28/09/2015
Em alguns setores, ocorreram situações em que o governo foi obrigado a intervir em situações anti-dumping. No final de 2009, foi instituída uma sobretaxa de US$ 12,38 para cada par de calçado importado da China, valor que foi reajustado para US$ 13,85 em 2010 e ainda em vigor. "A importação desenfreada de calçados chineses causou a perda de 45 mil postos de trabalho, que só foram repostos após 2011", afirma Heitor Klein, presidente da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados). Apesar da sobretaxa, o problema persiste, diz Klein. "Para driblar a fiscalização, a China passou a realizar triangulações com a Malásia e a Indonésia, enviando partes de calçados, que são montados aqui, obtendo vantagem na alíquota, que é de 18% enquanto a do calçado é 35%".
Lançada em agosto, pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) feita com 2.146 empresas, revelou que a concorrência chinesa é sentida por 28% das indústrias nacionais, sendo que 57% delas perderam participação no mercado doméstico. Os setores mais atingidos foram metalurgia (39%), vestuário (36%), informática, eletrônicos e óticos (35%) e máquinas e materiais elétricos (32%). Segundo Renato da Fonseca, gerente-executivo de pesquisa e competitividade da CNI, além do câmbio desfavorável até 2012, faltou ao Brasil executar um planejamento que permitisse mais competitividade ao setor nacional. "Pecamos pela falta de mão de obra qualificada e por manter uma política tributária cumulativa. Já os chineses fizeram a lição de casa ao sair de um modelo intensivo de exportações para produtos com mais tecnologia, o que gerou uma forte dependência em setores como eletroeletrônicos".
Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), admite a dependência no setor de componentes, mas critica a postura do governo ante o avanço chinês. "Não houve nenhuma medida do governo para proteger a indústria nacional e evitar que ficássemos expostos à concorrência chinesa", lamenta.
Já o setor de máquinas foi mais afetado, segundo revela estudo da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Em 2003, a participação chinesa no mercado doméstico era de 6,6% e, no ano passado, alcançou 16,6%. Para Klaus Curt Müller, diretor de comércio exterior da Abimaq, a maior entrada dos produtos chineses, aliada à retração econômica, em provocado uma queda no nível de emprego, hoje na faixa de 334 mil empregos. Há três anos, eram 380 mil postos.
Fonte: Valor Econômico