19/05/2022
Marco Dassori
Pelo segundo mês seguido, as MPEs (micros e pequenas empresas) voltaram a sustentar a geração de empregos com carteira assinada no Amazonas, em março. No total, foram abertas 2.110 novas vagas nos pequenos negócios do Amazonas, em paralelo com o refluxo das estatísticas de Covid-19. O setor de serviços respondeu pela maior parte da oferta, seguido de longe por indústria, comércio e construção. Em contraste, as MGEs (médias e grandes empresas) demitiram mais do que contrataram, eliminando 463 vagas, e contribuindo para que o saldo global de vagas formais do Estado não passasse de 1.655.
Em sintonia com os impactos da guerra na Ucrânia na escalada da inflação e dos juros, e com a crise do IPI, o saldo de empregos dos pequenos negócios do Amazonas veio mais fraco do que os números de fevereiro de 2022 (+2.752) e de março de 2021 (+2.538) -quando o Estado ainda emergia da segunda onda de Covid-19. No caso das companhias de maior porte, o desempenho veio no sentido inverso ao do mês anterior (+404), mas foi melhor do que o de igual intervalo do ano passado (-735). Os dados são do boletim mensal do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa) a partir do 'Novo Caged' (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Ainda assim, o Estado teve o terceiro melhor resultado proporcional do país, com 13,73 vagas a cada mil geradas. Só perdeu para Tocantins (16,24 p/mil) e Roraima (16,07 p/mil). No acumulado do ano (38,84 p/ mil), ficou na quinta colocação. A performance do Amazonas também ficou bem acima da média nacional (6,33 p/mil e 22,46 p/mil, respectivamente). As MPEs foram responsáveis pela oferta de 121.098 empregos em todo o país, em março, o equivalente a 88,91% do total registrado pelo mercado brasileiro no período (136.189). Mas, essa participação cai para 69,91% (430.073) no trimestre.
Serviços na frente
Passado o surto da ômicron, a queda nas estatísticas locais da Covid-19 abriu terreno para flexibilização do uso de máscaras e realização de eventos, o que favoreceu os serviços. O Estado seguiu a tendência nacional. Além de responder pela maior parte dos empregos celetistas abertos no mês, o setor também foi o que experimentou menor perda de vigor, quando se comparam os números de postos de trabalho criados em fevereiro (+1.124) e março (+1.015).
As micros e pequenas empresas da indústria (+386), comércio (+378) e construção (+310) vieram na sequência, na variação mensal, e com índices de alta ainda mais fracos do que os capturados em fevereiro. Serviços de Utilidade Pública (+18) tiveram desempenho irrisório, enquanto a agropecuária eliminou um posto de trabalho formal. Nas companhias de maior porte, com exceção dos serviços (+387), os resultados foram todos negativos (-563, -6, -194, -7, -87), sendo carreados pela manufatura. A administração pública extinguiu 13 vagas.
O comparativo do acumulado do ano mostra um abismo para as MPEs, com 3.736 empregos formais abertos em 2022, contra 1.344 ocupações eliminadas no mesmo período de 2021. As MGEs foram na direção contrária, ao passar de 1.769 (2021) para 139 (2022), na mesma comparação. De janeiro a março, a os serviços (+2.935) continuaram sendo o motor das contratações dos pequenos negócios no Estado, sendo seguidos pela construção (+1.089). As companhias de maior também foram carreadas pelos serviços (+1.727), mas amargaram os maiores cortes no comércio (-777) e na indústria (-767).
Crise e empreendedorismo
A gerente da unidade de Gestão e Estratégia do Sebrae-AM, Socorro Correa, lembra à reportagem do Jornal do Commercio que a comparação dos trimestres mostra um quadro discrepante em favor dos pequenos negócios, em razão da pandemia. Pelo mesmo motivo, e pelo bônus da vacinação e reabertura de atividades presenciais, a melhor performance ainda vem dos serviços. "Ano passado, nessa época, os pequenos negócios foram os que mais desempregaram, em decorrência do fechamento dos estabelecimentos. Já as médias e as grandes contrataram naquela época, pois a diminuição no consumo ainda não havia chegado à indústria", comparou.
A executiva destaca, no entanto, que a extinção de empregos com carteira em larga escala nas MGEs é um sinal preocupante para a economia amazonense. No entendimento da gerente da unidade de Gestão e Estratégia do Sebrae--AM, o movimento seguiu em sintonia com a crise aberta na Zona Franca de Manaus pelos decretos federais de incentivo generalizado de IPI, e pela piora na cadeia global de abastecimento para a indústria, assim como a degradação do cenário macroeconômico.
"O Amazonas, que possui um parque industrial importante, registrou desemprego no segmento de médias e grandes empresas industriais, em março. Falta de insumos para o Polo Industrial de Manaus e redução das vantagens tributárias competitivas para negócios do PIM, são causas relevantes para este cenário. Quando analisamos o primeiro trimestre, o desemprego ocorreu na indústria e comércio, principalmente. Mas também na construção civil e no agronegócio, que são fortemente afetados nessa época pelo inverno chuvoso na região", frisou.
Socorro Correa ressalta que os pequenos negócios têm conseguido manter os empregos e criar novos postos. Mas, observa que existe uma relação direta entre desemprego nas grandes empresas e criação de novos pelos pequenos negócios. "O empreendedorismo passa ser o caminho para quem está sem emprego formal, gerando inclusive oportunidade de emprego para outros. Essa perda de competitividade já vem acontecendo há tempos. Mas, ainda aposto no crescimento de negócios de serviços e construção, para os próximos meses. Isso porque o primeiro é o setor com maior empregabilidade, enquanto o segundo tende a contratar mais quando começa o verão", finalizou.
Pelo segundo mês seguido, MPEs mantêm a geração de empregos com carteira assinada no Amazonas.
Fonte: Jornal do Commercio