhor que o meu, que ele utilize muito bem o nível de proximidade que ele tem com o presidente e vice-presidente e use isso em benefício do Amazonas. Nós não podemos brincar com nossa economia, não podemos errar. Eu desejo um grande trabalho e que ajude a economia em outro patamar. Estou deixando o cargo com a consciência tranquila, fiz um bocado de coisa. Como amazonense, temos a obrigação de colaborar com quem esteja com boa vontade para o Amazonas crescer.

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