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Seguro-desemprego ganha fôlego em julho

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29/09/2022

Reportagem: Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori

A demanda por seguro-desemprego no Amazonas sofreu repique em julho após chegar ao menor nível do ano, no mês anterior. O número de requerentes subiu 1,39% na comparação com junho, ao passar de 5.248 para 5.321. A procura também foi 1,72% superior à registrada no mesmo período de 2021 (5.231). As altas vieram no mesmo mês em que a geração de empregos com carteira assinada desacelerou no Estado, puxada pela redução no ritmo de contratações do setor de serviços e pelos cortes nos canteiros de obras, conforme o Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

O Estado foi na direção contrária da média nacional, que sofreu retração de 1,87% entre junho (539.838) e julho (529.757), mas ainda foi 9,07% superior à marca do mesmo mês do ano passado (485.677). Os papéis se invertem no acumulado. O Amazonas já acumula 43.007 solicitações em sete meses, patamar ainda 8,47% superior ao de julho de 2021 (39.649). Em todo o país, foram registrados 3.988.881 pedidos de seguro desemprego, o que representou uma elevação de 10,38%, na mesma comparação. Os números foram extraídos da base de dados do Ministério do Trabalho e Previdência.

O aumento da procura ocorreu em praticamente todos os setores econômicos do Amazonas. O maior acréscimo mensal se deu na construção, que totalizou 517 solicitações, 16,44% a mais do que em junho (444). Minoritária, a agropecuária teve incremento de 12,76%, com 53 registros. Responsável por 39,26% da demanda, o setor de serviços somou 2.089 requisições, configurando elevação de 5,82% em relação a junho. Foi seguido pela indústria, que praticamente empatou (+0,57%), embora tenha mantido o viés de alta. Mesmo sem nenhuma data comemorativa no mês, o comércio (-8,21% e 1.431) foi a única atividade a sofrer queda.

O confronto com o dado de um ano atrás mostra um cenário comparativamente melhor. Dois setores econômicos tiveram número menor de trabalhadores procurando seguro-desemprego nesse tipo de comparação: agropecuária (-11,61%) e serviços (-3,06% e 2.155), que haviam apresentado 60 e 2.155 solicitações há 12 meses, respectivamente. Em contraste, construção (+24,58% e 415), indústria (+5,85% e 1.163) e comércio (+0,49% e 1.438) foram na direção contrária.

A procura foi mais forte na primeira quinzena (2.663) do que na segunda (2.358), o que pode sinalizar arrefecimento no próximo mês. A soma do total dos pagamentos do benefício no Amazonas superou os R$ 22,54 milhões, sendo que o valor médio das parcelas foi de R$ 1.495,08 –em um total de 15.078 cotas. Mas, conseguir o benefício ficou mais difícil, já que a taxa de habilitação caiu para 84%. A demanda foi predominante entre trabalhadores do sexo masculino (64,12% e 3.412), com 30 a 39 anos de idade (34,54% e 1.838), com ensino médio completo (75,29% e 4.006), e que ganhavam entre um salário mínimo e um salário mínimo e meio (44,58% e 2.372).

“Meses mais aquecidos”

O conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), professor universitário e consultor empresarial, Francisco de Assis Mourão Júnior, explica que o perfil majoritário dos trabalhadores que buscam o benefício está ligado às competências exigidas pelas atividades. “Na construção são principalmente de nível médio e alguns técnicos. Na indústria, pede-se, em alguns casos, o nível superior. O comércio também vem procurando essa qualificação. Em comum há o fato que são trabalhadores que procuram evitar cair na lista de desempregados”, pontuou.

Na análise do economista, boa parte do acréscimo da demanda pelo seguro-desemprego veio da construção civil, em função do impacto negativo da escalada dos juros sobre o mercado. “Apesar de já estarmos registrando deflação, o Copom manteve os juros no atual patamar, e isso vem causando esse baque no setor. A indústria também contribuiu, mas a aproximação das festas de fim de ano tende a mudar esse cenário. Já o comércio foi favorecido pela sobra na renda gerada pela deflação e já se prepara para os meses mais aquecidos, com a crucial liberação das parcelas do 13º salário”, pontuou.

“Depois das eleições”

O consultor empresarial e professor universitário, Leonardo Marcelo Braule Pinto, avalia que o panorama econômico que se descortina após o período mais duro da pandemia ainda apresenta instabilidade. “Isso é reflexo de um cenário sem muita estrutura ou apoio governamental para abertura de novos negócios e geração de empregos e renda. É muito comum vermos o número de fechamento de empresas ficar próximo ao de aberturas, assim como assistirmos as pessoas caminhando para a informalidade e buscando mais o seguro-desemprego”, frisou.

Por esse motivo, o economista entende que a tendência é que a demanda siga oscilando nos próximos meses, a despeito dos saldos positivos do Novo Caged. “Talvez até haja alguma queda, mas isso só deve acontecer depois das eleições e no próximo ano. Dependendo de como vão ficar os governos, muita coisa pode mudar, pois o agente governamental tem o poder. Entretanto, com o governo ausente, o mercado vem se regulando e ainda devemos ter muitas perdas, antes de chegarmos a uma calmaria para podermos pensar em voltar a crescer”, ponderou.

“Processo natural”

Na mesma linha, a consultora empresarial, professora e integrante da seção regional da Abed (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia) no Amazonas, Denise Kassama, concorda que o processo político contribui para um “cenário nebuloso”. Diz também que os números que situam o Amazonas do “processo natural” da média brasileira não surpreendem. “Nossa renda é mais baixa e nosso emprego mais alto do que o do restante do país. Todo mundo está crescendo e nós, não. Estamos longe e nossa logística é difícil. É natural que tenhamos alguma retração nos empregos, pois estamos em período meio intermediário. Só causaria surpresa mesmo, se estivéssemos abaixo do ano passado”, avaliou.

A economista aponta que a sazonalidade favorece aquecimento no curto prazo, mas ressalva que a alta deve ficar abaixo da média. “Provavelmente, a gente vai enxergar aumento de emprego nos próximos meses, muito em função do processo natural do PIM, que vai começar a preparar a produção para as vendas natalinas. A gente sabe que, quando o Polo vai bem, o resto também vai. Evidentemente, apesar da melhora, acho difícil os números serem compatíveis com outros anos de Copa. As pessoas costumavam trocar de TV, mas não estamos vendo isso acontecer”, arrematou.

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