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Sinal amarelo para a economia

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03/12/2021

Marco Dassori

O PIB brasileiro emendou um trimestre consecutivo com desempenho negativo, o que já configuraria uma recessão técnica. A soma dos bens e serviços finais produzidos no país encolheu 0,1% entre o segundo e o terceiro trimestres, totalizando R$ 2,2 trilhões, em valores correntes. A comparação com o mesmo período do ano anterior, no entanto, apontou para uma elevação de 4%, enquanto a variação em 12 meses foi positiva em 3,9%. No acumulado do ano até setembro, a alta foi de 5,7%. Os dados são do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais, e foram divulgados pelo IBGE, nesta quinta (2).

Em síntese, houve crescimento nos serviços (+1%) e estabilidade na indústria, na comparação com o trimestre anterior.

Mas agropecuária (-8%) e exportações (-9,8%) recuaram. Pela ótica da despesa, os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) caíram 0,1%, mas o consumo das famílias (+0,9%) e do governo (+0,8%) seguiram subindo. Para as fontes ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio, trata-se de um sinal amarelo para a economia nacional. Em nota, a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia atribuiu os resultados a fatores climáticos e à crise hídrica.

Segundo o IBGE, o desempenho do acumulado de julho a setembro situou o PIB nacional no mesmo patamar em que estava no fim de 2019 e início de 2020, período pré-pandemia. O desempenho, entretanto, ficou 3,4% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014 -ano de Copa do Mundo no Brasil e período imediatamente anterior à crise econômica e política que desembocou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016).

Em valores correntes, o PIB do terceiro trimestre de 2021 totalizou R$ 2,2 trilhões, sendo R$ 1,9 trilhão em valor adicionado a preços básicos e R$ 334,3 bilhões em Impostos sobre produtos líquidos de subsídios. A taxa de investimento foi de 19,4% do PIB, o que representa um aumento em relação ao terceiro trimestre de 2020 (16,4%), apesar da desaceleração em relação ao segundo trimestre de 2021. Em relação a igual período do ano anterior, os incrementos respectivos foram de 3,7% e de 6,2%.

Agropecuária em baixa

A agropecuária caiu 9% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. A atividade foi impactada pelos desempenhos do café (-22,4%), algodão (-17,5%), milho (-16,0%), laranja (-13,8%) e cana de açúcar (-7,6%). A Indústria cresceu 1,3%, sendo puxada por construção (+10,9%) -corroborada pelo aumento da ocupação -e pelas indústrias extrativas (+3,5%) -puxada pela extração de minério de ferro. A atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-4,6%) e as indústrias de transformação (-0,7%) - principalmente nos produtos alimentícios, móveis, bebidas, material elétrico e equipamentos de informática -foram na direção contrária.

Os serviços, por outro lado, avançaram 5,8% na comparação com o mesmo período do ano anterior, com destaque para informação e comunicação (+14,8%), outras atividades de serviços (+13,5%) e transporte, armazenagem e correio (+13,1%), além de administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (+2,9%), comércio (+2,8%) e atividades imobiliárias (+1,7%). Apenas as atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (-1,3%) caíram, afetadas pelo aumento de mortes e seu impacto nos planos de saúde.

A despesa de consumo das famílias registrou resultado positivo pelo segundo trimestre seguido (4,2%), influenciada pelo aumento na ocupação no mercado de trabalho, pela expansão do crédito a pessoas físicas e pelo avanço da vacinação. A despesa de consumo do governo cresceu 3,5% a formação bruta de capital fixo subiu 18,8%. "A magnitude desse resultado é justificada pela alta na produção e importação de bens de capital, assim como pelo crescimento na construção", aponta o IBGE, no texto de divulgação da pesquisa. As exportações de bens e serviços cresceram 4%, enquanto as importações avançaram 20,6%.

“Fatores climáticos”

Em matéria da Agência de Notícias IBGE, a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, explica que o recuo trimestral na agropecuária foi consequência do encerramento da safra de soja, que também acabou impactando as exportações. "Como ela é a principal commodity brasileira, a produção agrícola tende a ser menor a partir do segundo semestre. Além disso, a agropecuária vem de uma base de comparação alta, já que foi a atividade que mais cresceu na pandemia. Para este ano, as perspectivas não foram tão positivas, em ano de bienalidade negativa para o café e com a ocorrência de fatores climáticos adversos na época do plantio de alguns grãos", analisou.

Em sintonia, a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia atribuiu o PIB negativo a fatores climáticos. "A queda da agropecuária teve impacto relevante. Se fosse zerada a variação da agropecuária na margem, o PIB cresceria na ordem de 0,3% a 0,4%, em relação ao segundo trimestre de 2021", assinalou o órgão, em nota. "É fundamental distinguir o que é política econômica de fatores climáticos adversos e pontuais da natureza. A maior crise hídrica em 90 anos de história e a ocorrência de severas geadas tiveram impacto tanto em setores intensivos em energia como em setores que dependem do clima, como agricultura", emendou.

Sobre a indústria, a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE lembra que o encarecimento dos insumos e outros problemas na cadeia produtiva, além da crise energética, vêm afetando o setor. Rebeca Palis lembra também que o avanço da vacinação contra Covid-19 e o consequente aumento da mobilidade e reabertura da economia favoreceram os serviços. "Já o comércio, que foi um dos setores mais afetados pela pandemia, teve uma forte alta no segundo trimestre, com a reabertura e, portanto, a base de comparação estava alta e as famílias também migraram parte do seu consumo para os serviços", acrescentou.

“Sinal de alerta”

O presidente do Sindecon-AM (Sindicato dos Economistas do Estado do Amazonas) e consultor empresarial, Marcus Evangelista, ressaltou à reportagem do Jornal do Commercio que os dados do PIB sinalizam que "algo não vai bem no país". Segundo o economista, a recessão técnica apresentada pelas estatísticas demonstraria que a balança comercial está entrando em desequilíbrio e, embora o país ainda esteja de fato em recessão -o que demandaria um terceiro trimestre negativo seguido -serve de alerta.

"Mas, não acredito que estejamos caminhando para uma recessão. A previsão ainda é de fecharmos o ano com crescimento de 5% no PIB brasileiro. O Amazonas tem uma participação na formação do PIB do país. Alguns segmentos, como o polo de duas rodas, tiveram expansão de vendas impulsionadas também pelas exportações, mesmo com a retração. Acredito que o desabastecimento de componentes nas linhas de montagem foi o principal fator pelo recuo no faturamento do país", ponderou.

Mais veemente, o conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), professor universitário e consultor empresarial, Francisco de Assis Mourão Júnior, destaca que os dois PIBs negativos podem causar uma instabilidade para o próximo ano, especialmente se for confirmado um terceiro dado negativo, no próximo ano. Segundo o economista, trata-se de um cenário em que o governo federal pode se vir obrigado a mudar a política monetária para conter o câmbio e a inflação.

"A preocupação é que vamos começar o ano com juros altos e a inflação vai continuar apertando. Consequentemente, devemos ter alguma fuga de capitais. Ninguém vai querer aplicar seu dinheiro aqui, com essa instabilidade. Devemos ter novos aumentos no dólar, com consequências negativas para a economia nacional. Tenho plena certeza de que, desta vez, o Banco Central vai ter de mexer no câmbio. Mas, vamos esperar o resultado de como realmente vai ficar esse PIB", encerrou.

Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia atribuiu os resultados a fatores climáticos e à crise hídrica

Fonte: JCAM

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