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‘Sempre trabalhei na Suframa. Foi meu único emprego’, afirma Gustavo Igrejas

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01/12/2014

No dia 10 de novembro, o funcionário de carreira, Gustavo Adolfo Igrejas Filgueiras, assumiu de forma interina a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), após o então titular da pasta, Thomaz Nogueira, que estava à frente da autarquia há dois anos, pedir a exoneração do cargo. Em um ano de atividade industrial em marcha lenta, servidores insatisfeitos com condições de trabalho e salários e  questionamentos sobre a autonomia da superintendência, o desafio de Igrejas é acalmar os ânimos e tentar arrumar a casa. Em entrevista exclusiva ao A CRÍTICA, Igrejas definiu sua nova palavra de ordem: reestruturação.

A sua gestão começa em meio a uma crise que coloca a autarquia em uma relação delicada. Como o senhor avalia este momento?

A Suframa passou por um período muito conturbado. Em maio de 2013, os colaboradores terceirizados com a Fucapi tiveram que ser desligados, em obediência à recomendações dos órgãos de controle que julgaram as atividades realizadas por eles, correlatas as de servidores de carreira. Os novos servidores, aprovados em concurso público só chegaram à autarquia para preencher essa lacuna, em agosto deste ano. Foram 14 meses de força reduzida.

Essa redução trouxe problemas graves de não cumprimento de metas. Minha preocupação atual, assim que assumi o cargo interinamente, foi reestruturar as atividades com a mão de obra existente. Fiz uma reunião com as quatro superintendências adjuntas, estabelecemos um plano de trabalho e nos próximos 90 dias, a Suframa deve voltar aos trilhos. Portanto, uma das metas principais é impedir o vencimento de contratos e não deixar o trabalho acumular.

Sim, teremos uma reunião semanal e que depois vai passar a ser quinzenal para cobrar de cada unidade o cumprimento das metas que foram estabelecidas.

Existe a possibilidade de que o senhor seja efetivado no cargo.  O senhor se sente preparado para esse desafio?
Eu sou um servidor de carreira e estou há 27 anos na Suframa. Entrei como estagiário em 1987 e passei por diversos cargos. A Suframa foi meu primeiro e único emprego até hoje. Acredito que esta ascensão se deu por razões técnicas e me sinto preparado, mas ao mesmo tempo é uma decisão que não é minha, é uma decisão da presidente da república e do Mdic, passando pelas lideranças do Estado. Caso o meu nome seja um consenso, estou pronto para o desafio.

Esse ano foi marcado pela greve dos servidores da autarquia. Qual o seu posicionamento quanto à mobilização dos servidores?

A principal reivindicação dos servidores é a questão salarial. Essa é uma questão que já vem de muito tempo. Talvez o que tenha mudado ultimamente é que nós temos um sindicato mais atuante. Hoje em dia, temos um sindicato que briga pelos nossos interesses. Apesar de ser superintendente interino, eu sou sindicalizado também, sou servidor de carreira da casa e sou umas das pessoas que vão  brigar para que haja um aumento salarial na nossa carreira.

Outras questões que eles têm colocado, nos acordos que foram feitos, foram cumpridas. Outras, que eles têm reclamado, são questões que estão ligadas justamente ao vencimento de contrato que está trazendo prejuízo no dia a dia dos servidores. Foram contratados servidores que entraram em julho e agosto e nem todos os servidores têm computador até hoje. Uma série de medidas, que talvez tivessem que ter sido tomadas há algum tempo, acabaram não sendo tomadas.  Agora estão todas dentro de um cronograma para que, o mais breve possível, todos os servidores sejam atendidos.

Há algum avanço na questão salarial e na reorganização do quadro?
Eu gostaria muito, tenho muita fé que isso vai ter um bom termo. É importante a gente ter essa criação de um plano de cargos e de salários que a Suframa não tem. A Suframa tem em seu quadro cargos genéricos de governo: economistas, engenheiros, administradores, contabilistas. É muito importante que tenhamos um plano de cargos e salários específicos para análise de desenvolvimento regional. Isso é uma das ações que estamos fazendo: finalizar um processo de reestruturação organizacional. Hoje nós temos uma superintendência adjunta, diversas coordenações gerais. Nosso organograma é de 10, 12 anos. É muito importante que a gente faça uma atualização desse organograma até mesmo porque houve a prorrogação dos 50 anos e isso, por si só, já é um motivo para nós adequarmos nossa realidade de organograma e de atribuições.

Os servidores decidiram recentemente entrar em 'estado de greve'. Apesar de não paralisarem as atividades, a greve de fato não foi descartada. Existe um plano de contingência para que a Suframa não pare totalmente e não tenha prejuízos expressivos como os que registrou no início do ano?
Eu me preocupo com o prejuízo interno de qualquer paralisação neste momento. Esperamos que não seja necessário criar um plano de contingência, mesmo porque os dois ministérios com os quais teríamos que dialogar nessa situação  - Mdic e Mpog – estão com seus titulares de saída. Seria uma situação realmente muito delicada para trabalhar qualquer negociação.

