25/07/2022
Querer que uma indústria eletrônica estrangeira faça bionegócios na Amazônia é tão estranho como querer que uma universidade local resolva o problema arquitetônico das obras em San Francisco, com seus riscos de terremoto. Pequenos ajustes de percepção e ação podem nos transformar. Falta querermos com mais afinco e pararmos de entregar o poder de decisão para estrangeiros.
Por Augusto César Rocha
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Égritante a pouca integração entre as universidades e as empresas no Amazonas. Tendo vivido os últimos 30 anos entre estes diferentes universos, por isso ousarei fazer um pequeno diagnóstico do que acontece por aqui: um alto repetir da necessidade de integração e uma baixa integração.
Cada qual fica encastelado em seu universo, com medo de mostrar suas fraquezas e com aversão a ouvir a necessidade do outro, olhando apenas para as suas pobrezas. Se fosse ao contrário, onde cada um usasse suas fortalezas, para ajudar a fraqueza dos outros, teríamos um cenário muito diferente.
O mundo empresarial de Manaus é formado por grandes multinacionais, fortemente baseadas em tecnologias estrangeiras, com pouquíssimo vínculo local, voltadas para usar as pessoas e os incentivos locais. Também é formado por empresas de outros Estados, que seguem com sua gestão fora do Amazonas e, tal qual as estrangeiras, sentem-se dispostas e prontas para ir embora tão logo sejam expulsas ou pouco interessante manter-se na Zona Franca de Manaus. Ou seja, em ambos os universos: ficar por aqui é uma oportunidade transitória, porque pouco há de troca e muito há de exploração mútua.
Outro mundo empresarial é formado por um capital local, com pessoas locais, onde estamos nas primeiras gerações, com riquezas e elites se formando, com um entendimento da sua pequenez global, com um distanciamento do grande capital. Em alguns casos, com altivez e tecnologia.
Em outros, com algum senso de responsabilidade, mas todas com um pequeno empoderamento, que tipicamente se volta para a proteção de sua comunidade, nos aspectos culturais, financeiros ou sociais, em maior ou menor medida, mas ainda voltado para a construção de um Capital maiúsculo, que não aconteceu simplesmente pela falta de tempo para tal acúmulo, pelo baixo agregado tecnológico.
No ambiente acadêmico, apesar de termos uma instituição federal centenária, uma instituição Estadual com muito recurso advindo do Polo Industrial, não temos tido a capacidade de transformar a sociedade além deste ponto, porque as melhores cabeças egressas destes ambientes costumam ganhar os seguintes destinos: exterior, outros Estados, grandes multinacionais (e de lá para o mundo) ou começam a integrar alguns empreendimentos locais, já descritos, ou iniciando seus próprios negócios, que precisarão de alguns anos para prosperar, salvo raras exceções.
Assim, estas instituições empresariais ou acadêmicas começam a perceber o triste cenário de uma grande impotência social, pois as elites de cada ambiente não aguçam seu senso para o desenvolvimento das comunidades onde estão inseridas. O Social começa a ser percebido como o importante, mas não as redes.
O capital passa a ser percebido como o importante, mas apenas trazido para si, não para ser compartilhado – porque o compartilhar é algo típico de quem entende que já possui o necessário. Não é o caso daqui, porque sempre percebemos que tudo pode se acabar com meia dúzia de malucos mudando leis e portarias em Brasília – vivemos sob constante ameaça.
Esta falta de senso de integração poderá ser sanada a partir do momento em que houver uma mudança de percepções: o outro seja respeitado e ouvido. Quando tivermos a coragem e a confiança de falar das nossas forças e fraquezas, ao invés de exarar fraquezas como forças e vice-versa. Entendemos do Amazonas mais do que qualquer um.
Se começarmos a nos irmanar e a estender a mão ao outro, a partir de suas necessidades e apelos, teremos grandes possibilidades. Querer que uma indústria eletrônica estrangeira faça bionegócios na Amazônia é tão estranho como querer que uma universidade local resolva o problema arquitetônico das obras em San Francisco, com seus riscos de terremoto. Pequenos ajustes de percepção e ação podem nos transformar. Falta querermos com mais afinco e pararmos de entregar o poder de decisão para estrangeiros.
Augusto Rocha é professor da UFAM e co fundador do portal Brasil Amazônia Agora