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Setor de bicicletas sofre queda

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18/05/2022

Marco Dassori

O polo de bicicletas do PIM derrapou em abril. As linhas de produção do Polo Industrial de Manaus entregaram 47.670 unidades, no mês passado. Foi uma quantidade 17,6% inferior à de março de 2022 (57.870) e 7% menor do que a registrada 12 meses atrás (51.281). As fábricas ainda conseguiram sustentar uma expansão de 3,8% no acumulado do ano, com 230.689 (2022) contra 222.183 (2021) unidades. Os dados são da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares) e sinalizam afunilamento no mercado.

A perda de vigor do subsetor de bicicletas ocorreu no mesmo mês em que a divisão motorizada do polo de duas rodas também deu marcha a ré. A entidade destaca, contudo, que a retração ocorreu não apenas em função da resiliência da crise do abastecimento de insumos, mas também em função de mudança de estratégia das montadoras em favor de produtos de maior valor agregado. Os modelos Moutain Bike seguem favoritos, mas as bicicletas elétricas, por exemplo, continuam ganhando mais espaço no mercado. A Abraciclo destaca ainda que a demanda interna segue firme.

Com 35.765 unidades e 75% do volume total produzido, a Moutain Bike seguiu como a categoria mais produzida em abril e teve expansão anual de 18,8% nas vendas. Em seguida estão a Urbana/ Lazer (21,4% e 10.202) e a Infanto juvenil (1,4% e 678). O melhor resultado, entretanto, veio da minoritária Elétrica (1,1% e 513), que ainda empatou com a Estrada (1,1% e 512) em termos de representatividade, mas aparece com o maior crescimento da lista (+24,5%). Diante disso, a Abraciclo manteve as projeções para 2022, que apontam alta de 17,4% na produção (880 mil). A expectativa para as bicicletas elétricas (+45,7% e 15 mil) é ainda melhor.

“Readequação do mix”

Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da entidade, o vice-presidente do Segmento de Bicicletas da Abraciclo, Cyro Gazola, explicou que a queda de produção decorreu de readequação do mix das unidades fabris do PIM, em função de mudança na dinâmica e no perfil do mercado. "A procura por bicicletas de entrada tem apresentado queda, desde o início do ano. Por outro lado, a busca por modelos de médio e alto preço vem aumentando fortemente. Por isso, readequamos as linhas de produção, para atender à demanda", justificou.

O dirigente enfatiza, contudo, que o segmento continua impactado pelos atrasos no fornecimento de peças e componentes importados. Em divulgações anteriores, o executivo já havia salientado que em torno de 50% dos itens de uma bicicleta adquiridos de fornecedores globais, principalmente sistemas de freios, transmissões, suspensões e selins. "Até junho, ainda deveremos enfrentar desafios na nossa cadeia produtiva e de logística. O fortalecimento da produção deve ocorrer a partir do segundo semestre, quando há também um período sazonal de crescimento nas vendas", amenizou.

Gazola garante que a procura por bicicletas segue tendência de alta, e argumenta que muitos brasileiros adquiriram o hábito de pedalar durante a pandemia, tendo incorporado a prática ao dia a dia.

Acrescenta ainda que o modal é ecologicamente amigável -inclusive os modelos elétricos. "O número de pessoas que adquire bicicletas elétricas é cada vez maior. É um transporte que não polui e não pesa muito no bolso. O volume ainda é pequeno, mas o crescimento demonstra tendência do mercado", afiançou.

“Números animadores”

O presidente do SIMMMEM (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Manaus), Nelson Azevedo, avalia que os dados da Abra-ciclo sobre o desempenho da produção de bicicletas no primeiro quadrimestre, por outro lado, são "animadores" e demonstram crescimento. O dirigente, que também é vice-presidente da Fieam, reforça que os números só não foram melhores em razão da mudança de mercado apontada pela Abraciclo, e também dos problemas de abastecimento de insumos, mas considera que a tendência ainda não mudou de sinal para o subsetor.

"Por um lado, a demanda por bicicletas está aquecida, devido à forte procura dos brasileiros por atividades físicas, esporte & lazer, mobilidade urbana e entregas rápidas. Por outro, as indústrias ainda sentem os problemas logísticos e de falta de insumos, devido ao fechamento de cidades na China, para conter a disseminação de novos focos do coronavírus. Mas, acreditamos em um bom desempenho do segmento, que tanto contribui para a saúde e para a diminuição no consumo de combustíveis fósseis", ponderou.

Encomendas para 2025

O presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, assinala que o mix está sendo adequado também justamente em razão das dificuldades das empresas para colocar insumos nas linhas de produção, em uma conjuntura de menor oferta da indústria intermediária. O dirigente lembra que os componentes "de mais alta qualidade" vêm da Ásia "e basicamente da China".

"As fábricas estão colocando os pedidos de alguns insumos para 2025, para você ver o quanto o mundo está demandando esses insumos. Aí, você soma com a dificuldade de trânsito daquilo que passa pelos portos de Shanghai, e a dificuldade das fábricas daquela região, que estão operando a 30% da capacidade, em alguns casos. Por outro lado, há uma expectativa grande de comercialização, puxada pelo aumento do preço do combustível. Isso tem alavancado demais as vendas. Vamos acompanhar", analisou.

Mercado gourmetizado

Já o economista Farid Mendonça explica que a mudança de rota das fabricantes deve acompanhar a dinâmica da economia nacional, o que faz as empresas apostarem mais em produtos de maior valor agregado, direcionados a uma faixa de consumidores menos dependente de crédito e com mais renda disponível para gastos que não se limitem a itens básicos. Em resumo, a exemplo do que já vem ocorrendo nos mercados de automóveis e imóveis, o segmento estaria também passando por um processo de gourmetização.

"No começo de 2021, os juros ainda estavam muito baixos. Mas, com o aumento da inflação, a Selic também foi escalando. Nesse cenário, a renda foi ficando mais restrita e o crédito, mais caro. Grande parte das pessoas que financiam a aquisição de bicicletas tem menor poder aquisitivo. Esse é justamente o público que vem mais sendo penalizado, até porque o salário mínimo já não registra mais ganhos reais. Diante disso, as empresas têm de fazer ajustes de médio e longo prazo em sua produção'', explicou.

No entendimento de Farid Mendonça, essa é a tendência para o mercado brasileiro em geral, ao menos neste ano e no próximo. "Não vejo mudanças nesse cenário, no curto prazo. A inflação tende até a ser mais controlada e controlável, mas deve estabilizar em um nível ainda muito alto, muito superior ao das últimas duas décadas, com impacto nos bens e serviços. Também não vejo muita margem de manobra para gastos públicos federais. Seja quem for o vencedor das próximas eleições, enfrentará dificuldades", arrematou.

Perda de vigor ocorreu no mesmo mês em que a divisão motorizada do polo de duas rodas também deu marcha a ré

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