O que o senhor elencaria como prioridade da Suframa para os próximos anos?
A Suframa em si precisa ter uma reestruturação completa. Nós temos um plano emergencial para 90 dias, mas 2015 será um ano de reestruturação. Para o futuro, as ações da Suframa em relação ao Polo Industrial de Manaus têm que ser voltadas para diversos aspectos importantes, mas há duas coisas básicas: tem que se trabalhar com a questão de infraestrutura e de logística. Isso é importantíssimo. O setor logístico envolve muito mais que ampliar a capacidade dos portos e aeroportos, melhorar as condições de trafegabilidade, as saídas e entradas de mercadorias em Manaus, mas, principalmente, o governo precisa ter um desembaraço de mercadoria mais célere.  Eu me lembro que em 2005, a Nokia tinha uma atividade de exportação em Manaus. Essa operação deixou de ser feita em Manaus e foi para a fábrica da Nokia no México porque, no México, o desembaraço da mercadoria era feito em três horas enquanto em Manaus demorava sete dias. São gargalos assim que não se pode admitir em um polo que está em crescimento.

Outro ponto primordial é induzir o desenvolvimento de produtos no Polo Industrial de Manaus. Nesses 47 anos de Zona Franca trabalhou-se nisso, mas  não o suficiente para ser mais competitivo. Desenvolvimento de produtos é uma questão fundamental. É uma questão de médio prazo, não de curto prazo, mas que tem que ocorrer.

A interiorização das atividades está parada. O que é preciso para reativar essas atividades?
O nosso setor de estudos econômicos fez um diagnóstico de todas as unidades descentralizadas da Suframa. Nesse trabalho, uma das ações é justamente pegar essas ações sugeridas pela Coordenação Geral de Estudos Econômicos (Cogec). Nós vamos abrir ações específicas para cada área e para os responsáveis de cada área. Já está sendo feito um trabalho em todas as áreas de comércio centralizadas da Suframa, visando melhoria de infraestrutura física. Está faltando uma ou duas por questões de falta lugar específico para colocar a estrutura. Vamos trabalhar de forma localizada em cada descentralizada e ver as potencialidades que tem em cada região e o que pode ser feito. Isso não é um trabalho unilateral da Suframa, vai ter que envolver as receitas federais e as receitas estaduais.

O que significa para o senhor, como profissional, iniciar como estagiário e chegar ao posto de superintendente?
Eu fico muito feliz. Se eu não quisesse ficar, eu tinha que ter procurado outra coisa para fazer, mas eu acho muito importante chegar no cargo de superintendente com condições de trabalho. Nesse momento, eu estou interino, estou fazendo o meu trabalho, sou um técnico, mas caso eu consiga, caso eu fique no cargo, seja convidado, eu vou fazer de tudo para eu ter todas as condições de realizar um bom trabalho. Na verdade, eu olho com muito carinho essa possibilidade. Mesmo que lá na frente, por algum motivo eu não seja superintendente, eu fico como adjunto, vou para alguma coordenação geral, vou continuar trabalhando como sempre trabalhei em prol da Suframa. Eu costumo dizer que a Suframa é a quarta filha, se bem que, pela minha idade, a Suframa seria minha irmã mais velha, não muito mais velha. Eu tenho muito carinho pela Suframa e sempre a defendi.

O que o senhor pensa sobre o contingenciamento de recursos?
É uma questão política,  que parte da política econômica da presidência. É algo que a gente tem que cumprir mas seria muito importante que, em algum momento, a gente conseguisse descontingenciar uma parte desses recursos para que a Suframa voltasse a ter o papel de interiorizadora de desenvolvimento. Mas isso é algo que cabe e é determinado diretamente pela Presidência da República.

Muito se fala do intervencionismo do Estado na indústria. No caso da Suframa, ela é da competência do MDIC. Até que ponto o Estado interfere na Suframa e até que ponto a autarquia possui autonomia?
Eu estou há muitos anos aqui dentro e pouca coisa mudou nesses 20, 30 anos. Talvez o que deu essa impressão de perda de autonomia foi essa questão do contingenciamento porque a Suframa nem sempre foi Ministério do Desenvolvimento. Ela já foi parte do Ministério do Interior e de outros órgãos, mas tem algumas questões, como a autorização dos Processos Produtivos Básicos (PPBs), que sempre foram estabelecidas por portarias do MDIC e pelo Ministério de Ciência e Tecnologia. Pode ter mudado de ministério, mas o processo sempre foi o mesmo. Os empresários reclamam de alguns processos produtivos básicos, mas tem processos que são favoráveis e tem processos que são contrários. Sempre foi assim. Então, essa questão de autonomia é relativa.

Perfil - Gustavo Igrejas

Idade: 45

Naturalidade: Rio de Janeiro

Graduação:Âbacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam)

Pós-graduação: Administração de Empresas (CEAE) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV)

Cargo atual: Superintendente interino da Zona Franca de Manaus (Suframa)


Fonte: Portal Acrítica.com.br

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